Capítulo 2

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Enquanto os outros dois poetas criavam seus poemas permaneci em silêncio, fiquei lendo e relendo meu poema várias e várias vezes, achava suficientemente bom para o primeiro poema que fiz com seriedade em minha vida, mas ao mesmo tempo o achava tão supérfluo que tinha vontade de rasgá-lo e jogar fora, era um sentimento contraditório de felicidade e desilusão que talvez eu ainda não saiba como descrever.

A mulher que dera o desafio se aproximou com um sorriso calmo e acolhedor, tocou-me o ombro sutilmente e puxou uma cadeira para se sentar e ficar próxima, tentei a todo custo esconder o papel com meu poema, mas pareceu inútil quando a mulher de cabelos flamejantes conseguiu pegar e passar seus olhos castanhos por entre as letras escritas em uma caligrafia não muito apropriada para uma garota, em outras palavras, era um desastre na arte da caligrafia.

-Qual o seu nome, querida? - a mulher perguntou abrindo um sorriso gentil e devolvendo-me o poema, o qual peguei e dobrei.

-Oceania Rupert - devolvi-lhe o sorriso e notei que minhas mãos tremiam levemente, talvez por vergonha ou por ansiedade do que ela poderia dizer a seguir.

-Sou Kára Solberg, creio não ter me apresentado - ela piscou o olho direito e riu suavemente fazendo com que toda a tensão e ansiedade em meu estomago e peito se esvaíssem rapidamente - qual o seu outro grupo, querida?

-Por que não tenta adivinhar? - as palavras escaparam de meus lábios em uma lufada e lamuriei-me por tê-las dito, mas parece que não foram levadas como ofensa e sim como uma brincadeira.

-Historiadora talvez? - a mulher sorriu mexendo em seus cabelos vermelhos e longos antes de olhar-me nos olhos - não creio que tenha escolhido isso, sua cara contrariada é bem expressiva - seus dedos finos deslizaram por seu cabelo e seus lábios se contraíram em uma linha fina enquanto seus olhos pareciam tentar ler minha mente - pelo toque de dramaticidade em seu poema e por sua expressão creio que tenha escolhido ser artista.

Abri minha boca sutilmente e pisquei os olhos de maneira incrédula, sempre me vi como uma garota quieta, tímida e misteriosa, pensava que ninguém poderia ler-me com tanta facilidade assim, mas pelo jeito estava completamente enganada.

-Levarei isso como um "sim" - Kára parecia se divertir com minha expressão incrédula e acariciou meus cabelos como se eu fosse um filhote fofo - não se preocupe, querida, você não é tão previsível quanto parece, como disse antes o mais previsível seria escolher história, mas você me parece alguém que não gosta de ser prevista.

-E você? Se considera alguém previsível? 

-Na medida do possível tento fazer minhas loucuras, não gosto do tradicional - ela apontou para seus cabelos vermelhos como sangue e ergueu sua sobrancelha esquerda, na qual reparei um piercing prateado com uma pequena bolinha roxa na ponta e senti uma enorme vontade de ser como ela, de fazer minhas loucuras as vezes - sabe, acredito que quem nunca fez loucuras em sua vida não viveu realmente.

-Adoraria ouvir mais sobre suas "loucuras de vez em quando" - fiz aspas com os dedos e sorri apoiando meu rosto em minhas mãos enquanto meus olhos se concentravam na mulher a minha frente.

-Tenho uma história ótima - Kára riu, provavelmente se recordando da história que iria me contar - uma vez descolori meu cabelo e usei diversas tintas para deixá-lo colorido, usei cremes, tonalizantes, formol, um monte de coisas e depois de um tempo ele caiu, literalmente fiquei careca, eu passava os dedos e tufos caiam, passei alguns meses indo de boina e toca para o trabalho, mas apesar de tudo descobri que não ficava tão ruim assim careca.

Tentei imaginá-la sem cabelo e balancei a cabeça negativamente, eu nunca teria coragem para fazer algo do tipo, meus cabelos nunca passaram por tintura ou química e possuía certo receio quanto a isso.

Break my fairytaleOnde histórias criam vida. Descubra agora