Jealous

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                                                                                                             Camila's POV

    Encaro a tela do meu celular pela sexta vez no dia, apesar de ter ignorado todas as demais ligações de Lauren, ainda hesito em fazê-lo. Mas, por fim, desligo o celular. 

   Me sinto um pouco estupida por agir dessa forma, evitando contato devido a um simples sonho. Por outro lado, sou incapaz de imaginar como reagiria ao perceber os olhos verdes me encarando, temo que eles sejam capazes de ler meus pensamentos com extrema facilidade, denunciando meu medo e, consequentemente, meu ciúme. O que me deixa ainda mais temerosa. Teria direito de senti-lo? Claro que tivemos uma relação íntima relativamente duradoura, tendo em vista as centenas de relacionamentos que duram duas semanas em perspectivas otimistas. Porém, isso não era exatamente um namoro, era?

   Definitivamente, não. Tendo em vista a ausência de qualquer sinal, inclusive o fato de não termos ido a nenhum encontro, algo mais sério estava fora da definição do que éramos. 

   Além disso, sabia que era atraída por Lauren, isso era uma verdade inegável. Mas não era lésbica, mais um entrave para meu "direito de sentir ciúmes" e um relacionamento.

   Se esse era o caso, por que fiquei tão chateada quando ela disse que iria fazer algo com Hayley?

   Naquele segundo, percebo o quanto fui infantil, agindo como se toda a atenção de Lauren devesse ser voltada para mim, quando não tínhamos os limites que o namoro impunha. 

   Deduzo que minha reação pode ser atribuída à antipatia que sinto pela garota de cabelos coloridos, afinal, não poderia exigir nada da parte da morena, mas isso não impedia que a existência de Hayley me desagradasse.

   Por fim, após ponderar os assuntos que me afligiram durante o dia, decido ligar meu celular novamente. 

   Havia combinado de encontrar Dinah na cafeteria, já que não a via desde ontem e estava sem ânimo para retornar ao quarto. E lá estava eu, sentada em uma das mesas do lado de dentro, buscando me aquecer perante o clima frio das proximidades de Dezembro. 

   A xícara cheia de chocolate quente transferia calor para meus dedos gelados enquanto minha amiga, que a propósito estava atrasada, não chegava. 

   Meu olhar se alterna, apreensivo, entre meus jeans e a tela do celular, mas não era por uma mensagem de Dinah que eu ansiava. 

   Vamos, não vou ligar para Lauren. Penso, cuidadosamente tentando não deixar que ela pense que me importo mais do que deveria de fato. E assim os segundos e minutos se arrastam, enquanto aguardo um sinal do destino satisfazer meu orgulho, e a chegada da minha melhor amiga não provoca grande variação em meu quadro.

   - Ele foi gentil, no início. - ela sorri de forma maliciosa.

   - Poupe-me dos detalhes. - digo, mesmo tendo perguntado como havia sido. - Na verdade, não precisa nem dizer o quanto foi bom. Já dá pra saber só pelo seu desaparecimento.

   - Não vou discordar. - ela ri. - Já você, parece estar de mau humor. 

   Droga, sabia que o próximo passo de Dinah seria exigir uma explicação para meu nervosismo. Procuro uma desculpa rápida.

   - Arabella finalmente revelou o projeto de Espanhol. Vou ter que viajar com Lauren na véspera do recesso. - bufo para reforçar minha fala, que, em minha defesa, não era uma mentira, mas uma verdade desatualizada.

   - Vocês duas, sozinhas? - ela arqueia as sobrancelhas, insinuando algo.

   Desde o incidente no dormitório, ela nunca parece completamente convencida de meu "ódio mortal" por Lauren.

   - O que? - pergunto em sinal de indignação, já que escutei perfeitamente e compreendi. - Não, não. A sala inteira vai, mas vou ter que trabalhar com ela o dia todo. - tento parecer mais irritada do que realmente estou, apesar de ainda aguardar outra ligação de Lauren.

