Coming To Terms

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 Camila's POV

Encostada em uma parede de uma ramificação pouco visível do corredor principal do prédio de matemática, pensava no quão boa eu estava ficando nisso. Aparentemente minha habilidade de aprender com facilidade as coisas também se aplicava à "arte de se esconder". E era exatamente isso que eu estava fazendo naquele momento, me esgueirando pelos corredores sorrateiramente, tentando não ser notada pelas pessoas, na verdade, por um pessoa em especial.

Meus olhos se fixam em Lauren Jauregui, que passa despreocupadamente pela área à minha frente. Não sei se o Universo estava tentando me punir, se karma realmente existia ou se minha mente estava pregando peças em mim. Eu tinha a estranha impressão de que a garota passara a frequentar os mesmos lugares que eu, ou ela sempre estava neles e eu simplesmente não notei? Não, eu teria percebido. Alem disso, ela não se encaixava naqueles corredores lotados de garotas com saias e sandálias de salto e um pequeno problema com o uso em excesso de maquiagem. Nem eu.

Fiquei apavorada e confusa depois do beijo, há pouco mais de duas semanas, mas prometi a mim mesma que não iria chorar e nem entrar em pânico. Milhares de pessoas dizem que já tiveram experiências lésbicas na faculdade, isso não significou que elas deixaram de ser... Elas mesmas. Eu decidi fazer a coisa mais sábia que poderia ser feita: me esconder de Lauren e fingir que nada aconteceu. Dinah prometeu que não contaria para ninguém, o que me deixou aliviada.

É claro que eu era capaz de lidar com toda essa situação, por fora. A verdade era que fingia não me importar com o que aconteceu, sem contar que havia omitido de minha melhor amiga a parte referente ao fato de que EU beijei Lauren, e que foi mais de um beijo e mais do que um beijo. Por dentro, eu estava apavorada com o que aconteceria, mesmo repetindo para mim mesma que apenas me deixei levar pelo momento, aquela energia entre nós duas... Não era real.

Parte de mim ficou chateada por, depois de tudo, depois de conversarmos por horas, depois de ter me beijado, ela simplesmente saiu. Não que o beijo tivesse sido algo mais, quer dizer, foi um beijo, independentemente do que significou, ela não tinha o direito de simplesmente fazer aquilo e sair como se não a afetasse de forma alguma. Eu esperava ao menos um pedido de desculpas.

Decido sair pela porta próxima ao almoxarifado assim que Lauren some do meu campo de visão, apresso meus passos desviando das pessoas que transitavam no sentido oposto. Checo por cima dos ombros, se não há ninguém atrás de mim. Não encontrando "perigo", finalmente alcanço o exterior.

Aliviada, ando tranquilamente com a intenção de dar a volta no prédio e seguir para o restaurante, onde encontraria Dinah. Porém, sinto um puxão em meu braço e ,em seguida, sou praticamente lançada em direção à parede. Ouch.

- Mas que... - Antes que pudesse concluir minha sentença, percebo quem foi o responsável por essas ações.

Os olhos verdes me encaravam vivos, exatamente como me lembrava deles na última vez em que olhei diretamente dentro daquelas íris. Um arrepio desce pela minha espinha, justamente quem estava tentando evitar com a maior cautela possível, estava bem na minha frente, à centímetros de mim.

- Fugindo de algo... Ou alguém? - Lauren arqueia as sobrancelhas e sorri de lado provocativamente.

Reparo que sua mão ainda aperta meu braço, ela segue meu olhar, porém não alivia o aperto, que surpreendentemente não era incômodo. A mesma corrente elétrica do beijo parece ser enviada por todo meu corpo a partir daquele ponto, por mais que meu subconsciente dissesse a mim mesma que isso não era real, que eu estava apenas confusa, a parte irracional estava fortemente tentada.

