A mira da Mossberg calibre 12 estava no alvo.
Minjeong sentia a grama acariciar seu estômago. Não movia um músculo sequer; parecia até que seu coração tinha parado de bater só para não mexer seu corpo.
Seu olho mirava no enorme animal que estava a metros de distância; o javali mal sabia que teria pouco menos que cinco minutos de vida. Minjeong se sentia mal. O animal estava no meio da floresta, em sua casa, e ela havia chegado ali para matar o morador a sangue frio, a troco de ter sua cabeça empalhada na sala de casa.
Sua mãe odiava que praticasse aquilo, mas seu pai não perdia a oportunidade de arrastar a filha de dez anos para a caça. Minjeong só queria alegrar seu pai. Talvez, fazer a vontade dele o deixasse orgulhoso. Caçar animais, competições de tiro ao alvo, arco e flecha eram alguns dos nomes dos hobbies que seu pai escolheu para si. E, por incrível que pareça, ele tinha uma coleção de medalhas que enfeitavam a sala de casa, juntamente com a coleção de animais mortos.
Seu pai era militar e queria que a filha também seguisse por esse caminho, mas parecia que as semelhanças acabavam junto com o puxão do gatilho. O barulho foi ouvido na floresta; alguns pássaros voaram para longe, e o vento soprava calmamente. Minjeong e seu pai, Donghyun, estavam deitados na grama, observando calmamente o animal cair morto.
— Bom trabalho, Jeongie. — O homem deu um tapinha nas suas costas e se levantou, indo em direção ao animal. — Eu já separei um lugar 'pra cabeça dele na sala.
Minjeong assentiu e se levantou, segurando a arma. Chegando em casa naquela noite, ao contar para sua mãe a novidade, a mulher forçou um sorriso para a filha. Depois que a pequena foi dormir, ouviu o barulho dos pais discutindo. Sempre o mesmo. Sua mãe não gostava que fosse caçar; na verdade, a mulher odiava armas.
Depois de um ano, ela morreu; o câncer foi mais forte.
Minjeong e seu pai viram seu teto desabar; a mulher era o pilar da família, a mãe da Kim, o amor da vida do Kim.
Morta, fria, debaixo da terra.
Donghyun se viu trabalhando dobrado para preencher a lacuna financeira que a ausência da sua mulher causou, tudo isso enquanto lidava com a depressão e com uma filha. Por causa do emprego, viviam se mudando de cidade em cidade; a garota quase não tinha amigos e, se fazia algum, a amizade sempre acabava de uma forma ou outra.
Cresceu solitária, o pai raramente em casa, nenhum amigo, os parentes morando longe e, pior de tudo: o luto pela mãe nunca passou.
Na verdade, o luto nunca passa. Você aprende a viver com ele.
Em uma tarde, quando estava sozinha em casa, com o pai no trabalho, Minjeong fez a única coisa que sabia fazer. Subiu até o quarto do pai e procurou na sua coleção de armas a Mossberg. Apanhou a arma e caçou, matou alguns animais, a maioria pássaros, atirando do quintal de casa. Reuniu todos os animais mortos e os colocou na mesa de jantar, um ao lado do outro. Sentou-se com a arma no colo e esperou o pai chegar do trabalho para mostrar. Acontece que o homem havia pego o turno da noite e só chegou em casa de madrugada. A visão da filha dormindo na cadeira, segurando uma arma e com a mesa cheia de caças, deu uma pontada de orgulho no coração do Kim, que sorriu para sua garotinha.
Foi então que, todo dia, depois do trabalho, o homem encontrava algum animal morto na mesa da cozinha.
No começo, era uma questão de se orgulhar da filha. Até Minjeong matar o cachorro da vizinha.
A garota chegou em casa com o animal morto, jogando-o de qualquer jeito por cima da mesa, com o seu calcanhar marcado pela mordida do próprio cachorro. Donghuyn ficou, obviamente, desesperado, levando a filha até um hospital próximo, mas o pior estava por fim. Voltando para casa com o braço enfaixado, Minjeong franziu a testa quando encontrou a família da vizinha na frente de sua porta. A mulher tinha olhos vermelhos de tanto chorar, enquanto seu marido tentava consolá-la, e seus dois filhos — menina e menino — estavam tão arrasados quanto a mãe.
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Venetta - Winrina
RomanceDe dia, Minjeong é uma aluna dedicada, uma filha que não dá trabalho e irmã uma protetora. Embora não seja socialmente habilidosa, segue a vida sem dificuldades. À noite, suas mãos se banham no sangue dos que cruzam seu caminho - com uma regra clara...