Grande arrumação...

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Depois de admirarmos aquele escuro e poeirento quarto, ganhamos coragem e metemos mãos à obra.

Mãe- bom... Acho que vai ser mais difícil do que eu pensava. Primeiro passo: verificar as caixas velhas e decidir o que é útil ou não.

Eu- certo!

Depois de ganhar-mos alguma coragem, eu, Peter e a minha mãe começamos a abrir as caixas velhas e a decidir o que seria para o lixo. Podemos dizer que encontramos um pouco de tudo. Desde bonecas velhas, roupas de bebê ou até mesmo dos nossos avós, mas o que eu gostei mais foi de uma caixa de fotografias que Peter encontrou.

Peter- Wendy, Wendy! Olha o que eu encontrei!

Quando fui ao seu encontro pude ver que ele estava a segurar um álbum velho de fotografias.

Mãe- encontras-te as fotografias?!? Oh Meu Deus, que recordações! - disse pegando numa delas onde ela e o meu pai estavam a ver o pôr do sol, de costas para a câmara. - e olha esta aqui!!!

É então ela agarra uma fotografia a preto e branco e nela estavam dois jovens, lado a lado a sorrir. A rapariga tinha um sorriso lindo e na sua mão direita estava algodão doce, enquanto que a outra estava a segurar a mão do rapaz que também estava a sorrir para a câmara com um ar mesmo feliz.

Eu- estes são...

Mãe- eu e o teu pai. Lembro-me perfeitamente deste dia...

Peter- a senhora está com um sorriso lindo.

Mãe- obrigada Peter. - disse sorrindo e pondo a mão no seu ombro e ajoelhando-se ao seu lado para mexer em mais fotografias. - isto trás-me tantas recordações. Espera... Eu acho que foi nesta caixa que eu deixei aquilo.

Eu- aquilo o quê?!?! - disse com ar preocupado pois já imaginava o que seria.

Mãe- já vais ver...

Aquilo preocupou-me. Depois de remexer na caixa por um tempo, encontrou um pequeno álbum de fotografias que eu esquecera à muito.

Eu- isso é...

Mãe- o teu álbum de bebê!

Eu- era o que eu temia... - disse baixinho para Peter.

Sem conseguir pará-la, ela começa a folhear o álbum e a mostrar as minhas fotografias a Peter.

Mãe- esta foi quando ela comeu o seu primeiro gelado. - disse mostrando uma foto de um bebê com a boca toda suja a olhar para a câmara.

Eu- mãe, tenho a certeza de que Peter não quer saber disso para nada... - disse embaraça a tentar tirar-lhe o álbum.

Peter- na verdade, até acho bastante interessante. - disse com um sorriso.

Mãe- Oh filha, não tem nada de mal, eras só uma criança! Oh olha Peter! Este foi da primeira vez que ela andou de escorrega! - disse mostrando uma foto de uma menina pequenina em cima de um escorrega a sorrir com poucos dentinhos à mostra.

Eu- okay, eu desisto... - disse pegando em outra caixa e começando a abri-la.

Mãe- e este foi o primeiro banho dela!

Eu sou sei que Peter se começa a rir e a olhar para mim. Eu provavelmente estaria que nem um tomate e olhei-o apenas pelo canto do olho.

Peter- eras o bebê mais bonito de todos. - disse caminhando ao meu encontro, dando-me um beijo doce na testa.

Eu- que vergonha... - disse encostando a minha cabeça ao seu peito.

Peter- não tens de ter. Eu amo-te.

Deixei-me ficar alguns momentos quieta, apenas a apreciar as carícias que ele me fazia no cabelo, soube mesmo bem. Quando finalmente nos largamos demos um beijo rápido e foi então que vimos que estávamos sozinhos.

Eu- para onde é que ela foi?!?

Peter- se calhar ela ficou constrangida...

Eu- se calhar...

Saímos do quarto e fomos até à cozinha, e como de esperar lá escava ela. Estava a espremer laranjas, provavelmente para o nosso lanche.

Eu- mãe, porque é que foste embora sem dizer nada?!? - disse pondo os meus braços pesadamente em torno dos seus ombros.

Mãe- vocês estavam a precisar de um momento, então pensei em vir fazer o lanche!

Peter- muito obrigado.

Eu- os miúdos ainda estão na casa do vizinho?

Mãe- sim, mas acho que eles foram para o parque ao fundo da rua.
Eu- e o pai ainda não chegou?

Mãe- parece que não querida, ele disse que iria demorar.

Peter- peço tanta desculpa... Eu nunca pensei envolver tanta gente...

Eu- cala-te. - disse beijando-o.

A minha mãe dá um pequeno riso, vira costas e continua a fazer o sumo.

Eu- pára porque eu estou farta de te ouvir. - disse beijando-o outra vez.

Enrolei-me nos seus braços por momentos e voltei a encará-lo. Ele estava vermelho a olhar para baixo.

Peter- eu não posso fazer mais nada... Não posso fazer mais nada a não ser desculpar-me. - disse em seguida colocando a sua cabeça no meu ombro, pondo quase todo o seu peso em mim.

Eu- podes sim... - disse passando a minha mão na sua nuca um pouco soada. - podes viver...

Peter naquele momento verteu uma lágrima e agarrou-se mais a mim.

Peter- eu fiquei tão feliz... - disse entre soluços. - eu fiquei tão feliz quando encontrei aquela caixa...

Então recordei-me do seu rosto quando encontrou a caixa de cartão com as fotografias. Os seus olhos brilhavam e na sua boca estava um pequeno sorriso.

Peter- eu mal me lembro.... Eu mal me lembro... - disse sem parar de chorar. - eu tento mas não consigo.

Foi então que Peter perde a força nas suas pernas e então deslizamos ate ficarmos sentados no chão da cozinha.

Depois de alguns soluços eu percebi... Eu percebi do que ele se estava a tentar lembrar...

Eu- vamos fazer novas memórias, umas que nunca iras esquecer...


Talvez não deveria ter dito aquilo, só sei que ele começou a chorar mais e mais até que a manga da minha camisola ficou encharcada. Depois de uns 10 minutos de choro, ele começou a acalmar. Não o larguei. Não o larguei nem por um segundo...

Mae- Peter... - disse pondo a sua mão no ombro dele e baixando-se para o reconfortar. - não consigo imaginar... Não consigo imaginar como te sentes mas... Tu fazes parte da família agora, espero que isso conte.

Depois daquelas palavras, Peter levanta o rosto molhado e abraça a minha mãe com força.

Peter- obrigado, obrigado, obrigado! - disse começando a chorar outra vez.

Mãe- agora vais levantar a cabeça, e vais mostrar ao mundo que após este tempo todo, encontras-te finalmente o teu lugar...

Peter- sim... - disse limpando o seu rosto.

Ele levantou o seu rosto e finalmente encarou-nos. Dei o meu melhor para dar um sorriso apesar de uma lágrima escorrer pelo meu rosto. Peter sorri como resposta, levanta-se e ajuda a minha mãe a levantar-se.

Peter- muito obrigado, as duas. - disse dando-nos um abraço.

Depois de algum tempo de emoção, começamos a pôr a mesa para o lanche. Eram 16h45m quando começamos a comer, e a meio da refeição ouvimos a porta de casa a abrir.

Leva-me até à Terra do Nunca (PT-PT) HIATUSOnde histórias criam vida. Descubra agora