Setembrode 1807 -
Bayonne, França – Yvone
Acordei tão fraca naquele dia que precisei ser carregada por Alain até a carruagem. Papai estranhou e ficou preocupado, mas nada disse. Pedi ao soldado que mantivesse segredo e a mente tranquila, pois nada horrível acontecera.
Pelo contrário: algo belo e mágico.
Eu mal podia esperar para me encontrar com Léon uma vez mais, de preferência na frente de papai para que pudesse ver e constatar que nosso amor era verdadeiro e puro. Agora até estava mais em paz com a viagem até San Sebastián.
Eu esperaria o tempo que fosse para encontrar o homem da minha vida.
San Sebastián, Espanha – Enrique
Eu estava tremendo e não era apenas por estar em pé sobre a perna ainda quase nada curada. A dor era suportável e parecia carinho perto do medo que se infiltrava em mim, pulsando nas veias. Vera, ao meu lado, sorria com simpatia tentando me tranquilizar. Ela me garantira que sua família era tão gentil quanto poderia ser e não me julgaria por ser pobre. Algo em seus olhos a desmentia.
– Está tudo bem – tentou uma vez mais. Estávamos parados na porta, o braço dela enganchado ao meu, minha mão direita segurando uma bengala improvisada. Vestira minhas melhores roupas e ainda assim parecia um tratador de porcos perto dela. Mas o sorriso caloroso naquele rosto não diminuía. – Está tudo bem. Vamos.
A porta abriu com um leve empurrão e adentramos aos poucos a casa muito bem arrumada e grande. "Grande demais", pensei. Eu detestava aquelas casas nobres, cheias de detalhes em todos os cantos e pinturas e... Aquilo agredia meus olhos mal acostumados. Vera me arrastou até um sofá e nos sentamos. Ele era belíssimo e deveria ter custado a minha vida inteira de trabalho. "Eu não pertenço aqui..."
– Olá querida. – O homem surgira do nada com sua voz grossa como um latido. Olhando de longe poderia ser confundido com uma maçã de gigantes, extremamente redondo e inteiro vestido em vermelho. Era pomposo e andava com certa delicadeza, apesar da idade já lhe dar movimentos mais rudes e pesados.
Colocamos-nos em pé e a dama que até então estava ao meu lado foi abraçar seu pai. Eu estava sozinho e me sentia desprotegido sem o toque dela. O homem roliço andou até mim e me mediu com os olhos.
– Barão Álvarez – disse ao mesmo tempo em que fazia uma mesura –, é um enorme prazer conhecê-lo pessoalmente.
– Creio que sim – respondeu meio atravessado. Ergui uma sobrancelha e olhei para Vera, esperando alguma dica do que ser feito ou de como agir, mas seus olhos encontravam o chão e apenas o chão. – Por que vieste até aqui, garoto?
Respirei fundo e fechei os olhos antes de pronunciar a frase que provavelmente me levaria a ser expulso daquela casa por desacato ou qualquer coisa do tipo.
– Vim, com todo o respeito e humildade, pedir ao senhor a mão de sua filha Vera Álvarez em casamento.
Silêncio. E então uma gargalhada.
Estranhei a reação e olhei para o barão Álvarez, dobrado para trás com a cabeça reclinada e rindo como se houvesse escutado a piada mais engraçada do mundo. A pança balançava com as sacudidas como se fosse feita de lama.
– Você? Casar-se com Vera? – As lágrimas lhe escorriam pela face até o bigode. Eu não entendia o que estava achando tão hilário, então não conseguia escolher entre "me ofender" ou "me envergonhar". Fiquei apenas estático, observando Vera contendo o riso. – Ora, mas me diga o que lhe motivou a vir até aqui pedi-la?
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Cariad
RomanceEnrique Lopez é um rapaz de San Sebastián - Espanha - que trabalha muito para manter a si mesmo e a mãe. Yvone Deveux é uma nobre de Bordeaux - França - que deseja ter um bom casamento por amor. Quando o suspeito e sedutor Léon Chevalier surge com p...