The Unspoken

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               Camila's POV

Não tenho certeza do que exatamente me despertou, mas a dor lancinante em minha cabeça me obriga a permanecer de olhos fechados, evitando realizar qualquer movimento brusco. Objetivo no qual falho assim que o gosto amargo sobe pela minha garganta e tenho que me apressar em direção ao banheiro. Agradeço mentalmente a quem quer que seja o responsável pela existência de banheiros nos quartos ao invés do tradicionais banheiros comunitários. Porém, meu privilégio de estar em um local com a devida privacidade não impede que a situação seja embaraçosa, consigo sentir os olhos de Dinah em minhas costas, e não preciso deixar de encarar minha própria bagunça para perceber que ela possui aquele olhar de "isso é culpa sua".

  A dor latejante e o gosto desagradável não contribuíram para que meu mau humor matinal de costume fosse amenizado. Os olhos da minha melhor amiga pareciam firmes enquanto escovava os dentes, estava inclinada a fazer um comentário rude sobre como a responsabilidade não era minha, já que não saí drogando meus amigos. Mas antes que pudesse dar vida aos meus pensamentos, Dinah se manifesta:

  - Precisamos conversar. - Pode ter certeza de que precisamos, começando com um pequeno dialogo sobre confiança.

  - Uh. - É tudo o que digo com a boca cheia de espuma.

  Enquanto termino, Dinah pega uma aspirina e água e coloca em cima da pia do banheiro de forma nada delicada. Tomo como se minha vida dependesse daquele líquido.

  Parece que tive uma leve mudança de opinião com relação a beber nas últimas horas. "Nunca mais vou beber novamente." O pensamento se repetia juntamente com a dor latejante na cabeça. Senhoras e senhores Karla Camila estava tendo a sua primeira ressaca, ela era acompanhada por arrependimento de dançar na frentes de todos como uma stripper. Agora a que vos fala deveria enfrentar as consequências.

  - Olha, eu... - Definitivamente falar tornava tudo ainda mais intenso e incômodo. Faço uma careta expressando a dor. - Eu sei que o que eu fiz foi infantil, mas nada disso teria acontecido se você não tivesse me drogado. - Encaro meus dedões dos pés, sem coragem para olhar nos olhos de DJ enquanto a acuso.

  - Eu sei, desculpe. Mas eu não pensei que fosse... - ela levanta o tom após o pedido.

  - Esse é o problema, você não pensou! - interrompo-a, agora focada em suas íris. Minha cabeça doi ainda mais. Acho que gritar não foi uma boa ideia.

  - Eu so queria que você se divertisse um pouco. - Dinah é substituída pela voz de uma criança de cinco anos que pede doces aos pais.

  - Por que? Por que eu iria estragar a sua noite? - Uma vez Freud disse que enunciamos sem querer nossos desejos mais íntimos, eu não sei exatamente se ele se referia a uma situação como aquela, mas as atitudes de DJ tornaram aquilo uma espécie de objetivo para mim. - Acho que é melhor eu aprender a me divertir sem a sua ajuda.

  - Camila...

  Sem dizer mais uma palavra, pego meu casaco e minha bolsa e saio do quarto.

  No campus, em direção à cafeteria mais próxima, percebo que sair dos dormitórios não foi minha melhor escolha. A área estava cheia de jovens apesar da não ocorrência de aulas, e as calças de pijama chamavam mais atenção do que o esperado. Ou talvez não fosse só meu vestuário, eu deveria saber que fazer lap dance não é o tipo de coisa que se coloca no currículo acadêmico.

  - Me escolhe da próxima vez! - Um garoto loiro grita e ri com seus amigos. Ótimo, em menos de um mês de aulas eu já possuía uma reputação, e ela não era nada positiva.

  Pisco por um período prolongado de tempo na esperança de que quando abrir os olhos o pátio esteja vazio, e a noite passada tenha sido um sonho. Mas nada é tão fácil quanto parece.

Falling for youOnde histórias criam vida. Descubra agora