Desafio e descobertas

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Os dias passaram com a mesma intensidade que o som das rodas do skate cortando o ar. Minha vida, antes calma, agora estava cheia de uma energia que eu não sabia de onde vinha. Rayssa tinha algo em sua presença, algo que me fazia querer estar perto dela o tempo todo. Algo que não conseguia explicar.

Eu sabia que era profissional, que o trabalho de fotógrafa estava acima de qualquer outra coisa, mas quando estava perto de Rayssa, era difícil não pensar nela de uma forma diferente. Eu via ela com os olhos de quem admira, mas havia algo mais ali — algo que estava começando a se formar dentro de mim, como se estivesse acontecendo sem que eu pudesse controlar.

A sessão de fotos que havíamos combinado aconteceu algumas tardes depois, em um local tranquilo e ao ar livre, onde Rayssa poderia relaxar, longe das pressões das competições. A luz suave do entardecer era perfeita, e ela parecia tão à vontade que me fez esquecer por um momento que eu estava trabalhando.

"Você está bem?" perguntei, tentando parecer natural, mas sabia que havia algo em minha voz que entregava minha ansiedade.

"Sim, só um pouco cansada. Mas estou ótima." Ela respondeu, sorrindo, mas seus olhos pareciam refletir algo mais. Talvez eu estivesse sendo muito perceptiva, ou talvez ela estivesse se permitindo ser mais vulnerável.

Enquanto a fotografava, capturando os pequenos detalhes de sua expressão, percebi que minha câmera não estava registrando apenas sua imagem, mas algo mais profundo. A cada foto, eu via mais do que apenas uma atleta talentosa, via alguém que, de alguma forma, estava se abrindo para mim. Mas será que eu também estava me abrindo para ela?

Em um momento, ela se aproximou de mim, ajustando a posição de seu skate. O vento bagunçou seus cabelos, e ela se virou para me olhar, como se esperasse que eu capturasse aquele instante.

"Está saindo bem?" perguntou, com um brilho travesso nos olhos.

"Sim," respondi, minha voz agora mais firme. "Você tem o olhar de quem sabe exatamente o que quer."

Ela riu, e o som foi como música para meus ouvidos. "Você é boa com palavras, Lívia."

E ali, naquele momento, nosso olhar se encontrou de novo, mais uma vez. Algo parecia se acender entre nós, algo sutil, mas real. Não consegui evitar a vontade de me aproximar um pouco mais. Não era só a admiração pela sua habilidade no skate, mas algo que ia além disso.

"Rayssa..." comecei, hesitante, "você... já pensou em parar por um tempo? Digo, focar em outras coisas além do skate?"

Ela parecia pensar na pergunta por um momento, seu olhar distante. "Eu não sei. O skate é a minha vida, mas às vezes, eu me pego pensando se há mais, sabe?"

E ali estava, a vulnerabilidade que eu buscava. Eu nunca imaginaria que ela, tão focada e determinada, tivesse dúvidas sobre o seu caminho. Mas talvez fosse essa insegurança o que a tornava ainda mais humana para mim. Eu podia vê-la além da atleta, via uma pessoa com suas próprias perguntas, seus próprios medos.

"Eu... entendo o que você quer dizer," respondi, mais para mim mesma do que para ela. "Às vezes, é difícil dar o primeiro passo para algo diferente."

Ela olhou para mim, os olhos brilhando, e houve algo naquelas palavras que me fez sentir que, talvez, Rayssa fosse alguém que também procurava mais. Algo além das manobras, além das competições. Algo que, de alguma forma, envolvia mais do que apenas o skate.

A sessão terminou, mas o peso de tudo o que não dissemos ainda estava no ar. Eu não sabia o que aconteceria, mas a cada encontro, ficava claro que havia algo começando a se formar entre nós. Algo que não podia ser ignorado.

Entre manobras e sentimentos-Rayssa Leal Onde histórias criam vida. Descubra agora