The devil likes to party

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   Uma sensação de umidade passa pelas bordas das minhas pálpebras, na medida em que Dinah aplica o delineador, com a intenção de evitar que eu o faça. O que provavelmente ocasionaria uma catástrofe no meu rosto, gerando o clássico "olho de panda". Eu não me importaria se isso acontecesse, seria um bom pretexto para não ir à festa, mas minha melhor amiga parecia ser capaz de prever cada movimento meu antes mesmo de eu pensar em executa-lo.
Meus olhos coçam, e sinto o ímpeto de passar as pontas dos dedos, o que arruinaria o trabalho da garota.

   - Se você mexer mais uma vez, vai parecer que você usou um sismógrafo para aplicar seu delineador, e eu não vou concertar! - Ela ameaça. - E nem pense que isso vai te impedir de ir à festa. - Como foi dito anteriormente, Dinah antecipa cada movimento.

   Bufo em resposta, já que essa é a única coisa que sou capaz de fazer sem prejudicar a atividade que está sendo feita em meu rosto. Assim que minha amiga termina, sou livre para finalizar a maquiagem com rímel e um gloss róseo quase transparente. Toda a estruturação é feita para destacar meus olhos, o que funciona perfeitamente, porém, isso não é um resultado de meus esforços.

   Ajeito o croppet branco que irritantemente insiste em subir e desfaço os vincos imaginários de minha saia preta. Deixo as sandálias por último, visto que elas se tornaram minhas mais recentes inimigas desde o dia anterior, quando Dinah, pelo simples prazer de torturar a pobre amiga de infância, me obrigou a ir para casa equilibrada em saltos finos.

   - Normani já está no estacionamento nos esperando. - Ela anuncia.

   O vestido preto de comprimento mini e aplicações metálicas geométricas destacava as curvas de Dinah, o batom matte realçava sua boca com o auxílio da maquiagem discreta nos olhos, e, apesar de sua altura, usava saltos que ressaltavam esse aspecto.

   Quando o ar frio da noite me atinge, me arrependo de usar algo que exponha tanto a minha pele. Envolvo meus braços em torno de mim mesma na esperança de amenizar os efeitos do frescor noturno. A quietude do campus me incomoda, a maioria dos alunos estão em festas, já que aparentemente os membros da fraternidade mais popular são adeptos da ideia de festejar todos os dias, ou em seus quartos, dormindo ou estudando. 

   Fico contente assim que vejo Normani, em seu macaquinho solto prateado e sandálias de salto, sinto-me aliviada pela oportunidade de me livrar da sensação térmica desagradável. Porém, o frio invade minha barriga em sinal de nervosismo. Nunca havia ido em uma festa assim antes.
Já frequentei festas familiares e o baile da escola, mas algo me dizia que isso seria uma experiência totalmente diferente.

   Durante o percurso, o diálogo firma-se entre Normani e Dinah. A ansiedade parecia tornar-me incapaz de realizar qualquer manifestação, então apenas me dediquei à observação da paisagem do lado externo da janela do carro. Até que a motorista faz a pergunta a qual venho respondendo com absoluta certeza desde o dia em que fui convidada.

   - Vocês estão animadas para a festa?

   - Sim. - DJ diz sorrindo.

   - Não. - Acrescento com um sorriso pouco à vontade.

   - E lá vamos nós... - Dinah comenta de forma provocativa. - Mila apenas tente aproveitar, ficar reclamando não vai melhorar a situação em nada. - Sinto como se estivesse levando uma bronca da minha mãe, com a diferença de que Sinu jamais usaria seus argumentos para que eu fosse à uma festa de universitários.

   - Tudo bem, prometo tentar. - Devido aos resultados do último acordo que fiz com minha amiga, desejo retirar minhas palavras no momento em que elas deixam a minha boca. Sabia que as consequências não seriam favoráveis.

Falling for youOnde histórias criam vida. Descubra agora