INVERTIDOS

DIFÍCIL

Horas Antes

- Amigo, notícia boa... - Caio começou a falar, mas parou no meio da frase, pensativo, como se processasse suas próprias palavras.

Rodrigo, que digitava no computador, ergueu o olhar imediatamente, esperando que ele continuasse.

- O garoto tem uma missão hoje.

Rodrigo se levantou da cadeira no mesmo instante, animado.

- Os Duplos? - perguntou, já rodeando sua mesa com expectativa.

Caio, no entanto, apenas balançou a cabeça enquanto se sentava para beber um copo d'água.

- Quase. - Ele tomou um gole e fez uma pausa dramática, observando a reação do amigo.

Rodrigo, que até então revirava as gavetas à procura de sua arma, estranhou a hesitação dele.

- O Dylan tem uma missão hoje - completou Caio, observando com atenção a reação de Rodrigo. - Nosso infiltrado disse que Bob quer ver um de cada em ação.

Rodrigo parou o que estava fazendo e franziu o cenho.

- Mas eles são muito jovens! Isso é arriscado.

- Bom, é o Bob... - Caio deu de ombros. - Aquele ali não se preocupa com os jovens.

Rodrigo apertou os lábios, pensativo, enquanto finalmente encontrava a arma que procurava. A situação não lhe agradava nem um pouco.

- Qual é a missão? - Ele voltou a se sentar de frente para Caio, mas sua decisão já estava tomada: ficaria à espreita caso Dylan precisasse de ajuda.

- Parece que ele tem que dar o flagrante em um vendedor de joias roubadas.

Rodrigo não pensou duas vezes. Levantou-se novamente e fez um sinal para Caio segui-lo.

- Me leve até o local.

Eles saíram da sala, caminhando apressados pelos corredores da empresa de Rodrigo.

- Olha, eu gosto do garoto - disse Caio, hesitante. - Sou fã dos Duplos.

Rodrigo parou em frente ao carro e o encarou, impaciente.

- Mas...? - pressionou.

Caio desviou o olhar, incerto sobre continuar.

- Eu não acho que ele seja seu filho. Ele nem gosta de você.

Rodrigo respirou fundo, ponderando aquelas palavras. No fundo, ele sabia que Dylan não o suportava. Mas, e se ele estivesse enganado? E se estivesse deixando seu próprio filho sozinho naquela situação perigosa?

- E se ele for? - Rodrigo perguntou, sua voz carregada de preocupação. - E eu estiver cometendo um erro ao deixá-lo desprotegido?

Caio suspirou, compreendendo o dilema do amigo.

- Tem razão. Tyler está em segurança com a gente... Mas Dylan não.

Ambos entraram no carro e partiram em alta velocidade pelas ruas de Nova York. Rodrigo se agarrava ao volante com força, sua mente tomada por um turbilhão de pensamentos.

Encontrar seu filho deveria ser mais fácil, deveria ser óbvio... Mas não era. Ou pior: talvez nenhum dos dois fosse.

- E Tyler? Onde ele está? - perguntou Rodrigo, tentando desviar a mente da angústia.

- Foi para a aula. Vimos Logan por lá também.

Rodrigo sentiu um certo alívio ao saber que Tyler estava bem. Pelo menos um deles estava seguro.

- Já sabe como vai chegar até Dylan? - Caio perguntou, indicando a rua que levava ao local da missão.

- Não... Diferente de Tyler, Dylan parece ser muito fã do Bob.

Caio riu do comentário, mas logo seu sorriso desapareceu ao reconhecer o restaurante japonês no qual Dylan se encontrava.

Rodrigo estacionou em uma área discreta e observou através do vidro. Dylan estava sentado a uma mesa, vestindo roupas diferentes do habitual e usando óculos de grau.

Ele percebeu que Dylan notou a presença do carro, mas, para a surpresa de Rodrigo, não reagiu. Apenas continuou ali, como se não desse importância.

- Acho que ele sabe que está sendo seguido - comentou Caio, achando graça.

- Vamos esperar.

Rodrigo desligou o carro, mantendo o olhar fixo no restaurante. Não demorou muito para que o vendedor de joias se aproximasse e se sentasse em frente a Dylan.

O jovem sorriu - um sorriso exagerado, forçado demais. Disfarce.

Rodrigo estava atento a cada detalhe quando, de repente, tiros ecoaram pelo restaurante.

A cena diante de seus olhos se desenrolou rápido demais. Dylan se jogou sobre o vendedor, tentando protegê-lo ou neutralizá-lo - Rodrigo não sabia dizer.

- Caramba! Acho que essa é nossa deixa! - exclamou Caio, abrindo a porta do carro.

Rodrigo já estava correndo antes mesmo que ele terminasse a frase.

- Não trouxemos seguranças! - Caio alertou.

- Não importa! - gritou Rodrigo, acelerando o passo.

Caio não tentou impedi-lo. Ele sabia que, quando se tratava de Dylan, Rodrigo não pensava duas vezes.

Ao entrar no restaurante, Rodrigo se deparou com o vendedor apontando uma arma para Dylan, que tentava se levantar do chão.

Seu coração disparou.

- Nem pensar! - bradou Rodrigo, avançando com fúria.

Os seguranças de Dylan finalmente intervieram, enquanto Caio imobilizava o criminoso.

Dylan, no entanto, ainda estava no chão, sua expressão séria e distante. Só então Rodrigo percebeu que havia sangue escorrendo de sua cabeça.

- Quer uma ajuda? - perguntou Rodrigo, estendendo a mão.

Dylan o encarou por um momento e, com esforço, se levantou sozinho, ignorando o gesto de Rodrigo.

- Por que está me seguindo? - questionou Dylan, aproximando-se um pouco.

- Eu só queria vê-lo em campo. Os Duplos - Rodrigo inventou rapidamente.

Dylan suspirou, parecendo menos hostil.

- O senhor Bob não pode saber que me ajudou.

- Tudo bem.

Dylan deu um passo para sair, mas parou na porta, virando-se para encarar Rodrigo mais uma vez.

- Eu realmente pretendo ajudá-lo.

Rodrigo franziu a testa, surpreso.

- A encontrar meu filho?

Dylan manteve a expressão cansada, mas sincera.

- Sim. Mas, se continuar me seguindo, eu não ajudo.

Rodrigo abriu a boca para insistir, mas Dylan já se afastava.

- Espera! Não quer uma carona?

Ele não sabia o que acontecia sempre que via Tyler e Dylan. Só sabia que queria protegê-los.

- Não, obrigado.

Dylan desapareceu pela porta, deixando Rodrigo parado ali, derrotado.

Caio se aproximou, colocando uma mão no ombro do amigo.

- Não fica assim. Pelo menos você o ajudou.

Rodrigo apenas assentiu, observando Dylan entrar em um carro e sumir pelas ruas de Nova York.

E tudo o que ele pensava era: está cada vez mais difícil encontrar meu filho.