Capítulo 12

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 ''Querida Jessie, para estares a ler este testamento é porque já não estou no mundo, lamento imenso querida, espero que estejas a lidar bem com a situação. Sei que sofreste muito com a partida do teu irmão, quero que saibas em primeiro lugar que eu sempre tive muito orgulho em ti, foste a minha ponte de abrigo, quando mais precisei, queria pedir desculpas se nunca fui uma mãe que tu tenhas confidenciado os teus maiores segredos, adoraria tê-los ouvido a todos, tenho a certeza que iria dar os meus melhores argumentos e conselhos minha querida. Sei que nunca perdoaste-me por te ter tirado de Blankenburg, mas não tivemos outra escolha na época, tínhamos uma divida muito grande com os proprietários dos terrenos, e o nosso maior desgosto era abdicarmos da quinta por não ter dinheiro, então viemos para Berlim, conseguimos libertarmos das dívidas e a quinta agora está no teu nome, acho que vais ser uma óptima proprietária, aquele sempre será o teu lar, e quando tiveres filhos quero que mostres a quinta a todos eles, tenho a certeza que vão adorar, tal como tu e o John adoravam. Para além de ter-te deixado a quinta, deixei-te uma chave, ela abre a parede do teu irmão. Acho que sempre esperas-te por essa chave e agora podes concluir as tuas suspeitas, gostava que voltasses a Blankenburg e descobrisses os mistérios do teu irmão. Não tenho muito mais a dizer, espero que tenha sido generosa, não pude deixar muito mais, também não possuía mais para te dar. Sempre estarei contigo minha querida. Amo-te.''

O testamento de Anne, deixou Jessie comovida, ficou contente por saber dos motivos que a levara a tirar a filha de Bonecrek e agora compreendia perfeitamente a decisão dos pais, se tivesse no lugar deles, provavelmente teria pensado da mesma maneira, tinha pena de nunca ter perdoado o sei pai por a ter tirado de Bonecrek e agora sentia-se arrependida por isso. O que mais a surpreendeu foi quando a mãe escreveu '' deixei-te uma chave, ela abre a parede do teu irmão. Acho que sempre esperas-te por essa chave e agora podes concluir as tuas suspeitas'' se Anne sempre soube que a filha andava atrás do tal tesouro, como nunca disse nada? Aliás, por vezes parecia que nem suspeitava de tal coisa! Como sabia que ela tinha descoberto a parede falsa no quarto de John? Essas perguntas nunca iriam ser respondias, pois só podiam ser pela sua mãe e agora já não era possível.

Jessie pegou na chave e guardou junto do medalhão que John lhe deu quando era mais nova, sabia que ali nunca se esqueceria dela.

***

Jessie estava sentada à mesa, no restaurante Vila-alegre, era um local onde ia frequentemente e adorava particularmente as bandas que tocavam lá ao vivo. Tinha escolhido o sítio para almoçar com Jim, supostamente aquilo mais parecia um encontro entre os dois, mas ela estava constantemente a eliminar essa hipótese da sua cabeça. ''Somos apenas amigos, mais nada'' dizia essa frase vezes sem conta, enquanto esperava que Jim chegasse. No restaurante, o empregado de mesa, serviu um copo de vinho a Jessie, estava calor, estava com o cabelo preso, tinha uma camisola branca e calções de ganga. Estava vestida com roupas de verão, simples, mas não deixava de estar charmosa.

Lá estava ele, Jim tinha chegado ao restaurante, tinha uma blusa justa ao peito, era vermelha e tinha uma estampa de xadrez, Jessie apreciava o homem, aquela blusa ficava-lhe muito bem. Jim cumprimentou Jessie com dois beijos na cara, achou-a muito descontraída e contente. Fez sinal para o empregado de mesa serviu-lhe vinho.

- Hoje estás com muito boa cara. – Comentou com um sorriso. – O Milton deve ter sido um cavalheiro para ti ontem a noite. – Fez um sorriso irónico.

- Milton? – Perguntou, sem saber ao quê que Jim se estava a referir. – Nada disso, ontem li o testamento da minha mãe.

