Behind green eyes

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Camila's POV

   Pago o motorista e me posiciono ao lado das minhas malas, olhando para o imenso complexo de prédios que ia além do meu campo visual. Atrás de mim, no Washington Square Park, pessoas parravam apressadas, crianças brincavam e alguns turistas apenas sentavam na grama, vendo a vida passar, em um estado de calma que contrastava com o ritmo frenético da circunvizinhança.

   Percebo que minhas mãos estão grudentas e geladas, limpo-as no jeans. O nervosismo parece tomar conta de mim, sinto como se estivesse me infiltrando em uma terra misteriosa para a qual não tinha sido convidada, eu estava deslocada. Era uma estrangeira. 

   Temendo ser vítima de uma assalto ou de um simples esbarrão, pego minhas malas e sigo rumo ao prédio da secretaria. Imagino se receberei olhares atravessados ou se serei completamente ignorada, invisível, como sempre fui na escola. Nunca tive muitos amigos, meu circulo social se baseava basicamente em minha família e Dinah, que, por ser extrovertida, tinha facilidade em arrumar amizades.

   Ah, Dinah. Ainda não havia recebido uma explicação convincente para sua estranheza do último mês. Durante a despedida, hoje de manhã, ela não de dignou a passar mais do que míseros vinte minutos esperando a chamada do voo comigo. Algo estava muito errado, mas não fazia ideia do que era. Se não queria que fossemos amigas, bastava um pouco de paciência. O afastamento é natural quando abandonamos nossas cidades.

  Vejo pessoas se abraçando no campus, velhos amigos se encontrando depois do longo período de férias. Me sinto ainda mais estranha. Como iria lidar com a ausência de amigos? Pelo visto, minha casa não iria ser a única zona de conforto que eu abandonaria. Lembre-se Camila, o segredo de fazer amigos é sorrir sempre. Sorria. Talvez não agora, as pessoas vão pensar que sou uma maníaca. Que tipo de pessoa sorri para o nada?

   A proximidade com o prédio interrompe meus devaneios, no momento em que adentro, solto a respiração que não percebi que estava prendendo. Sinto uma certa leveza no peito, uma etapa estava completa sem que qualquer tragédia acontecesse. 

   - Bom dia. Meu nome nome é Karla Camila, preciso da chave do dormitório e do horário de aulas. - retiro minha documentação e entrego à recepcionista loira que responde meu cumprimento sorrindo e analisa minha papelada.

   - Karla Camila Cabello Estrabao, certo? - assinto.

   - Meu horário, Ashley. - alguém se pronuncia ao meu lado.

   - Bom dia pra você também, Lauren. - a garota tira os óculos escuros, revelando um quê de irritação presente nos olhos verdes. Concluo que tal ato caracteriza sua personalidade provavelmente arrogante. - Só um minuto.

   Ouço seus coturnos baterem no chão em sinal de impaciência. Céus! Era tão difícil assim esperar um pouco? 

   - Você pode pegar o horário dela, aparentemente ela não pode esperar. - interrompo a busca da recepcionista por minha ficha no computador.

   Sinto o olhar de Lauren fixado em mim, sua fúria era tão evidente que se tivesse poderes para tal, eu seria atravessada por ele. Viro-me para encara-la, se ela estava acostumada a agir dessa forma e não receber qualquer tipo afronta, receberia pela primeira vez agora. Percebo o intenso tom de verde de suas íris, não eram simples olhos comuns. Carregados de mistério e poder, era similares à imãs, não conseguia focar em qualquer outra coisa. Por fim, ela quebra o contato visual, pegando seu horário e enfiando na mochila preta que antes estava em suas costas, ao concluir a ação, se afasta sem ao menos agradecer.

   - Ela é sempre assim? - pergunto à Ashley.

   - Você se acostuma.

   - Espero não ter que me acostumar. - agradeço pela grande extensão do campus e o contingente de alunos, que me impedirão de ver aquela garota novamente.

   A moça me entrega as chaves e o horário.

   - Alguma dúvida?

   - Não, obrigada.

   Me afasto da recepção. Não foi tão difícil quanto pensei que seria.

   Arrasto minhas malas pelo campus com certo esforço, graças à boa educação e cortesia nova-iorquina do taxista que se recusou a carregar minha bagagem. A área é ainda mais cheia após a recepção, adolescente conversam e riem despreocupados enquanto isso, tento não entrar em pânico. Na medida em que tento me acalmar, os olhos de Lauren invadem meus pensamentos, frustrando minha tentativa de tranquilizar meus nervos.

   Novamente meus devaneios são interrompidos, porém de uma maneira ruim. Sinto a dor aguda em meus cotovelos quando vou de encontro ao chão. Droga Camila, droga. Tudo estava indo conforme o planejado, mas, se não desse errado não seria eu. Ao me distrair com aqueles olhos, tropecei em minha própria bagagem. Maldita garota irritante. 

   Em poucos segundos de contato que tive com Lauren, já detestava a garota. Seu comportamento arrogante fazia com que eu desejasse gritar, mas, ao mesmo tempo gravitava em seus olhos, suas íris cheias de segredos despertavam minha curiosidade. Queria saber o que estava por trás dessa armadura.

   Me levanto e respiro fundo. Apesar dos olhares, não recebi qualquer tipo de ajuda, apenas olhares. Novamente, nova-iorquinos mostram sua cortesia e seu cavalheirismo. Levanto minhas malas e tento agir como se nada tivesse acontecido. Apenas sorria Camila. E novamente eu estava escolhendo o momento errado para sorrir.

   Na medida em que meus passos ganham os corredores do dormitório, a ansiedade cresce dentro de mim. Estou curiosa para conhecer minha companheira de quarto. Ela seria minha maior chance de fazer amizades. Busco pelo quarto 101 no segundo andar. 99... 100... 101. Finalmente! Ouço risadas e conversas vindas dos demais cômodos. 

   Giro a chave na fechadura, ao abrir a porta, me deparo com algo que não esperava. O quaro está tecnicamente vazio. Analiso o ambiente. Duas camas estão posicionadas nos polos do quarto, as paredes encontram-se lisas, sem qualquer traço de personalidade, noto a presença de uma janela prostrada no centro da parede dos fundos e um pequeno armário de duas portas. 

   Busco por qualquer sinal da presença da pessoa com quem dividirei o cômodo. Vejo apenas uma mala de grande porte e uma mochila que reconheço assim que repouso o olhar nela. Não, não. Isso é impossível. Minha companheira de quarto era ninguém mais, ninguém menos que...

Falling for youOnde histórias criam vida. Descubra agora