Manual De Como Ser Odiado

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Robert estava escorado no banco com as duas mãos no volante. O rádio estava ligado e os ele estava escutando uma estação de música clássica que no momento tocava uma versão muito ruim da nona sinfonia de Beethoven.

Robert estava em silêncio desde que entrara no carro. Ele ficou pensando no que aquela pessoa mascarada significava. Se fosse alguém que sentisse ódio dele, a lista era grande.

Depois do que aconteceu no verão, vários alunos passaram a odiar Robert. Foi algo que foi crescendo, e quando Robert foi tentar consertar seus erros era tarde demais. Sua reputação estava completamente manchada e ninguém acreditaria nele. Nunca mais.

A música da rádio acabou.

Graças à Deus.

Robert ficou olhando para o lado de fora da sua janela. De repente, um local lhe chamou a atenção: o galpão da família Green.

Todos em Iowa City conheciam aquele galpão muito bem. Entretanto, se Robert não soubesse que era ali, nunca reconheceria o local. Havia duas viaturas policiais na frente do galpão. Vários policiais rodeavam o galpão, procurando algo que ajudasse na investigação. E a porta da frente estava isolada com aquelas fitas pretas e amarelas.

Óbvio que a polícia estava tão envolvida com o caso.

A família Green era uma das mais ricas de Iowa City. Se eles pagassem bem (o que eles com certeza tinham condições de fazer), os policiais fariam muito mais esforço para resolverem o caso. Era uma situação hipócrita, mas era a realidade.

Dobrando uma última curva, Robert chegou no estacionamento do Iowa City High. Ele parou o carro.

Robert colocou sua mochila no ombro e abriu a porta do carro.

Ainda estava chovendo. Robert ligou o alarme do carro e precisou sair correndo para não se molhar muito.

De repente, ao olhar para trás, Robert viu alguém correndo com um guarda-chuva azul marinho com bolinhas rosas. Quando se aproximou dele, Robert viu que era Monique Jackson.

Essa não.

— Ei, Robert! — gritou ela para que o garoto pudesse escutá-la através do barulho da chuva. — Quer uma carona?

Robert negaria. Com toda certeza ele negaria. Monique era uma garota estranha. Ela tentava de qualquer forma não ser vista pelos outros. Talvez ela fosse somente tímida. Ou talvez guardasse muitos segredos. Mas a verdade era que Monique era mais odiada do que Robert, pois diferente dos outros, não gostava de chamar a atenção. Mas estava chovendo extremamente forte, e se ele não fosse com ela, ficaria encharcado.

Ele suspirou tentando criar coragem e foi até Monique. Quando se parou em baixo do guarda-chuva, ficou aliviado, porém, assustado. Monique estava vestindo uma manga comprida longa preta, uma saia curta cinza e uma meia-calça escura rasgada. Nos pés, ela usava botas compridas. Seu cabelo preto estava solto, com a franja tapando uma parte de seu rosto.

Os dois foram caminhando até a entrada da escola.

Quando chegaram ao saguão da escola, Monique fechou seu guarda-chuva.

— Ah... Obrigado, eu acho — agradeceu Robert um pouco sem jeito.

— Não por isso.

Agora, sem a chuva pingando acima deles, Robert percebeu que tinha se molhado um monte. Já Monique, pelo contrário, estava completamente seca. Ao olhar melhor para ela percebeu que sua roupa não era tão ridícula assim. De alguma forma esquisita, era sexy.

Que Luana nunca saiba que pensei isso.

Monique abriu um sorriso meio torto.

— Você viu o que aconteceu com o galpão da família Green? — quando estava sem jeito, Robert costumava falar da primeira coisa que lhe vinha na cabeça.

A garota gelou, como se não quisesse falar sobre aquilo.

Robert se sentiu intrigado. Será que ele tinha falado alguma coisa que tinha magoado Monique? Ou será que Monique era alguma parente ou amiga íntima da família Green e Robert não sabia?

Quando abriu a boca para falar algo, Robert foi interrompido por Monique.

— Eu ouvi algo sobre isso.

Robert assentiu.

— Bem, eu tenho que ir, Robert — continuou Monique. — Nos vemos qualquer hora dessas.

O garoto sorriu.

Monique foi caminhando pelo corredor e dobrou para a esquerda em certo ponto.

Naquele momento, Robert estava se sentindo extremamente esquisito. Seu coração mantinha diversos sentimentos misturados. Ele sempre tinha ignorado Monique. Sempre. Aquela era a primeira vez que ele realmente tinha falado com ela. E de alguma forma, ela lhe fez sentir-se bem.

Mas nada daquilo importava no momento. Agora ele precisava entrar no corredor principal. E apesar de ter que fazer isso todos os dias, nunca era uma tarefa fácil.

Robert colocou seus pés dentro da escola e sentiu que todos se silenciaram. Não era um pressentimento. Era o que realmente estava acontecendo. Enquanto todos o observavam com repugnância, ele foi andando em direção ao seu armário com a cabeça baixa. Pode ouvir alguns alunos sussurrando entre si.

— Esse cara de pau tem coragem de vir aqui todo dia...

— É um idiota — falou a voz de Zack McAdams.

— Não sei como consegue viver — disse uma voz desconhecida.

Ele fechou os olhos forçando-os e fez uma parada. Nem ele mesmo sabia como conseguia viver.

Assim que Robert abriu seu armário, todos voltaram a conversar, normalmente. Tudo legal. Claro, para Robert não estava nada legal.

Estava com o coração amargurado. Tinha vontade de dar um soco em Zack McAdams e de todos os outros cretinos, até ver sangrarem. Mas mesmo que aquela fosse a vontade mais profunda de Robert, ele sabia que não podia fazer isso. Só pioraria toda a situação, e todos só o odiariam ainda mais.

O garoto pegou seu livro de história no armário. Aquela era a matéria de seu primeiro período. Quando fechou a portinha de seu armário, Robert percebeu que tinha batido forte demais. O barulho ecoou por todo o corredor. Novamente todos pararam de falar e olharam para ele. A mesma sensação.

Droga.

Todos continuaram em silêncio.

Robert, porém, segurou seu livro de história em baixo do braço e saiu caminhando. Era melhor ignorar todos aqueles alunos. Eles podiam até pensar que ele era um grande babaca, e talvez o que ele fizera no verão tivesse realmente sido horrível, mas ele preferia pensar diferente.

Eles que são os babacas.

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