(narrado por Levy)
Falar sobre a minha própria história é sempre um dos exercícios mais difíceis. Eu sinto que nunca tenho nada de interessante para acrescentar, e que tudo que eu contar sobre meu passado vai inspirar pena ou medo nas pessoas ao meu redor. E não quero isso - quero poder estabelecer algo mais afetuoso com todo mundo a partir de agora.
Já sofri demais pelo pouco tempo que vivi. Tem gente que encontra um certo glamour no sofrimento e nas histórias tristes de infância. Mas as tristezas que vivi só me levaram pra caminhos ainda piores. Não tem nada de muito glamuroso em sua mãe te abandonar porque não aguentava mais o seu pai bêbado e você ter que ser sustentado pela sua avó, já que seu pai bêbado não conseguia mais trabalhar. Passar esse tipo de história pra frente não me apetece.
Acho que a única coisa do passado que gosto de compartilhar com todo mundo é sobre o período que fiz o curso de música aqui perto de casa. Foi a última coisa que minha mãe me matriculou antes de ir embora, e quem continuou me levando foi a minha avó. O pai do Paul matriculou ele no mesmo curso. Ele ficou na aula de canto e de violão, eu fiquei na aula de piano, e nós dois tínhamos que frequentar obrigatoriamente o coral do projeto, que era onde a proposta de prática de conjunto do projeto acontecia.
Os dias mais divertidos da semana eram os dias que eu e Paul saímos da escola e íamos andando pro curso depois de almoçar em casa. A gente sempre parava na mesma banca e tomava o mesmo suco ou geladinho. Ele sempre pegava o geladinho azul, mas eu gostava de variar mais o sabor. Na volta pra casa, sempre comprávamos pacotes de figurinha e o que mais desse pra levar com as poucas moedinhas que a gente juntava a semana toda nas partidas de bafo, gude e o que mais estivesse rolando na escola.
Eu sinto que me desenvolvi bem no piano, mas todo esse talento não teve muito suporte de um pai entorpecido o tempo todo como o meu. Então não tenho piano nem teclado na minha casa para praticar. Acabei encaixotando e guardando toda a minha prática musical para momentos muito íntimos - como quando acompanho o Paul sozinho na sala de música para tocar algum repertório que aprendemos juntos no curso.
Paul também não consegue cantar na casa dele, mesmo tendo um pai com cacife para cantar ópera em casa. Sempre achava muito incrível - o pai dele era um cantor 100% autodidata e a mãe dele pintava. Ela nunca saiu dos retratos, natureza morta e paisagens de natureza, mas como eram bonitos os quadros dela. Uma coisa que realmente demonstrava uma delicadeza muito profunda. Conseguia imaginar como ela era só de observar aquelas pinturas.
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World Wide Suicide (W.W.S.)
Genç KurguTRÊS AMIGOS SONHANDO SOBRE DIAS INCRÍVEIS. Essa é uma história de ficção sobre três amigos de Ensino Médio, adaptada para o universo de The Sims 4. Paul e Daniel, amigos de infância, conhecem Ryuko Nakamura, filha de imigrantes que foi transferi...