O celeiro continuava com palha, ainda cheirava a cavalo, a parte onde Mendyi costumava estar estava vazia, tal como as outras todas, mas aquele lugar fez-lhe sentir saudades do seu animal. Por vezes parecia que sentia a presença de Mendyi ali, que conseguia cheirar o seu odor, que ouvia os barulhos que a égua costumava fazer, mas não passava de imaginação e recordações da sua mente.
Tentava arrastar a palha com um pé para o canto, servia para facilitar a passagem ali pelo estábulo. Parou quando deu um pontapé a uma coisa dura, tinha dado um pontapé a um diário, era o diário dela. Tinha-o perdido há muito tempo e nem queria acreditar que o tinha encontrado. Sentou-se num monte de palha e começou a ler as primeiras páginas do diário.
''Querido diário, hoje senti a presença de John no meu quarto, e quando olhei para a janela, estava uma estrela muito brilhante lá em cima, o meu irmão veio ver-me''
Nem queria acreditar no que estava a ler, ria-se sozinha com as coisas que tinha escrito, como eram coisas importantes na época e agora já nem se lembrava que tinha escrito tal coisa.
''Hoje conheci um rapaz que se chama Jim Hunts, ele é lindo e vamos encontrar o tesouro do John e do irmão dele.''
Tinha escrito até quando conheceu Jim, deixando-a triste e fê-la relembrar dos últimos momentos da vida dela, mas esses pensamentos foram interrompidos por um barulho na porta do celeiro. Parecia que alguém estava a bater à porta, mas não imaginava quem poderia ser, ninguém sabia do regresso dela à quinta.
- Boas tardes! – Saudou um homem.
O homem era alto, jovem e bonito, a cara dele era lhe familiar, mas não conseguia lembrar-se quem poderia ser. – Boa tarde – Cumprimentou.
- Jessie, és tu? - O homem perguntava com espanto.
Jessie ficou surpresa por o sujeito saber o nome dela, e certamente conheciam-se um ao outro, mas ela não estava mesmo a lembrar-se quem era. Olhou bem para ele, mostrando um ar confuso.
- Desculpe, eu não estou a ver mesmo quem é o senhor – confessou um pouco constrangida.
- Ah, sou o Richard, lembras-te?
- Ah Richard – levantou-se. – É claro que sim, estás diferente.
- Tu também, não sabia que tinhas voltado a Blankenburg, mas na cidade não se fala de outra coisa.
- Estou a ver que as notícias correm rápido – concluiu.
- Sabes como é, cidade pequena é quase a mesma coisa que o rádio, ainda por cima, quando se trata de uma mulher tão linda como tu. – Riram-se os dois.
- Então, porque é que voltas-te? – Perguntou curiosamente.
- Vim ver como estava o estado desta quinta, já não vinha aqui há imenso tempo.
- Pelos vistos continua a quinta atraente, pelo menos para mim. – Confessou. Jessie ficou admirada pela resposta.
Os dois ficaram horas a conversar no celeiro, relembraram os momentos de quando andavam na escola e Jessie contou-lhe o quando odiava Richard no passado, no fim os dois só se riam às gargalhadas, passaram uma bela tarde, e Richard estava muito diferente, Jessie gostava do novo Richard que conhecera e ficou contente por reencontra-lo.
- Bem, nem vi pelo tempo passar. – Olhou para o relógio e ficou surpreendido ao ver as horas. – Acho que tenho que ir andando.
- Foi um prazer em voltar a ver-te e gostei muito deste bocadinho de conversa contigo. – Agradeceu.
Richard agora trabalhava numa das fábricas de Malchow, era contabilista e recebia muito bem, era um homem de família mas estava divorciado. Era pai de dois filhos, uma rapariga e um rapaz mais novo. Era um homem simpático e tinha adorado conversar com ele.
