Entre manobras e sentimentos-Rayssa Leal

Sob a luz de São Paulo

Chegamos a São Paulo em uma manhã cinzenta, mas nem o céu nublado conseguia diminuir o entusiasmo de Rayssa. Ela estava animada, falando sem parar sobre a competição, os skatistas que iria enfrentar e os novos truques que planejava mostrar. Eu, por outro lado, estava tentando lidar com o turbilhão de emoções que crescia a cada momento que passávamos juntas.

Depois de nos acomodarmos no hotel, Rayssa insistiu em dar uma volta pela cidade antes do primeiro treino oficial. Acabamos em uma praça movimentada, cercada por prédios altos e o som constante do tráfego. Ela encontrou uma área de skate improvisada, onde vários jovens praticavam suas manobras.

"Perfeito," Rayssa disse, já pegando o skate. "Você se importa de filmar aqui? Quero testar algumas coisas."

"Claro," respondi, ajustando a câmera. Estar atrás das lentes sempre me dava uma sensação de segurança, como se fosse uma barreira entre mim e o que eu realmente sentia. Mas hoje, essa barreira parecia cada vez mais frágil.

Rayssa começou com manobras simples, aumentando a dificuldade a cada tentativa. Ela era um espetáculo, uma mistura de força e graça que deixava todos ao redor fascinados. E eu... bem, eu estava completamente hipnotizada.

Depois de alguns minutos, ela parou para descansar, vindo até mim com um sorriso no rosto. "E aí, como estou indo?"

"Impressionante, como sempre," eu disse, tentando soar casual, mas minha voz saiu mais suave do que o esperado.

Ela riu, pegando a garrafa de água que eu segurava. "Você é a melhor cinegrafista que alguém poderia pedir."

Fiquei em silêncio por um momento, apenas observando-a. O cabelo bagunçado, o brilho de suor na pele, o jeito descontraído como ela falava... tudo nela parecia perfeito, e isso só tornava mais difícil esconder o que eu sentia.

"Lívia, tá tudo bem?" ela perguntou, o tom dela ficando mais sério. "Você está meio distante."

"Eu só... estou pensando em como você consegue ser tão dedicada," disse, desviando o olhar para a câmera. "Parece que você nunca se deixa abalar."

Rayssa inclinou a cabeça, me estudando. "Não é bem assim. Eu fico nervosa, insegura... mas quando tenho alguém que acredita em mim, tudo parece mais fácil."

O jeito como ela disse isso, com os olhos fixos nos meus, me fez perder o fôlego por um instante. Antes que eu pudesse responder, Rayssa deu um passo à frente, sua expressão agora completamente focada.

"Lívia, posso te perguntar uma coisa?" ela disse, a voz mais baixa.

"Claro," respondi, sentindo meu coração acelerar.

"Por que você sempre parece tão preocupada quando está comigo? Como se estivesse segurando algo."

Eu engoli em seco, sentindo o peso das palavras dela. Rayssa sempre foi direta, e agora não seria diferente. "Eu... não sei como explicar," murmurei, olhando para o chão. "É só que, estar perto de você... significa muito para mim."

Rayssa deu um passo mais perto, e quando olhei para cima, seus olhos estavam cheios de uma suavidade que me fez sentir segura. "Significa muito pra mim também," ela disse, e antes que eu pudesse processar, ela segurou minha mão, um toque simples, mas cheio de intenções.

Meu coração disparou, mas dessa vez, não recuei. Talvez fosse o momento, a cidade, ou simplesmente Rayssa. Mas finalmente senti que estava pronta para dar aquele salto.