Capítulo 6

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Era um dia de terça-feira, fria, comparada aos dias de inverno aqui no Nordeste que quase não se sente frio. Liza, Luiza e Hannah tinham faltado. A professora de história iniciava um assunto novo, de nossa escolha – ou como eu poderia dizer, ela dava três assuntos e a democracia dos votos escolhia qual seria – como sempre fazia uma vez por mês. Ela propôs uma aula da origem do fogo, origem dos primeiros textos e sua evolução, e por final, sociedade medieval. Durante a votação, a origem do fogo teve praticamente mais de vinte votos de trinta e cinco. A aula estava interessante demais para pestanejar. Rose – a professora – desenvolvia um conceito muito bom, quase inquestionável. Ela prendia minha atenção de tal modo, que me sentia na obrigação de faze-la me notar em suas aulas.

-Duas pedras, e alguns gravetos secos, e assim surgiu o fogo. O resultado do atrito entre as rochas produzia faíscas... – dizia Rose com entusiasmo quando decidi parar de dar atenção.

Eu sempre tive várias ideias bizarras mas, acabara de pensar em animar aula do meu jeito. "Já que a aula é sobre fogo, que tal eu mesma fazer fogo à moda dos primeiros homens?" Pensei e concordei com meus pensamentos, mas, tinha um problema no meu esquema brilhante. Eu não podia dar conta dessa engenhoca sozinha, muito menos quando eu iria fazer na frente da sala toda.

-Rayele... – sussurrei para que ela pudesse me ouvir.

O sussurro foi sem sucesso, ela estava vidrada em Rose e suas explicações fantásticas... Ops! "Eu também estava." Lembrei a mim mesma. Ela estava sentada na fila a minha direita, uma banca a frente da minha. Joguei um lápis no chão, mais ou menos perto de sua banca. Essa é uma ótima desculpa para se levantar sem chamar atenção. Realmente, ninguém notou minha agitação. Me aproximei dela.

-Que tal fazer fogo? – perguntei.

-Fogo?

-Sim

-Como vai fazer?

-Não sei, mas podemos pegar duas pedras lá fora. – disse tentando conter minha animação em dar vida ao plano.

-Sendo sincera, acho que pedras não vão fazer efeito algum. Primeiro: não temos prática. Segundo: quem garante que foi assim mesmo? – falou. – Mas, se quiser, podemos fazer uma pequena alteração no roteiro.

-Eu saio da sala primeiro. – eu disse já de pé.

Pedi permissão para sair de sala – claro que ela deixou sem hesitar, não fazia diferença para ela entre ter alunos na sala ou não. Fui atrás da biblioteca e peguei duas pedras. Rayele provavelmente já estava convencendo Rose a permitir que tentássemos produzir o fogo, até que ela permitiu. Fiquei sabendo disso quando recebi uma mensagem no celular. Voltei para a sala com duas pedras médias na mão. Rose se sentou, passou perfume. A sala deixou de cheirar a livros, e passou a ter um cheiro doce. Comecei a esfregar as pedras e nada aconteceu, passei as pedras para Rayele que também não teve sucesso. Um tédio me dominou pelo fracasso, e por ver Rose e algumas pessoas se deliciarem em risos. Pedi novamente para sair da sala – só que dessa vez estava furiosa, não só pelo riso da professora, mas por não conseguir impressionar. Um pouquinho de orgulho, confesso. Corri até a sala de Kaio e Rick. Sabia o que estava procurando, com certeza algo que produzisse fogo. Da janela da sala deles, acenei para Kaio, que estava mais próximo. Ele saiu da sala o mais breve que pôde, assustado com minha expressão.

-O que você tem? – perguntou me abraçando, como se algo realmente importante tivesse acontecido.

-A professora riu de mim, e preciso de uma fonte de fogo. – falei com raiva.

Ele não entendeu. Tentei explicar. Cada vez que eu tentava explicar, mais raiva sentia. Quando começou a entender, sua expressão passou de preocupado para neutra.

Tempos ConfusosOnde histórias criam vida. Descubra agora