   - Tenho certeza de que você vai sobreviver. - ela fala enquanto brinca passando o dedo indicador na boca de sua caneca. 

   - Eu não apostaria tanto nisso. - acrescento.

   Nesse exato momento, meu celular vibra sobre a mesa. Arregalo os olhos e tampo sua tela com as mãos sem ao menos olhar quem era, temendo que Dinah visse o nome de Jauregui no visor. 

   - Eu tenho que... - começo sem jeito, já ne levantando para me afastar da mesa.

   - Vai. - ela diz com expressão indecifrável.

   Me retiro para o exterior da cafeteria o mais rápido que consigo, a lufada de vento gelado me atinge com força, mas permaneço no exterior.

   Observo o nome na tela, o alívio toma conta de mim. 

   - A-alô. - gaguejo sem saber ao certo o que dizer. Estou nervosa, já que passei o dia todo ignorando suas ligações.

   - Hey, parece que alguém não estava disposta a falar comigo... - sou pega de surpresa pelo nervosismo que consigo detectar em sua voz.

   - Eu não... - estava prestes a dar uma desculpa qualquer, mas decido ser sincera. Em partes. - Tudo bem, você me pegou. Eu estava te evitando, não sabia como agir depois de ter uma proposta de encontro rejeitada. - falo tudo rapidamente, quase tropeçando em minhas palavras.

   - Já mencionei o quanto eu gosto de como você age toda tímida em um segundo e, no outro, quando eu coloco minhas mãos em você, as coisas mudam? - ela diz a última parte em seu clássico tom aveludado, me provocando.

   Um arrepio percorre minha pele, aperto meus braços ao redor do meu corpo, apesar de saber que ele não possuía qualquer relação com o clima do campus. Talvez, se estivéssemos no mesmo cômodo, eu estaria corando.

   - Então, o que você queria comigo? - falo tentando mudar de assunto.

   - Eu estive reconsiderando sua proposta e percebi que não tinha nada melhor para fazer hoje. - apesar de suas palavras, não há qualquer indício de desdém na voz que sai pelo auto-falante. 

   - E você achou que eu estaria disponível? - brinco. 

   - Ainda arrisco dizer que acertei.

   - Talvez. - sorrio de leve, ainda aliviada por poder me agarrar à uma pontinha de meu orgulho enquanto ouço ela dizer exatamente o que desejava ouvir.

   - Nesse caso, te busco às sete. - ela nem sequer questiona se o horário é conveniente, mas eu não me importava, pois se tornou a hora perfeita no segundo em que ela estabeleceu. - Karla. - Ela pronuncia meu primeiro nome lentamente, o maldito primeiro nome que me fez o ato de muda-lo tornar-se uma prioridade da lista de "coisas para fazer aos 18 anos" de uma Camila aos 12 anos de idade.

   Bufo em sinal de desagrado com relação à pronuncia de "karla", mas concordo com a escolha do horário. No segundo seguinte, Lauren já havia encerrado a ligação.

   Era sempre assim, raramente nos despedíamos por telefone. Acho que temíamos o medonho destinos de pessoas que trocavam saliva por um período mais longo do que um mês: As despedidas melosas.

   De certa forma, a ausência de uma adeus ou algo do tipo me agradava, pois significava que eu a veria em breve. O que já fazia com que as pequenas criaturas em meu estômago, popularmente conhecidas como borboletas, dessem ligeiros saltos de tempos em tempos.

   Inicio meu caminho de volta para a mesa, porém, antes que atinja meu destino, recebo uma mensagem de Lauren. Três simples palavras:

   Use algo curto.

   Um sorriso inevitável surge em meus lábios, tento imaginar que planos envolviam um vestido curto. Todos os caminhos que minha mente tomava levavam à uma só conclusão - contato físico - que me parecia atrativa o suficiente.

Falling for youOnde histórias criam vida. Descubra agora