Capítulo 1

4.1K 262 2
                                    

Finalmente o dia começou a clarear, acho que esta foi a noite mais longa de toda a minha vida, eu sei que já deveria estar acostumada com isso, mas depois do que a Ana me disse ontem não consegui pregar o olho, e sei que isso será muito prejudicial para mim.

Fui abandonada pela minha mãe logo após meu nascimento, e meu primeiro dono me recolheu da rua, segundo escutei das crianças que comigo habitavam, ainda estava suja do sangue do parto, jogada em uma sarjeta escura quando fui encontrada. Era uma forma barata de ter servos, ele nos recolhia nas ruas, alimentávamos com os restos de sua mesa ou com as sobras dos animais do estábulo, até termos idade suficiente para começar os serviços braçais éramos treinados exaustivamente para realizarmos o serviço de forma rápida e silenciosa.

Quando tinha cerca de cinco anos de idade fui vendida pela primeira vez, não sei o valor que tenho, mas todas as vezes que fui levada a feira, era rapidamente vendida, acho que cada vez que isso acontece o valor aumenta, porque as cobranças de meus amos também aumentam.

Mas dessa vez a oferta vai ser diferente, estou com esse amo já faz quase seis anos, e nesse tempo meu corpo tomou formas, sou mais uma mulher agora do que uma criança, e sei que alguns amos cobram outros serviços paras as servas jovens, foi isso que Ana contou ontem assim que terminou de servir a ceia de nosso amo e sua família e deitamos cada uma em sua esteira.

_Hadhara, acho que amanhã quando for levada a feira vai ser diferente – ela estava me olhando como se eu fosse sofrer algum castigo.

_Por que você diz isso? – neste momento meu coração bateu de forma descompassada, sabia que algo aconteceria comigo quando fui informada pelo guardião do alojamento que seria vendida na manhã seguinte, seu olhar percorrendo meu corpo de forma lenta parando em alguns momentos em partes dele, me causou arrepios.

_Escutei a conversa de nosso amo durante o jantar – revelou sussurrando, olhando ao redor verificando se ninguém escutava.

Minha respiração falhou, Ana correu um risco muito grande ouvindo a conversa durante o jantar, se fosse pega teria sua língua cortada e seus tímpanos perfurados, evitando assim que o fato se repetisse.

_Eles falavam que você será vendida muito rapidamente, já que é diferente de todas as que são apresentadas na feira – Ana me olhava com carinho, ela tinha a pele amendoada, seus cabelos eram cheios de pequenos cachos que chegavam até o meio de suas costas, já os olhos tinham cor de mel.

_Ana, todas nós somos diferentes! Olhe este lugar, não tem uma pessoa igual a outra aqui! – disse pra ela exasperada. Aquela era o alojamento mais diverso que já vivi, tinha pessoas outras pessoas com cabelos da cor da terra e pele clara como o luar assim como eu, outros tinhas a pele e olhos negros como a noite, uma menina com os cabelos claros como os campos de trigo quando estão prontos para a colheita e outra com os olhos mais fechados e cabelos sedosos.

_Sim Hadhara, mas você é a que tem mais se destacado aqui, você não percebeu como seu corpo mudou nos últimos anos? – sim eu tinha percebido, e ficava aliviada de nosso alojamento ser separado dos homens, apenas os olhares que me lançavam durante os momentos que trabalhava já me causavam náuseas.

_Certo, mas o que tem isso com o que você ouviu? – Seu olhar tinha um brilho triste, ela é minha melhor amiga, e justamente por isso sabia que não gostaria da noticia que ela estava prestes a me dar.

_ Hadhara você sabe que muitos deles querem comprar jovens para ser usada para entreter os homens!

Naquele momento tudo parou em minha volta, minha mente voltou para as outras vezes que fui vendida, todos que seriam vendidos eram despidos totalmente na feira, os homens olhavam as mulheres mais jovens como mercadoria e quando havia interesse tocavam de forma muito intima no corpo da escolhida, e quando lhes agradavam eram compradas por um alto preço, sabia disso porque só homens com trajes finos e muitas joias compravam essas mulheres. Já as que o seu aspecto não estavam a altura do que desejavam, eram espancadas por todos os homens que estavam presente no final da feira, lembro de como uma delas gritava de dor na ultima vez.

Esta lembrança me fez gemer alto demais, chamando a atenção para nós, fazendo Ana se calar e rapidamente fingir que estava dormindo. Resolvi fazer o mesmo, mas com essa noticia o sono não veio.

Nos únicos momentos que preguei os olhos esta noite as imagens daquela mulher voltava a minha mente me fazendo despertar novamente, agora aqui estou eu com a mente totalmente acordada, mas com o corpo reclamando por esta noite mal dormida.

Respiro profundamente, ouço passos vindo em direção ao alojamento, ainda é cedo para iniciar os trabalhos as mulheres, já que tudo que fazemos necessitamos da luz do dia, então sei que são os homens que me levaram para a feira. Chamo Ana que dorme ao meu lado, ela desperta vagarosamente erguendo os braços e bocejando, mas de repente ela se lembra, e arregala seus lindos olhos para mim.

_Oh! Hadhara sentirei tanta saudades– lagrimas começam a brotar em seus olhos.

_Também sentirei Ana, quero que lembre que eu te amo minha amiga, que o tempo pode passar, mas eu nunca vou esquecer a sua amizade – lagrimas também caem de meu olhos – e que se algo bom acontecer comigo darei um jeito de vir buscar você.

_Como algo bom pode acontecer? Você está sendo levada para a feira, e dessa vez será pior do que as outras! – Nos abraçamos, e neste momento as palavras não são mais necessárias, nossos corações estão ligados, e este vinculo não poderá ser quebrado.

A porta do alojamento é aberta violentamente, o guardião entra e vem direto onde estamos. Ele é muito grande, tenho que erguer a cabeça para poder enxergar seu corpanzil próximo de onde estou, já havia visto este guardião antes, seus cabelos são cinzentos, tem uma cicatriz profunda que próxima a boca, como se ela tivesse sido rasgada, mas o que mais me amedronta é o seu olhar, é como se toda maldade do mundo coubesse nele.

_Ótimo, está acordada, menos trabalho para mim, vamos! Levante-se! Rápido! Queremos chegar cedo à feira, os negociadores gostam de observar mercadoria a luz do dia! – Sinto o sangue de minhas veias gelarem, sua boca curva-se em um riso maldoso, e antes que dou conta de erguer-me sozinha, ele me arranca do chão puxando meu braço.

_Eu disse rápido!

Sou arrastada para fora do alojamento, não tendo tempo de olhar uma ultima vez para minha amiga, logo sinto algemas prenderem meus pés, e cordas amarrarem as minhas mãos nas costas, como se fosse uma criminosa. Sou lançada em uma carroça junto com outras pessoas que também serão vendidas, mas meus olhos estão embaçados, não sei se de medo ou se é efeito da noite mal dormida, então não consigo reconhecer ninguém nem oferecer um sorriso tranquilizador.

Amada do ReiOnde histórias criam vida. Descubra agora