Prologo - As Lágrimas da Morte: Parte 1

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O som das espadas ressoava pelo campo de batalha se misturando aos gritos de milhares de guerreiros que lutavam por terras valiosas sob seus pés. O sangue jorrava de cicatrizes formadas onde a arma perfurava um guerreiro do reino adversário.

Milhares de pessoas batalhavam. Muitas delas com espadas, outros com machados e diversos com flechas. Alguns subiam aos animais e outros os matavam para assassinar seu oponente após despencar dos cavalos.

Era um verdadeiro extermínio, pessoas ofegavam com o suor lhe correndo o rosto e a espada coberta por sangue empunhada em sua mão. Muitos cavaleiros ainda agonizavam esperando seus últimos suspiros sessarem enquanto o sangue quente escorregava para fora de muitos lugares de seus corpos.

A guerra consumia extremamente ambos os lados dos reinos e de todo o continente. Vilas sulistas estavam em estado de alerta por causa de saqueadores e ladrões. Cidades sofriam com a falta de alimentos e os grandes reinos temiam que a guerra chegasse a eles.

Algumas gotas d’água começaram a cair de um céu obscuro, tão negro quanto a batalha travada no imenso vale, conhecido como Terra Dourada, que se encontrava nas províncias da Floresta das Sombras.

A guerra já durava três longos dias. Muitos guerreiros estavam exaustos, mas sua força de vontade era ainda maior. Todos queriam ganhar, mas apenas um reino poderia ficar com as terras valiosas. E isso lhes custaria um preço muito caro a pagar. Milhares de homens já haviam morrido por consequência da guerra de Mirar e Cura Tam.

Passaram-se mais um dia de intensa tormenta e sangue. Os corpos mutilados de homens e cavalos se misturavam ao sangue e a lama. Era uma visão horrível. Em um alto morro, uma tenda guardava o rei de Mirar e seu filho e mais dois escudeiros. Do lado de fora, quatro homens guarneciam a tenda para a segurança do rei e do príncipe.

Uma lareira havia sido acesa dentro da tenda. O frio não conseguia penetrar os grossos panos da barraca, acabando por deixá-los confortáveis e aconchegantes num clima quente.

O rei levantou-se e saiu do lugar, tendo seu rosco cortado pelo vento gélido quando desdobrou uma grossa parte do pano. Tentou respirar fundo e passou para fora da barraca. Assim que deu quatro passos para fora da tenda, seu filho o seguiu. Um jovem de aparência um tanto feia, assim como o pai.

- Por que tantos devem morrer? – perguntou Rennon, o príncipe de Mirar.

- Porque é o único modo de ficarmos ricos – respondeu o rei Bornsten.

- Mas por que temos que ficar ricos pela desgraça dos outros? Milhões já morreram nessa guerra pai – o jovem estava quase suplicando para que o rei terminasse de uma vez por todas essa batalha – E milhões ainda vão morrer.

A chuva começara a retornar com o vento. As gotas começavam a cair sobre o rosto dos dois, como pequenas facas finas e geladas perfurando sua pele.

- Um dia você vai entender – respondeu o homem – Um dia, você saberá que o ouro é que move o mundo. O ouro é que move nosso reino. Não é a fé em seus deuses e nem o amor. Os contos lhe diziam coisas ilusórias sobre nosso mundo. Não há glória em guerras e em batalhas. Você deve fazer o que é o certo. No nosso caso, o ouro é o que nos sustenta e devemos fazer de tudo para ganha-lo.

O garoto não queria acreditar naquilo. Não gostava da ideia de que o ouro era a coisa mais importante do mundo. Sabia que guerras deveriam ser travadas e todas as suas batalhas deveriam ser ganhas, mas massacrar milhares de homens para obter ouro? Isso é injustiça, pensou o jovem. Odiava a ideia de matar para ser rico. E odiava ainda mais a ideia de outras pessoas morrerem para que ele se tornasse rico.

O rei voltou a andar, indo para o campo de concentração para observar suas tropas, homens e animais.

Há três dias, quando chegaram ao vale, todo o local estava esverdeado e os raios de sol iluminavam o chão verde de uma grama sadia e fértil. Rennon não acreditava que uma paisagem poderia mudar tão drasticamente em menos de uma semana. As montanhas não eram tão majestosas quanto pareciam ser na primeira vez que o garoto as viu. Assim como a Floresta das Sombras; estava ainda mais tenebrosa quanto antes e mais obscura como jamais ninguém vira.

- Milorde – disse um homem com uma roupa de ferro ensanguentada. Ele fez uma reverência e continuou -, não temos homens para batalhar – o rei parou, indignado. Sem homens para batalhar?, repetiu em sua mente - E uma carta chegou de Mirar – continuou o homem -, do Senhor das Armas, em que dizia que não mandaria mais guerreiros para cá, pois não havia mais algum para lutar. Os poucos que restaram estão defendendo os muros de Mirar para que ninguém os destrua.

O rei tentou não acreditar no que tinha ouvido. Não posso perder essas terras para Magtheryones, pensou furioso, Meu reino precisa ser o maior do Sul. Já havia perdido regiões valiosas para o rei de Cura Tam, mas essa era a oportunidade de ele devastar de uma vez por todas a economia do reino e anunciar uma chegada de um dos mais ricos de Amperos: Mirar.

As Crônicas da Alvorada: O Estalar das ChamasOnde histórias criam vida. Descubra agora