Passaram-se pouco mais de oito minutos e então, as pessoas começaram a chegar a Floresta das Sombras. Conseguiram retardar o primeiro ataque, mas talvez não conseguissem combater em um segundo.
O rei foi o primeiro a chegar, e avistou seu filho de longe, ainda adormecido no colo da mulher.
- Meu rei – disse a mulher quando o homem se aproximou para acordar seu filho.
- Muitíssimo obrigado, Iylla. – respondeu ele, pegando seu filho do colo da mulher e acordando-o.
- Pai! – gritou o garoto, abraçando-o fortemente.
- Calma, está tudo bem. Nada vai acontecer a você. – dirigindo-se a mulher, perguntou: - Onde estão Ker Omon e Ker Towrin?
- Eles entraram floresta e até agora não retornaram.
- Não se preocupe Iylla, eles sabem se cuidar. – disse o rei quando viu que a mulher começara a se preocupar. Voltando-se para seus guerreiros, o rei ordenou que montassem barreiras para os arqueiros e que todos se preparassem rapidamente. Voltando-se para seu filho, pediu que continuasse com Iylla. A mulher concordou e recebeu o príncipe de braços abertos.
- Eu volto logo. Não se preocupe, vou ficar bem filho.
- Tudo bem – disse Rennon, apenas.
- Cuide bem dele para mim. – pediu o rei, humildemente, e a mulher concordou com a cabeça.
Bornsten começou a caminhar até a parte da frente dos guerreiros, que montavam altas barricadas para que tivessem mais chances de atacarem sem serem mortos. Enquanto que Iylla colocava o garoto no chão, segurando sua pequena mão com a mão direita e começando a ir para fora do lugar.
Os gritos do outro lado do morro começaram a chegar ao lado oposto. As chamas começavam a se intensificar e a luz ia ficando cada vez mais forte.
Ker Omon e Ker Towrin voltavam correndo desesperadamente da floresta, ambos retornaram sem nem uma das tochas que tinham ido. Estavam com a expressão de medo em suas faces, misturadas ao terror.
Corriam como se estivessem escapando de algo.
- Saia daqui! – ordenou Towrin à mulher, quando ela finalmente conseguiu vê-los – Rápido. Fujam todos! – ele deu um pequeno escorregão quando tentou se esquivar de uma árvore.
- Por quê? – gritou ela, querendo saber, eufórica. Apertou fortemente a mão molhada da criança, para garantir que não a tirassem dela.
- Eu vi... Eu os vi... Estão chegando! – disse ele apontado para a Floresta das Sombras, apontando para as árvores que se tornavam invisíveis na escuridão.
- Quem!? – Iylla começava a andar de costas, pegou o pequeno príncipe e o envolveu com seus braços.
- Eles! Os Andarilhos! Centenas ou milhares... Preciso avisar ao rei. – disse Ker Omon, andando em meio à lama e chuva.
A mulher começara a correr com o príncipe Rennon em seu colo, tentando fugir, enquanto que o rei Bornsten começava a ordenar o ataque:
- Equipar! – gritou ele, esperou alguns segundos – Apontar! – e após mais alguns segundos o silêncio foi quebrado ao seu lado quando ambos os homens chegaram ao lado do rei.
- Fujam! – gritou Ker Omon, sem fôlego – Fujam!
- Quê? Estamos em meio à guerra! O que houve com vocês? – quis saber o rei.
Neste momento, os gritos do outro lado dos morros cessaram. Lançando um clima dramático no lugar.
- Os Andarilhos, nós os vimos! – respondeu, quase sem ar, Ker Towrin.
Assim que os gigantes apareceram no horizonte dos morros, todos começaram a fugir para dentro da Floresta das Sombras. Mas já era tarde demais.
Uma onda de grandes bestas azuis transparentes de olhos brancos invadiu o campo de concentração, vindo de onde os inimigos do rei Bornsten já deveriam estar mortos. O rei tentou fugir, mas foi impedido quando se viu de frente para um desses monstros. Virou-se para correr, mas havia mais três para lhe barrarem a fuga. Estava encurralado, realmente não havia saída. Foi então que um dos gigantes sacou sua grande espada azul-acinzentada e decapitou o rei. Sua cabeça caiu e seu corpo começou a se tornar gelo, jazendo ali até quando o mesmo gigante o acertou novamente com a espada, quebrando-o em milhares de pedaços.
Seu pai havia morrido, mas o pequeno Rennon não se sentia diferente. Continuava nervoso. Não estava longe daquilo e não sabia o que estava acontecendo, diferentemente de Iylla.
A mulher o colocou no chão e então, abraçou-o e esconderam-se atrás de uma árvore relativamente grossa. Era possível ouvir a agoniação dos homens enquanto eram massacrados pelos gigantes através da queda das gotas de água.
Um corpo fora jogado perto de onde estavam, partindo-se em incontáveis partes de gelo. A mulher quase gritou, tampando a boca e olhos da criança para não ver nem gritar. Mas isso foi em vão. O chão começou a tremer com a chegada de duas bestas azuis. Uma dessas pegou a linda mulher pela cabeça e arremessou-a contra uma árvore que fora rachada com o impacto e a moça caindo morta, alguns metros depois.
Agora, o garoto de sete anos, sem pai e indefeso, estava solitário na clareira da Floresta das Sombras. Pelo canto de seu olho viu a mulher jogada no chão; coberta por lama e algumas folhas das árvores que o cercava. Era como tinha sonhado: imaginou que Iylla começava a quebrar e se dissolver em cinzas, assim como o cervo de sua fantasia, sendo a única coisa que o confortou por poucos minutos. Imaginou que as árvores caiam e se transformavam em fumaças, mas na verdade, o incêndio estava longe e quem arruinava as árvores eram os gigantes, fazendo-as cair por todos os lados. Imaginou que a nuvem seria os Andarilhos, trazendo destruição e morte por onde passavam, assim como o fogo. Também sentiu o chão desmoronar, aos poucos. Tudo ficou mais negro e a escuridão o consumiu por completo. Enrolou-se, finalmente, com muito mais medo que jamais estivera nem sua vida. Estava chorando, desesperado.
Era a cena que se realizara, a cena de sua morte. E então, finalmente, as sombras o cercou. Assim como no sonho, sentiu que a penumbra o comprimisse, que a escuridão o assassinasse e que caia em um eterno vão.