Capítulo 05

1.6K 230 488
                                    


— Eu tenho uma namorada.

Minjeong quebrou o silêncio no consultório.

Sua terapeuta tirou os olhos do caderno em seu colo e encarou a garota, surpresa estampada em seu rosto.

Vindo da ruiva, aquilo sim era uma novidade.

— Que bom, isso é ótimo, querida. Como está sendo?

— Horrível — Foi ríspida — Por minha causa.

A doutora Choi era uma mulher de sessenta anos, cabelos curtíssimos estilo Jamie Lee Curtis. Fazia acompanhamento com ela desde adolescente, e não iria negar que ajudava mesmo. A mulher já estava familiarizada com a forma de Minjeong pensar e agir.

— Por que?

A ruiva encolheu-se no estofado de couro do sofá, tirando seus olhos da mulher, encarando o relógio na parede branca. Era estranho falar sobre isso, mas estava se sentindo extremamente culpada desde que viu Karina chorar.

Já fazia dias e aquela imagem lhe assombrava de forma tenebrosa, as lágrimas dela escorrendo pelas bochechas, a decepção na fala, tudo era horrível e cada vez que se lembrava disso tinha vontade de se socar. Sabia que não seria a melhor namorada do mundo, mas aquilo também já era demais, fazer alguém chorar.

Fazer alguém que se importava consigo chorar.

Karina não merecia aquele relacionamento horrível, merecia namorar alguém que pudesse retribuir tudo na mesma intensidade, alguém normal.

Mas até ela cansar de si, teria que fazer seu dever de casa direito, tinha que entender o que passava na cabeça dela e principalmente, na sua. Contou para a terapeuta o que tinha acontecido naquela noite, cada detalhe a sua perspectiva.

— Entendo — A mulher levou a caneta até os lábios, pensando nas palavras — Você já sabe o que ela queria, certo?

Minjeong engole fundo e acena com a cabeça.

— Ficou assustada?

— Um pouco, na verdade, fiquei muito confusa... ela disse tudo de uma vez só.

— Lembra daquela história que eu te contei? Da bomba?

— Todos temos uma dentro de nós?

— Isso. Então, a da Karina explodiu.

— Por minha causa?

— Bom, pode ter sido por vários fatores. Briga familiar, problemas na faculdade e entre outros, daí ela usou você como válvula de escape 'pra tudo isso e só acabou se frustrando ainda mais, 'daí explodiu com você. Isso faz sentido?

— Eu não sei — Olhou para as mãos no colo, unhas arranhando a cutícula.

— Vocês conversam com qual frequência?

— Pouca.

— Então já pode começar a melhorar aí — Apontou com a caneta para a ruiva — Melhorem a comunicação, você precisa saber o que ela pensa, como age, porque aí você vai começar entender como ela se sente.

— Eu vou tentar — Esfregou a mão no rosto, cansada — Mas não sei por onde começar.

— Pergunte coisas simples, tipo, cor favorita.

— Ela já me disse isso.

— Boa, você já tem uma informação útil.

— Útil? — Franziu a sobrancelha — No que isso é útil?

Venetta - WinrinaOnde histórias criam vida. Descubra agora