Sai do HC com o corpo em espasmos. Fiquei firme diante de Poly, tentando mostrar a ela que aquilo não era um bicho de sete cabeças e que nós iríamos dar um jeito nisso, mas sinceramente eu não acredito em nada que eu falei e tentei mostrar.
Sentei no banco da praça, em frente ao hospital e não consegui conter o choro que explodiu da minha garganta. Não pensei no ridículo que eu com certeza estava me expondo chorando daquele jeito em público, eu só pensava no sorriso da minha amiga que provavelmente em alguns meses não existirá mais.
Se existe mesmo um Deus, porque ele permite que coisas assim aconteçam? Por que pessoas más como Lorena Max Field, continuavam com sua saúde de ferro e pessoas boas como Poly, desfalecia em camas de hospitais? Aquilo não entrava na minha cabeça.
Poly nunca fez mal a ninguém, era o tipo de pessoa otimista que enxergava o ponto positivo em tudo. Até mesmo doente como está é capaz de tentar fazer piada.
"Pense pelo lado positivo, Lara, você já viu como meu médico é gatinho?" Ela disse "Aposto que depois de vê-lo você ficou morrendo de inveja de mim", ela brincou. Ah Poly, você não sabe o que eu daria para estar em seu lugar, e não é por conta de um médico bonito não, se bem que o Doutor Carter é muito bonito mesmo, mas é apenas pelo fato de não aguentar vê-la daquele jeito. Apenas um fantasma do que já foi um dia.
Olho para o meu celular que vibra em meu bolso, tocando a música preferida da Poly. "I wish you were here" de Avril Lavigne. Uma sombra de um sorriso aparece em meu rosto quando ouço a música, mas desaparece imediatamente quando vejo o nome na tela.
_ Senhora Max Field? _ Atendo, tentando controlar a voz de choro e principalmente a irritação.
_ Onde você está Lara? Eu chego em casa mais cedo e percebo que minha empregada que com certeza deveria estar arrumando os quartos a essa hora, não está! Posso saber onde a senhorita se encontra no seu horário de trabalho?
Afasto o telefone do ouvido,solto um xingamento e respiro fundo mais uma vez em busca de um pouco de controle, sinto como se pudesse matar um exército hoje.
_ Minha amiga acabou de ser diagnosticada com câncer, eu vim visitá-la no hospital, avisei a Graça. _ Falei com um falso respeito.
_ Ah então é a Graça que paga seu salário para que vá dar satisfações a ela? _ Vaca!
_ Não senhora, mas como a governanta é a responsável pelos funcionários, em sua ausência achei que deveria me dirigir a ela, em vez de incomodá-la com questões supérfluas.
_ Venha imediatamente para cá, tem vinte minutos ou esqueça que tem emprego. _ Ela grita, já completamente sem paciência. Ela odeia quando eu dou explicações validas sobre meus "erros".
Pego minha bolsa que estava jogada na grama, e coloco o celular dentro, enquanto caminho até o ponto de ônibus. Essa droga de vida não me permite sequer ver minha amiga à beira da morte sem que a bruxa venha me importunar?
O ônibus lotado, nem me irrita mais, por mais que eu odeie o cheiro podre que vem da axila do homem atrás de mim, a raiva da droga do destino ocupa mais os meus sentidos. Assim que chego na mansão, olho no relógio surpresa ao ver que cheguei em vinte e dois minutos. Mas claro que os dois minutos a mais do que o ordenado, implicaram uma bronca daquelas!
_ Lindo, Dona Lara, de novo desobedecendo a ordens, gostaria de saber que espécie de 'moral' a senhorita acha que tem nessa casa. _ Ela me aborda assim que abro a porta da mansão.
Pietro seu filho mais velho está sentado na sala, mexendo no celular de cabeça baixa, ele é único que geralmente me tira dessas, mas pelo visto, hoje o dia não é para mim, pois ele nem se quer levanta o olhar.