***
Jessie estava deitada na sua cama antiga, não conseguia dormir, sentia-se muito sozinha naquela casa cheia de memórias. Não se sentia muito segura lá dentro, parecia que vivia entre espíritos e sentia algum medo em relação a isso, dava voltas na cama, ora virava para a esquerda, ora virava para a direita... estava aborrecida e tinha muito calor. Levantou-se da cama e começou a atravessar o escuro do quarto de um lado para o outro, nada! O sono não aparecia. Calçou os chinelos e foi até a sua mala, retirou lá de dentro a chave que a sua mãe lhe dera e foi até ao quarto de John.
Tentava recordar-se onde era a parede falsa, já tinha-se passado muitos anos e ela não se lembrava. Até que encontrou o som opaco que ouvia ao bater em todo o lado. Sentiu o coração a bater forte, espera por aquele momento há muito tempo e finalmente ia descobrir o que o irmão escondia.
Rasgou o papel de parede e tirou o pó com as mãos, a fechadura estava um pouco enferrujada e ela tinha receios que a chave não entrasse, mas não foi isso que aconteceu, a chave entrou perfeitamente na fechadura e ao girar a parede abriu como se fosse uma porta, lá dentro estava escuro, então Jessie foi buscar uma lanterna que tinha na sua mala dentro do outro quarto, quando regressou apontou a luz e viu um corredor enorme a sua frente, lá dentro tudo fazia eco, até mesmo a respiração dela, não estava a acreditar, aquilo era... uma passagem secreta!? Certamente iria dar a algum sítio, só não sabia onde, mas para esconderem tanto tempo isto é porque vai dar a um sítio qualquer. Jessie entrou pela passagem e começou a seguir o caminho para ver onde a levava, estava muito escuro lá em baixo e nem a lanterna já servia para conseguir ver alguma coisa, então resolveu voltar trás e continuar no dia seguinte com alguma claridade. Jessie saiu da passagem e trancou-a muito bem. Foi para o seu quarto e começou a pensar sobre tudo isto.
- Uma passagem secreta? – Perguntava.
Não havia resposta, achava estranho nunca ter descoberto que aquilo era uma passagem secreta, tinha que saber onde iria parar. Naquele momento sentia vontade de ligar a Jim e contar o que tinha acontecido, mas não tinha coragem de o fazer, sentia-se triste, afinal aquilo era uma descoberta dos dois, e ele ia ficar muito contente e empolgado com a descoberta. Sabia que Jim estava em Blankenburg mas não o encontrou nenhum dia.
Lá fora, os sapos faziam barulho a saltar de um nenúfar para o outro, os grilos e as cigarras cantavam e os mochos voavam de um lado para o outro. Ouvia-se o rio a desaguar e ouvia o vento bater contra a janela. Sentia-se perfeitamente em casa, e no campo, o silêncio reinava toda a vila. Ela já estava habituada a ouvir buzinas, carros, gritos, pessoas a andarem de um lado para o outro... era tudo muito diferente daquele lugar, ali era o seu paraíso, aliás o paraíso para qualquer pessoa. Sentia que estava de volta a Blankenburg.
***
- Jessie estás em casa? – Gritou Jim lá de baixo.
Jessie foi a correr para o andar de baixo e saltou para os braços de Jim, dando-lhe um beijo prolongado na boca.
- Amo-te mais que nunca! – Disse Jim para Jessie.
- Eu também te amo Jim. – Deu-lhe mais um beijo.
Jessie acordou durante o beijo, estava transpirada e sorria sem saber porquê, não queria ter acordado, era um sonho lindo, e de certo modo era a única maneira de matar as saudades de Jim, realmente aquilo não passava de um simples sonho, coisas da cabeça dela. Voltou a deitar a cabeça na almofada e adormeceu até ao dia clarear.
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Estarei sempre contigo
RomanceEstarei sempre contigo é um romance trágico, que estimula vários sentimentos. Jessie Lins é vítima de um grande amor que inicialmente parece ser um conto de fadas, mas que acaba por ser atormentado por memórias do passado. A personagem terá que apr...