•NARRADORA•
...Depois dos momentos tensos, Agatha se trancou em sua sala e pensou no encontro que trouxe à tona seu passado — um passado em que ela foi feliz, amou alguém e foi amada.
O passado deixa lembranças, o futuro nos surpreende, e o presente prega peças. Agatha jamais imaginou que, após esses três anos de batalha na PEVOR, estava trabalhando para sua ex-mulher. Rio sempre teve pensamentos à frente de sua época, enquanto Agatha sempre foi mais pé no chão.
Em um momento de descuido, Agatha se pegou pensando: "Será que Rio está feliz? Aparentemente, ela está casada..." Quatro anos atrás, ela poderia ter afirmado que não, já que Agatha demorou quase um ano para assinar os papéis do divórcio que seus pais enviaram. O fato de os pais de Rio terem levado a filha embora, sem qualquer esforço para deixá-la recuperar as memórias com Agatha, ainda machuca profundamente. Agatha sempre quis ter tido a oportunidade de ajudar a esposa a se lembrar dela, dos filhos, da vida que viviam antes do acidente. No entanto, os senhores Vidal roubaram esse direito.
Na época, o filho mais velho do casal, Vicente, já entendia um pouco do que havia acontecido, mas Agatha preferiu dizer que ela e Rio haviam se separado e que a mãe foi morar em outro país. Nycole, com apenas dois anos na época do acidente, não se lembrava de nada. Ainda assim, Agatha sempre dizia à filha que ela tinha um irmãozinho muito parecido com ela, mas que havia virado uma estrelinha.
Agatha se distanciou do mundo e de todos, evitando amigos e colegas. Ela entrou em depressão, tomava remédios para dormir, mas às vezes nem funcionavam. Passou um ano inteiro sofrendo; todas as noites chorava e se perguntava por onde sua Rio poderia estar. Foi a pior fase de sua vida.
Agora, sozinha em sua sala, ela decide tirar essa história a limpo. Pegou o celular e discou o número da mãe de Rio nos contatos.
O telefone tocou várias vezes até que, após o terceiro toque, a chamada foi atendida.
— Harkness? — perguntou a voz do outro lado da linha.
— Olá, Isabel!
— Resolveu me ligar?
— Você não tinha esse direito!
A mulher do outro lado suspirou e disse:
— Bebeu de novo, Agatha? Sempre que bebe, me liga acusando de levar sua esposa, bla bla bla. Se me permite, vou desligar.
— Ela é minha chefe! Como não podia me avisar? Como deixou de me dizer que ela estava na cidade? — As lágrimas voltaram.
— Agatha, eu não sabia que ela seria sua chefe... sinto muito. Mas eu não te devo satisfações da vida de Rio. Ela é adulta e sabe o que está fazendo.
— Será que você não entende? Rio é mãe dos meus filhos! Como vou explicar isso para Vicente quando ele a encontrar? A cidade pode ser grande, mas não é impossível que ele a veja por aí... ou nas notícias...
— Agatha, ela não se lembra de você. E nunca vai lembrar. — Agatha lutava para não desabar.
— Você não me deu essa oportunidade! Ela era minha esposa, o amor da minha vida. Eu poderia ajudá-la! — Um soluço escapou. — Eu não vou deixar você me afastar dela novamente.
— Não faça nada que vá se arrep...
Agatha desligou antes que Isabel terminasse de falar.
Ela começou a andar de um lado para o outro, tentando decidir se iria ou não à sala de sua ex-esposa. Por impulso, saiu correndo de sua sala e caminhou rapidamente até a de Rio.
Parou na porta, respirou fundo e bateu.
— Entre — ouviu a voz familiar.
Agatha abriu a porta. Seu coração errou uma batida ao encontrar uma das cenas mais devastadoras que já tinha visto:
Rio estava sentada em sua cadeira atrás da mesa, segurando um bebê nos braços. Uma mulher loira estava ao seu lado, com a mão apoiada no ombro de Rio.
Os olhos de Agatha se arregalaram, cheios de lágrimas. Todos os momentos que tinham vivido juntas vieram à tona. As perguntas que sempre a atormentaram agora tinham uma resposta clara: Rio é casada. Talvez fosse esse o motivo do pedido de divórcio. E o pior... Rio agora era mãe. Mãe de uma filha que não era de Agatha, que ela não acompanhou nas consultas de inseminação, nem apoiou durante os meses de gravidez.
Com pesar, Agatha chorou. Chorou na frente de sua ex-esposa e da mulher que agora parecia ocupar o lugar que um dia foi seu.
Ambas ficaram encarando Agatha, surpresas. A loira tinha um semblante confuso, mas o rosto de Rio estava tenso, quase receoso.
— M-me desculpe... eu não queria... chorar. — Agatha tentou virar para sair, mas foi interrompida pela voz de Rio.
— Não precisa ir. Elas já estão de saída... Vamos conversar, Harkness.
Agatha enxugou as lágrimas e se virou novamente, encarando as duas. Rio se levantou, entregou o bebê para a loira, beijou a cabeça da criança e... os lábios da outra mulher.
Agatha forçou-se a assistir. A dor só aumentava. Ver o amor da sua vida beijando outra pessoa era horrível. Olhou para o chão, sentindo as lágrimas molharem seu rosto mais uma vez.
— Tchau, amor. — A loira passou por Agatha ao sair.
Agatha nunca imaginou que ouviria Rio chamando outra pessoa de "amor". Seu ciúme e sua dor era evidente na sala de Rio.
— Sente-se.
Agatha obedeceu, sentando-se na cadeira em frente à de Rio.
— Preciso te contar uma coisa, mas prometa que vai tentar me entender primeiro.
O coração de Agatha gelou. Ficou nervosa. O que Rio diria?
— P-prometo — respondeu, limpando o rosto para garantir que não havia mais lágrimas.
— Quando acordei naquele hospital, tudo parecia... estranho. Como se eu não fosse eu mesma. O desespero havia me consumido, eu não sabia como agir, e o que fazer.— Rio fez uma pausa. Agatha estava completamente confusa. — O médico disse que eu perdi a memória, certo?
— Sim, mas eu ten... — Agatha tentou falar, mas foi interrompida.
— Mas eu não perdi a memória, Agatha.
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Sorte ou Azar?
FanfictionViver um amor que não condiz com a realidade, é prazeroso? Nessa história, Agatha harkness , uma mulher bem sucedida, dona de casa, mãe de 2 crianças, funcionária de uma das maiores empresas de todo o país. Rio Vidal uma mulher exemplar, dona de u...