Anônimo

Luana Chesterfield

Luana Chesterfield escutou um bipe vindo de seu BlackBerry. Era uma nova mensagem de texto do "Amor". Era assim que ela havia salvo o contato de seu namorado. Luana abriu a mensagem.

Tô c/ sdd, linda. Espero te ver na escola hj. Bjos.

Luana abriu um sorriso bobo. Ela adorava a sensação de estar apaixonada, lhe fazia sentir-se como uma princesa. Cada vez que o Robert dizia que ela era a mais linda do Iowa City High, ela acreditava. Porém, o relacionamento dos dois não era uma maravilha. Robert tinha problemas com o pessoal da escola. Melhor dizendo, ele tinha problemas com todo o pessoal da cidade. Mas Luana sabia que ele não era um monstro apenas pelo que fez no verão. Ela era capaz de ver a melhor parte de Robert, apesar dos dois terem topado manter o namoro em segredo.

A garota respondeu com outra mensagem.

Tmb senti sua falta nesse fim de semana. Vamos nos ver hj sim, mesmo que seja escondido... Amo vc. Bjos!

Depois de mandar a mensagem, Luana tocou seu BlackBerry em sua cama. Ela pegou seu par de brincos prata preferido e se parou em frente ao espelho do seu quarto. Ao mesmo tempo em que colocava os brincos, a menina deu uma voltinha para conferir o visual. Ela estava usando um vestido rosa da Colcci que batia na metade de suas coxas. Depois de passar sete meses economizando 50% de sua mesada, ela teve o prazer de poder comprar um vestido tão caro. Mas não tinha se arrependido de comprar. O decote redondo havia caído muito bem no formato de seu corpo, e a cor do vestido combinava muito bem com sua sapatilha nude que estava usando naquele momento. Com os brincos já colocados, Luana percebeu o quanto ele ficava bonito com seus olhos azuis vibrantes. Ela deu uma última ajeitada em seu cabelo loiro liso até os ombros e sorriu para si mesma.

Estou maravilhosa!

Ela não mantinha a aparência em tão boa qualidade á toa. Como a garota mais popular do Iowa City High, Luana tinha quase a obrigação de usar roupas da moda. Aliás, a popularidade de Luana era um dos motivos de ela e Robert manterem o relacionamento no mais completo sigilo.

— Eu fiz coisas ruins, linda, e eu não quero que você prejudique sua popularidade apenas por ter um bom coração — falou Robert quando ele e Luana começaram a namorar.

— Mas isso é egoísmo da minha parte — contestou Luana. — Nós vamos encontrar um jeito!

— Um dia nós vamos — continuou Robert. — Mas enquanto isso, devemos manter esse namoro em segredo.

E a partir desse momento os dois vinham namorando sem nenhuma pessoa sequer saber.

Se fosse para Luana fazer isso com qualquer um de seus antigos namorados, ela nunca toparia. Mas com Robert era diferente. Ela gostava de estar com ele, mesmo que fosse escondido. Ele havia sido o primeiro a perceber que Luana não era só uma patricinha sem sentimentos, mas sim uma garota humilde que de vez em quando perdia a paciência e acabava sendo um pouco rude.

Apesar de tomar atitudes rudes no Iowa City High, as ações de Luana eram compreensíveis. O motivo dela, seu pai Gregory e seu irmão mais velho Blake terem se mudado para Iowa City foi a morte da mãe da garota. Um pouco antes dos Chesterfield chegarem em Iowa City, dois ladrões entraram na antiga casa deles e mataram a tiros a sra. Chesterfield. Assim, o sr. Stevens achou melhor eles mudarem um pouco de ambiente, e como Gregory foi transferido para Iowa City, eles decidiram morar na mesma cidade.

Luana não gostava de pensar nisso, mas algumas vezes os pensamentos sobre sua mãe lhe vinham na cabeça de uma forma ligeira, como naquele momento em que ela se olhou no espelho. Ela imaginou sua mãe lhe dizendo para usar um vestido mais comprido, ou para prender o cabelo em um rabo de cavalo.

Tentando ignorar esse tipo de pensamento, Luana foi para a sala de estar. Seu pai estava sentado no sofá assistindo um episódio inédito de Grey's Anatomy. Ele ainda estava de pijama e segurava uma xícara de café.

— Ei, pai — Luana colocou a mão na cintura. — Você não deveria estar indo para o trabalho?

— E você não devia usar roupas mais simples na escola? — brincou o sr. Chesterfield. Luana cruzou os braços, exigindo uma explicação. — Estou brincando, querida. Meu chefe me deu um dia de folga, então vou ficar em casa o dia todo.

A garota assentiu com a cabeça.

— Pelo jeito as vendas estão indo bem para poderem dispensar os empregados.

— Sim. Você pode acordar seu irmão pra mim? — sugeriu Gregory. — E pergunte pra ele se pode levar você para a escola.

— Ok.

Luana já tinha tentado fazer a carteira de habilitação várias vezes, mas sempre era reprovada. Portanto, depois da sétima tentativa frustrada, ela decidiu desistir e depender sempre de carona. Normalmente ela iria com seu pai, mas como ele estava de folga, restava apenas pedir para seu irmão mais velho Blake.

Ela foi até o quarto de Blake e bateu na porta.

— Entra.

Luana girou a maçaneta e entrou no quarto.

— Blake, o papai pediu para você levantar da cama e me levar para a escola.

Ele estava vestido com um abrigo azul e branco da Adidas e ainda não tinha colocado os tênis.

— Eu ia correr — contou ele.

— Então mude de ideia, porque o papai não vai me levar.

Blake suspirou.

— Certo, eu te levo até a escola, depois estaciono em algum lugar e vou correr.

Luana concordou com a cabeça.

O relacionamento de Luana e Blake sempre fora um tanto confuso. Desde que eram menores, nunca tinham sido muito íntimos. Talvez fosse pela diferença de idade, já que Blake era cinco anos mais velho. Ou poderia ser pelas personalidades tão diferentes. Mas isso não importava. Os dois gostavam um do outro, é claro, mas não costumavam conversar. Entretanto, isso tinha se tornado muito pior depois da morte da sra. Chesterfield. A partir daí os dois quase não se viam mais. Blake estava sempre fora de casa e Luana ficava muito ocupada tentando achar formas de manter sua popularidade sempre em alta.

A garota voltou para a sala.

— Tudo certo? — perguntou o sr. Stevens, ainda no sofá.

— Sim — afirmou a garota. — Só vou pegar minha bolsa.

Ela voltou ao seu quarto e procurou alguma bolsa que combinaria com sua roupa. Luana colocou o olho em uma bolsa bege de tachas que também era da Colcci.

Com certeza é essa.

Luana agarrou-a e colocou em seu ombro direito.

Quando estava pronta para ir, lembrou-se de que seu celular estava na cama. Ela pegou-o e viu que havia uma mensagem nova. Provavelmente era Robert respondendo. Entretanto, quando abriu a mensagem, era de um número bloqueado.

Acho que seria bom você olhar esse link. Talvez assim você perceba que sua família tem muitos problemas pela frente. – ANÔNIMO.

O que é isso?

Abaixo da mensagem estava o link para acessar um site.

Por uma fração de segundo, Luana quase ficou preocupada com aquilo. Mas logo percebeu que era algum tipo de pegadinha de um idiota da escola que queria deixá-la curiosa a ponto de abrir o link, e quando abrisse veria que era algum site pornográfico ou alguma imagem da menina do exorcista para assustar-lhe.

Afinal, era impossível que alguém soubesse algo sobre sua família que ela mesma não soubesse.

Pelo ao menos, assim ela pensava.