2° Fase - São Paulo

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Assim que entro em casa, sou envolvida por uma onda de vozes animadas e abraços apertados. Minha tia Bianca, irmã do meu pai, é a primeira a me puxar para um abraço forte, seguida pelo tio Alex, seu esposo, que me dá um tapinha de leve nas costas, sorrindo calorosamente.

— Olha só quem voltou! — Tia Bianca exclama, segurando meu rosto entre as mãos. — Está ainda mais linda!

— E com aquele ar de quem está escondendo alguma coisa — Tio Alex brinca, arqueando as sobrancelhas.

Solto uma risada nervosa e desvio o olhar. Nem um pouco.

Antes que possam continuar a análise sobre minha vida, Maria, a cozinheira que me viu crescer, aparece na porta da cozinha. Seu sorriso acolhedor me puxa imediatamente para um abraço apertado.

— Minha menina! — Ela diz com carinho. — Que saudade de você!

— Também senti sua falta! — respondo, sentindo o calor familiar de estar cercada por essas pessoas.

Minha mãe observa a cena com um sorriso e avisa que meu pai deve chegar a qualquer momento.

Depois de muitos abraços, perguntas sobre Miami e comentários sobre como meu sotaque está "mais puxado", subo as escadas e sigo para meu quarto.

Assim que abro a porta, uma sensação estranha me invade. Está tudo exatamente como eu deixei. A mesma colcha, os mesmos livros na estante, o mesmo cheiro familiar. Como se eu nunca tivesse ido embora. Mas, ao mesmo tempo, sinto que a pessoa que dormia nessa cama meses atrás não é a mesma que está aqui agora.

Fecho a porta atrás de mim e jogo minha mala em um canto. Pego o celular automaticamente e vejo uma única notificação.

Lauren.

"Você já chegou?"

Aperto o aparelho entre os dedos, sentindo um aperto no peito. Nenhum emoji, nenhuma outra palavra. Mas ainda assim, foi a primeira a perguntar.

Respiro fundo.

Minha saudade fala mais alto.

Aperto o botão de chamada e levo o celular ao ouvido, sentindo meu coração acelerar um pouco mais a cada toque. Talvez ela esteja ocupada, talvez não possa atender agora. Mas, no fundo, espero que atenda logo. Preciso ouvir sua voz.

Depois de alguns segundos, o silêncio é quebrado pelo som rouco e familiar do outro lado da linha.

— Oi, chegou bem? 

Fecho os olhos por um instante, absorvendo aquele som. É estranho como apenas sua voz consegue me acalmar e, ao mesmo tempo, me bagunçar inteira.

— Sim — respondo, mordendo o lábio. Hesito por um momento antes de admitir: — Queria ouvir sua voz.

Silêncio.

Ela não responde de imediato, e a ausência de palavras me faz segurar o celular com mais força. Será que eu deveria ter dito isso? Meu peito aperta enquanto espero.

— Estou com saudade — confesso antes que minha mente me impeça.

Dessa vez, a resposta vem mais rápido, mas num tom que me faz prender a respiração.

— Eu também — sua voz sai baixa, quase um sussurro.

Engulo em seco. Ouvir isso de Lauren tem um peso que talvez ela nem perceba. Porque não é só sobre sentir saudade... É sobre tudo que fica no meio do caminho, tudo que nunca falamos em voz alta.

No Limite do Prazer (Camren)Onde histórias criam vida. Descubra agora