Eu costumava pensar que as coisas seriam simples. Eu e Rayssa, apenas uma fotógrafa e uma skatista, com uma conexão profissional e uma amizade crescente. Mas, conforme os dias passaram, essa linha ficou cada vez mais embaçada. Era como se o que estava acontecendo entre nós fosse um desafio — não só de entender o que estávamos construindo, mas de controlar os sentimentos que surgiam sem que eu pudesse impedir.
A cada encontro, a cada risada que trocávamos, a cada olhar, algo mais parecia se formar, mais forte e mais claro. E eu? Eu só conseguia me perguntar: Será que ela sente o mesmo?
O skate era a prioridade de Rayssa, e eu sabia disso. Ela tinha um futuro brilhante à frente, com grandes competições pela frente, e eu... bem, eu era só a fotógrafa. Uma amiga, talvez, mas não passava disso. Ou pelo menos era isso que eu tentava convencer a mim mesma.
Naquele dia, Rayssa me chamou para ver um treino. Ela queria se preparar para uma competição importante que aconteceria na próxima semana, e eu, claro, aceitei. Não porque eu estava preocupada com o desempenho dela — eu sabia que ela era mais que capaz — mas porque, sinceramente, adorava estar ao seu lado. E eu não queria que ela percebesse o quão mais eu estava começando a me importar.
"Ei, Lívia, você pode me ajudar com algo?" Rayssa me perguntou quando me aproximou após seu treino.
"Claro," respondi, tentando não parecer nervosa. Eu sempre ficava nervosa perto dela, embora tentasse esconder.
"Estou tentando aperfeiçoar essa manobra. Você pode filmar para mim, assim eu vejo onde posso melhorar?" ela pediu com um sorriso, que, embora descontraído, tinha algo mais profundo, algo que me fazia questionar se ela já sabia o que estava acontecendo entre nós.
"Com certeza!" Eu disse, tentando me manter o mais calma possível. Mas a verdade era que meu coração estava acelerado. Eu não sabia o que ela queria de mim, mas a maneira como me olhava me deixava completamente fora de controle.
Comecei a filmar, mas meus olhos não estavam apenas na câmera. Eu a observava. Cada movimento, cada giro, cada salto que ela dava parecia mais impressionante do que o anterior. E quando ela olhou para mim, logo após aterrissar com perfeição, algo em seu olhar me fez sentir como se ela tivesse me visto de uma maneira diferente. Como se me estivesse pedindo mais do que apenas uma filmagem. Como se estivesse pedindo algo mais profundo, algo mais... pessoal.
"Você está bem?" ela perguntou, como se me conhecesse melhor do que eu mesma.
"Sim, claro," respondi rapidamente, tentando desviar a atenção. Mas, como sempre, ela não se contentou com respostas superficiais.
"Você não parece bem. O que está acontecendo, Lívia?" ela perguntou, sua voz mais suave agora, mais preocupada.
Eu não sabia o que responder. Como poderia? Eu estava em um turbilhão emocional, sem saber o que fazer com o que sentia. E a última coisa que eu queria era ser vulnerável perto dela. Será que ela realmente veria o que estava acontecendo dentro de mim? Ou ela só me veria como mais uma amiga?
"Eu só... estou cansada, acho," falei, tentando desviar o foco. "Muito trabalho, sabe como é."
Ela me observou por um momento, e, por um instante, eu pude ver um leve desconforto em seus olhos. "Sabe, você pode falar comigo, né? Eu não sou só a skatista. Também sou sua amiga."
Eu me senti um pouco envergonhada, mas ao mesmo tempo, havia algo reconfortante naquela frase. Como se ela estivesse me convidando para um espaço mais seguro, onde eu pudesse me abrir. Mas eu hesitei. Não queria colocar em risco o que já estávamos começando a construir. E, mais importante, eu não queria que ela visse que minha preocupação não era apenas com o trabalho ou o estresse, mas com algo muito maior que eu ainda não sabia como lidar.
"Obrigada, Rayssa," disse, um pouco mais tranquila. "Eu vou dar um tempo e logo fico melhor."
Ela sorriu, mas seu olhar estava mais intenso do que o habitual. "Fica bem, tá? E lembra, qualquer coisa, eu tô aqui, ok?"
Eu queria responder, queria dizer que talvez eu precisasse mais dela do que eu estava disposta a admitir, mas me calei. Não sabia como colocar tudo aquilo em palavras.
Enquanto a observava sair para mais uma volta de skate, uma parte de mim queria correr até ela, dizer o que estava sentindo, ser honesta sobre o que estava acontecendo no meu coração. Mas, ao mesmo tempo, havia uma grande insegurança dentro de mim, como se eu estivesse prestes a arriscar tudo. Não sabia se ela me veria da mesma forma. E a ideia de perder nossa amizade, de perder o que tínhamos, me assustava.
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Entre manobras e sentimentos-Rayssa Leal
Teen FictionRayssa Leal está no auge de sua carreira no skate, viajando pelo mundo e conquistando prêmios. No entanto, sua vida pessoal começa a ganhar um novo brilho quando ela conhece Lívia, uma fotógrafa apaixonada por capturar a essência das pessoas em movi...