- Eu não... - "Eu não estava fugindo de ninguém" era o que queria dizer, mas por mais que formasse as mais estruturadas sentenças em minha mente, elas não eram capazes de concretizarem-se em meus lábios. Apenas sons interrompidos saíam da minha boca.

- Você não... - Ela ri de leve, entretida com a minha incapacidade de falar. Droga. - Algo está te incomodando?

Ela dá um passo em minha direção e depois outro. Minha respiração está pesada, e meu coração tamborila contra meu peito. Vamos Camila. Fala alguma coisa.

- De. Forma. Alguma. - Finalmente me pronuncio.

- Nesse caso... - Enquanto o sorriso provocativo retorna ao rosto de Lauren, ela se aproxima ainda mais. O tempo parece congelar enquanto meu subconsciente grita. Não Camila. Não. Não. Não.

Ela elimina lentamente os poucos centímetros que nos separam, e finalmente cola seus lábios nos meus. Meu coração bate ainda com maior intensidade.

Sinto cada partícula de mim agitar-se. Algo se revira em meu estômago, mas não é uma sensação desagradável. Apesar de meus olhos fechados, ainda consigo visualizar uma explosão de verde, mas não um verde qualquer. O verde dos olhos dela.

Karla Camila, o que exatamente você pensa que está fazendo? A voz em minha mente ganha espaço. E o beijo, a situação, ela, tudo parece errado. Essa não sou eu. Toma tudo de mim para que eu mova meus braços e afaste Lauren com urgência.

Seus olhos se abrem subitamente. Espera, ela estava de olhos fechados? Isso é algo bom, certo? Antes que perca o controle novamente, percebo que ela se recupera rapidamente, assumindo a postura usual, parecendo entretida com a minha reação.

- Isso não é certo. - Forço as palavras à saírem enquanto me recupero. - Você está apenas me confundindo.

Uma risada melódica escapa da bora de Lauren.

- Oh! Desculpe senhorita perfeita, não achei que essa aberração iria te afetar de alguma forma. Por que é isso que eu sou, certo? - Algo em seu tom me faz estremecer.

- Do que você está falando? - Minha mente processa sua atitude mais devagar do que desejaria.

- Aquela noite, no corredor, eu ouvi o que você disse à sua amiga. - Os pontos parecem conectar-se imediatamente enquanto as íris de Lauren parecem faiscar com algo semelhante a puro ódio.

Ela cospe as palavras, como se tivesse nojo de tudo que estivesse ligado à minha pessoa. Permaneço incapaz de argumentar, por mais que o que quer que eu tivesse dito havia sido por impulso, certamente era errado. Abro e fecho minha boca.

Quando foi que eu me tornei tão estúpida, tudo que toco parece desmoronar. Meus olhos se enchem de água, olho para baixo e tento contê-las. Não, tudo que eu havia feito era lamentar tudo de errado que fazia, mas sem nunca mudar nada. E essa era a razão pela qual as coisas estavam caindo aos pedaços.

Tento dizer algo, falho. Solto um grunhido em sinal de frustração.

- É isso então? Você vai simplesmente ficar calada? Chorar? Ouvi dizer que você faz isso com frequência.

Olho-a finalmente, mas não me movo. Finalmente sinto as gotas descerem por minhas bochechas. Lauren ri sarcasticamente.

- Me encontre sábado na The Knitting Factory se você finalmente tiver coragem de falar. - Ela diz rudemente em simplesmente sai.

Permaneço estática, observando enquanto a morena se afasta. Eu estava decidida, não iria até aquela casa de shows, deixaria as coisas como estavam. Era hora de seguir em frente. Já havia visto isso em milhares de filmes e lido em milhares de livros, só havia um jeito de lidar com situações como aquela... Mesmo que eu não soubesse exatamente que situação era aquela.

Tinha quase certeza de que Dinah havia dito algo sobre um amigo de seu "namorado" que queria me conhecer.


Falling for youOnde histórias criam vida. Descubra agora