Jim viu a felicidade no olhar dela. – Então o que dizia? – Perguntou curioso.

Jessie não respondeu logo, hesitou um pouco antes. – Ela deixou-me a quinta de Blankenburg ...

- E tanta felicidade só por causa disso? – Disse um pouco confuso.

- Deixou-me também uma coisa, que nós sempre andamos á procura.

– Nós? Uma coisa? - Estava muito confuso agora.

- Digamos que é uma coisa que nos vai levar ao que sempre andamos à procura.

- Estás a falar do tesouro do William e do John? – Sussurrou, espantado.

- Sim, lembras-te de quando falei de uma parede falsa no quarto do John?

Jim não mostrava lembrar-se de tal coisas, mas começou a pensar, parede falsa no quarto do John? Demorou, mas chegou lá. - Sim claro que lembro. – Disse, mas não estava a perceber onde ela queria chegar.

Os dois foram interrompidos pelo empregado de mesa que servia o almoço. Iam comer camarões fritos, o homem serviu novamente os dois copos de vinho tinto, rodou sobre os calcanhares e foi-se embora.

- Não me perguntes como nem quando, mas de alguma forma, a minha mãe sabia o que andávamos à procura, deixou-me uma chave que abre a parede falsa do quarto do John, e pediu para que voltasse a Bonecrek e descobrisse o que tanto queria.

- Isso é simplesmente fantástico! – Disse com um tom de voz alto, fazendo com que as outras pessoas do restaurante olhassem para eles.

Ficaram durante duas horas a falarem de tudo sobre o testamento, mais uma vez relembraram os momentos da infância, passaram um bom bocado, e estavam divertidos. Depois do restaurante foram passear junto da ribeira. O tempo estava a ficar estranho, o céu começava a ser tapado por nuvens negras que movimentavam-se de um lado para o outro cada vez com mais velocidade, as gotas começaram a cair sobre as cabeças de ambos. Nenhum deles pareceu importar-se com a chuva, as pessoas fugiam de um lado para o outro e aqueles dois continuavam a caminhar como se nada fosse.

Já chovia torrencialmente, e já estava a anoitecer, Jessie e Jim estavam debaixo da chuva, fugiam um do outro, como se estivessem a brincar á apanhada como duas crianças. Aquele momento estava a ser empolgante para ambos, a atracção estava cada vez maior, sentiam-se que pertenciam um ao outro.

Jim agarrou Jessie que estava a fugir dele, riam-se às gargalhadas, ainda não tinham reparado que estavam muito próximos um do outro, ela sentia o coração dele cada vez mais acelerado, estavam com os olhares cruzados e nenhum deles desviou o olhar desta vez, parecia que queriam que as coisas andassem entre eles. Jessie beijou o nariz de Jim, carinhosamente. A rua estava completamente deserta, as mãos de Jim, agarravam a cintura dela, apertando-a contra os seus abdominais, um momento muito esperado pelos dois, nunca tinham estado tão próximos como estavam naquele momento. Jim, desviou os seus lábios juntos da orelha esquerda de Jessie.

- Amo-te. – Sussurrou baixinho.

Jessie não respondeu, estava arrepiada, e quando ele pronunciou estas palavras, beijou-o com um beijo longo, um beijo que levou ambos á lua. Um beijo esperado desde os dezasseis anos, nenhum deles queria que o momento acabasse, os corpos estavam quentes e molhados, tinha sido o melhor beijo que os dois tinham levado. Sabiam que nunca tinham deixado de gostar um do outro, e aquele beijo só ajudou a explodirem os sentimentos de uma vez.

Jessie e Jim encontravam-se todos os dias, eram amantes, pois ambos tinham os seus relacionamentos. Não podiam ficar juntos agora, tinham que esperar e arranjar uma maneira de não magoarem ninguém, mas por mais que disfarçassem, davam nas vistas, os sentimentos eram demasiado fortes para serem escondidos, E só uma pessoa que não pensa como deve de ser é que não percebia o que havia entre eles. Aliás qualquer um via isso!

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Estarei sempre contigoOnde histórias criam vida. Descubra agora