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   Fomos parar ao Hospital mais perto, onde tiraram Saffron da ambulância e a levaram rapidamente para uma das divisões do edifício. Tentei acompanhar o passo dos médicos que carregavam a sua maca, mas no meio da confusão das urgências era um bocado difícil.

   "Não pode entrar aqui, área reservada." um segurança barrou a minha passagem junto à porta, apontando para o visível placard que dizia 'Restricted Area'.

   "Mas eu estou com ela." tentei explicar, frustado.

   "Desculpe, mas vai ter que ir falar com alguém da receção, eu não posso ajudá-lo."

   Rapidamente virei costas ao segurança e procurei com o olhar a receção. O sinal colocado por cima de um grande balcão indicou-me para onde me dirigir.

   "Desculpe" disse "posso saber para onde é que a rapariga que passou por aqui há pouco foi levada?" apontei para a porta onde o segurança se encontrava.

   "Para ali é o bloco operatório." a minha boca caiu literalmente aberta. Não fazia a mínima ideia de que ela estivesse assim tão mal.

   "E como é que eu posso saber se ela vai ficar bem?" passei a mão pelos cabelos, puxando-os para trás, um hábito nervoso que eu havia ganho.

   "Tem que aguardar pelo final da operação. O cirurgião virá cá fora assim que acabar."

   Agradeci à senhora da receção e sentei-me numa das cadeiras livres da sala de espera.

***

   Já tinham passado 5 horas desde que tinha visto Saffron entrar para o bloco. Ainda hoje não consigo perceber o que me levou a fazer aquilo. Não sei se foi culpa ou pena, eu nem sequer a conhecia. Mas sentia que tinha um qualquer dever para com ela.

   As portas finalmente abriram, deixando passar um médico de bata verde, que retirava as luvas das mãos. Levantei-me imediatamente e fui ao seu encontro, na esperança de obter qualquer informação em relação ao estado de Saffron.

   "Vem da parte da menina do acidente?" respondi afirmamente com um aceno de cabeça, deixando o médico proseeguir. "Ela tinha uma hemorragia interna, mas tudo correu bem e ela está estável." fiquei imediatamente aliviado e feliz por ela estar bem, mas a expressão séria do médico fez com que me voltasse a preocupar de novo.

   "Há algum problema?" a minha voz saiu um pouco tremida.

   "Mais ou menos. É que devido ao consumo de drogas ela criou um vício, que agora vai ser forçado a para enquanto estiver no hospital. A desintoxicação vai ser difícil, ela vai estar nauseada, com mudanças de humor, instável e por vezes delirante." continuava calado a ouvir o que o médico tinha para dizer, que parecia ser uma lista de mil e duzentos sintomas que ela iria ter nos próximos dias. O meu eu interior batia-me mentalmente por ter lhe ter oferecido a minha ajuda em primeiro lugar. Eu estava perfeitamente bem a viver a minha vida de namorado-estudante-trabalhador, não precisava de mais nenhum passa tempo para além disso. "Ela vai necessitar de apoio da sua parte."

   Suspirei em frustação. Isso significava que eu teria que passar o meu tempo livre no hospital com Saffron até ela ter alta. Eu só queria ser simpático, não queria ter uma nova melhor amiga. Sim, eu sentia qualquer ligação estranha com ela, mas o mais provável é que isso tenha acontecido porque eu a mandei quase como se fosse para o corredor da morte.

   "Obrigado" murmurei, afastando-me do médico.

   "Não quer ir vê-la? Ela deve estar a acordar daqui a momentos."

   Assenti com um aceno de cabeça. Deixei que o médico fosse à frente e me indicasse o caminho até ao recobro. Ele parou em frente de uma grande porta branca, que depois de eu a abrir revelou uma grande ala com portas mais pequenas distribuídas por cada uma das paredes.

homeless {a.i.}Onde histórias criam vida. Descubra agora