Capítulo 4

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Assim que tocou para o início das duas aulas que restavam, combinamos que Rick voltaria para a sala para justificar a ausência de Kaio estava com Hannah na enfermaria, e que Rayele e Luiza fariam a mesma coisa para justificar a falta de Liza, Hannah e a minha.

Voltamos para o corredor 3 onde ficava a enfermaria. Kaio estava lá com a enfermeira, ao lado de Hannah ainda desmaiada e com um saco de gelo na cabeça. Liza e eu ficamos do lado de fora esperando alguma reação de Hannah ou sei lá o que. Kaio, disfarçadamente pegou a mão dela, e falou alguma coisa que não consegui decifrar, mas vi exatamente o que tinha acontecido – Kaio tinha pego a mão de Hannah, e provavelmente pedido desculpas. A enfermeira saiu da sala e veio conversar com a gente, deixando sozinho os dois lá dentro.

-Sua amiga já acorda. – disse a enfermeira.

O nome dela era Lúcia. Era bem jovem e simpática. O cabelo preto estava preso em um rabo de cavalo, seus olhos brincavam de "quem brilha mais? O olho esquerdo ou o direito?"

-Sim, ela é forte. – Liza falou. Caímos na gargalhada, sabíamos que ela não era, tinha desmaiado com uma bolada!

Okay! A bolada foi forte.

-Bem, tenho que entregar isso aqui ao diretor. – balançou as folhas que segurava com a mão direita. Fizemos uma cara feia à menção do diretor. – comportem e não fiquem andando pelos corredores. Volto logo. - piscou o olho como se estivesse em um complô.

Lúcia saiu do alcance de nossas vistas. Não havia câmeras nem pessoas no corredor. Entramos na sala. Hannah estava lá, vegetando em cima da cama. Kaio tinha soltado a sua mão.

-Ela teve alguma reação? – perguntei

-Não. Ela está assim desde que chegamos. – afirmou Kaio. Seus olhos verdes estavam sem brilho. – Tudo culpa minha.

-Realmente. Seu chute foi horrível. – ironizei.

-Estamos lá fora se precisar. Não é Laura? – Liza falou indiferente, como se eu tivesse falado alguma coisa muito errada.

-Certo. Estamos lá fora, qualquer coisa é só chamar. – falei enquanto saíamos da sala.

Passaram-se uns quase quinze minutos e nada da enfermeira chegar. Olhamos para onde Hannah estava deitada, estava acordando. Estava com a mão quase na fechadura da porta para entrar e saber como ela estava, mas Liza me puxou para longe.

-Você sabe que isso pode ser importante para ela. – seu sorriso esbanjava sabedoria.

-Está bem... - falei sem muito entusiasmo. - Mas... – Liza me olhou diretamente. – Esqueça.

Liza era madura demais para alguém de quinze anos. Ela sempre via as coisas de um ângulo diferente, sempre entendia as coisas primeiro que todos. Ficamos ali paradas, observando os dois através do vidro. Ele retornou a pegar a mão dela. Nos aproximamos mais do vidro. Kaio tinha esquecido que estávamos do lado de fora, e que havia um enorme vidro transparente que dava para ver o que acontecia lá dentro.

-Ai minha cabeça. Onde é que estou? – disse Hannah, como alguém que acaba de acordar de uma ressaca.

-Está tudo bem, eu estou aqui... – disse Kaio se aproximando dela.

Ele se aproximou tanto dela, que apenas alguns olhares foram trocados naquele momento. Liza estava atenta aos dois. Estavam quase, quase se beijando quando vi a enfermeira surgindo no final corredor.

-Entra logo nessa sala! Olha quem está chegando. Não! Não olha. Entra! – empurrei a porta.

Abri a porta com violência, os dois se assustaram e pararam de quase se beijar. Eu apenas ri com aquilo. Confesso, foi engraçado ver a cara dos dois. Kaio ficou com as bochechas rosadas e Hannah nem se fala, parecia um tomate de tão vermelha que ficou - como se não bastasse o cabelo de fogo.

-Separa. A enfermeira está chegando. – falei tentando parecer séria.

Liza entrou logo atrás com a enfermeira. Kaio não sabia exatamente como reagir diante do que aconteceu. Ele observava Liza e eu se preparar para assumir a tempestade de perguntas que estava prestes a começar.

-Olha só, está acordada. Está melhor? – Lúcia se dirigiu a Hannah.

-Ah, estou com dor de cabeça. – respondeu. Soou engraçado, claro que estava doendo.

-Ela acabou de acordar. – disse Liza.

-Sim, se vocês quiserem voltar para a sala... – dizia Lúcia.

-Não. Quer dizer, a gente quer ficar aqui com ela aqui. – Kaio a interrompeu. Olhou para mim e Liza, e completou. – Não é meninas?

-Claro. Só que preciso ir no banheiro rapidinho. – falei.

-Okay. Vão e voltem logo, porque se a coordenadora pegar vocês, não vou poder fazer nada.

-A gente vai ter cuidado. – afirmou Liza.

Hannah nos olhava como sempre fazia quando queria falar alguma novidade. Ela sabia que não era uma boa hora. Sorriu como se acabasse de ganhar na loteria.

-Voltamos logo. – disse Kaio.

Saímos juntos pelo corredor, todos calados. Eu estava inquieta com a ausência de nossas falas em meio a tanto barulho vindo das salas do sexto e sétimo ano (salas onde nenhum professor consegue dar aula por causa do barulho).

-Eu vi tudo. – falei com urgência.

Ele deu uma rápida diminuída nos passos, certamente procurando uma resposta para explicar o que havia acontecido minutos antes na enfermaria.

-Tudo... tipo... tudo mesmo? – falou retomando o ritmo de seus passos longos e rápidos.

-Sim. Desde que você pegou a mão dela até o suposto beijo interrompido. – Liza disse.

Ele começou a ficar vermelho e sem jeito, até mesmo na forma de andar.

-Não falem pra ninguém o que aconteceu aqui. Certo? – pediu.

-Por que não quer que ninguém... – me interrompi porque a cada palavra que eu falava ele ficava mais constrangido.

Tempos ConfusosOnde histórias criam vida. Descubra agora