Os dias seguintes passaram como um borrão. Eu e Rayssa continuamos com nossa rotina, ela no skate e eu com a câmera. No entanto, havia algo diferente no ar. As conversas eram mais longas, os silêncios mais carregados, e os olhares... bem, os olhares falavam mais do que qualquer palavra dita.
Naquela tarde, estávamos em um parque afastado, longe do barulho e das pessoas. Rayssa queria praticar em um lugar tranquilo, e eu, como sempre, estava lá para registrar. Mas, honestamente, minha mente estava longe. Cada vez que olhava para ela, sentia uma onda de emoções que eu não conseguia explicar.
"Lívia, tá tudo bem?" Rayssa perguntou, pela terceira vez naquele dia, me tirando dos meus devaneios.
Eu forcei um sorriso. "Claro! Por que não estaria?"
Ela arqueou uma sobrancelha, claramente não convencida. "Você tá diferente, mais quieta do que o normal."
Suspirei. Não sabia como esconder o que sentia por mais tempo, mas a ideia de confessar era assustadora. O que aconteceria depois? E se ela não sentisse o mesmo?
"Só estou cansada, Rayssa. Nada demais." Era a mesma desculpa de sempre, mas ela não parecia aceitar.
"Lívia," Rayssa disse, parando de ajeitar o skate e se aproximando de mim. "Se tiver algo te incomodando, você pode me contar. De verdade."
O tom dela era suave, mas cheio de preocupação. Ela se sentou ao meu lado no banco de madeira, e por um momento, o mundo ao nosso redor desapareceu. Era só nós duas, o som distante do vento passando pelas árvores e o bater do meu coração, que parecia mais alto do que deveria.
"Eu só..." comecei, mas as palavras se embolavam na minha garganta. "Rayssa, você nunca sente que... está dividida entre o que quer e o que precisa fazer?"
Ela me olhou, claramente tentando entender onde eu queria chegar. "Tipo, entre o skate e outras coisas?"
Assenti, mas havia mais. Muito mais.
"Às vezes, eu sinto que estou me segurando em algo que não sei se devo soltar," murmurei, olhando para o chão. "E é assustador, porque, se eu errar, talvez não tenha volta."
Ela ficou em silêncio por um momento, e quando olhei para ela, Rayssa estava com um olhar pensativo, como se tentasse encontrar as palavras certas.
"Eu acho que todos temos medos assim," ela disse, por fim. "Mas, às vezes, a gente só precisa dar o primeiro passo, mesmo que pareça arriscado."
Eu sabia que ela estava certa, mas esse primeiro passo parecia um salto gigantesco. E eu não sabia se estava pronta.
Antes que eu pudesse responder, Rayssa colocou a mão sobre a minha, um gesto simples, mas que fez meu coração acelerar. "Lívia, eu não sei o que está te segurando, mas quero que saiba que eu tô aqui, seja o que for. Sempre."
Eu engoli em seco, sentindo um misto de conforto e nervosismo. Rayssa não tinha ideia do quanto suas palavras significavam para mim.
"Obrigada," sussurrei, minha voz quase falhando. "Isso... isso significa muito."
Ela sorriu, e por um instante, parecia que o peso do mundo havia diminuído um pouco. Rayssa era assim, sempre trazendo luz, mesmo nos momentos mais sombrios.
O treino continuou, mas aquele momento ficou gravado na minha mente. Eu sabia que, eventualmente, teria que enfrentar meus sentimentos. Não podia continuar fingindo que tudo estava normal. Rayssa merecia a verdade, e, se eu quisesse manter essa conexão especial entre nós, teria que arriscar.
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Entre manobras e sentimentos-Rayssa Leal
Teen FictionRayssa Leal está no auge de sua carreira no skate, viajando pelo mundo e conquistando prêmios. No entanto, sua vida pessoal começa a ganhar um novo brilho quando ela conhece Lívia, uma fotógrafa apaixonada por capturar a essência das pessoas em movi...