Me lembro perfeitamente daquela noite: a raiva espantada nos olhos dele, o modo como ele distribuía os socos, o corte que ele tinha na testa, como ele bateu a porta ao ir embora; com fúria. O barulho que fez, como ela chorava e como ela me olhou. Isso eu nunca irei esquecer. Um olhar assassino, cheio de ódio e raiva. Mas, como eu, uma garota de apenas sete anos pode ter culpa em algo?
Utilmente as pessoas andam dizendo que as crianças não são mais puras, que mentem, roubam, são mal educadas, respondem os mais velhos. Entretanto, o que eles não sabem é que a culpa disso tudo é deles. Eu sei, eu sei o que vocês vão dizer, que educam essas crianças, que dizem para elas não fazerem isso.
Dizem, não demonstram.
Por exemplo, quando alguém liga e uma criança atende, se é aquela cobrança você já diz:"Diz que eu não estou". Pronto! Já está ensinando ela a mentir e quando ela começar a mentir não vai parar mais.
Entretando, ali, eu não tinha culpa de nada. Fiz exatamente o que me pediram: mamãe havia mandado chama-la quando papai chega-se em casa, foi isso o que eu fiz, chamei, mesmo estranhando a companhia de outra mulher com ele. Mamãe desceu cambaleando devido a bebida, ofereci minha ajuda, ela negou.
Como estava tarde resolvi ir para a cama, mas desci quando ouvi a gritaria. Por que eles estavam agindo assim? Eles não se amavam mais?
Papai batia na mamãe sem dó, ela gritava e dizia coisas que eu não entedia muito bem como "Como você pode!", "Cretino!". Ele respondia com "Acha mesmo que eu amaria uma bêbada como você?", "Estúpida!".
Nenhum deles havia notado a minha presença ainda, só quando ele saiu que ela me viu. Seus olhos encontraram os meus e com apenas aquele olhar eu sabia que não era minha mãe ali, nunca foi. O modo que ela me espancava demonstrava isso, ela me chamava de inútil, dizia que não era para eu ter nascido, que ela faria meu pai pagar com a minha morte.
Comecei a cuspir sangue e me virei, nesse momento ela levantou para pegar uma garrava de cerveja que já estava quebrada, deveria ser essa garrafa que causou o corte na testa do meu pai. Sabia o que ela iria fazer e não pensei duas vezes: fugi.
Estava desnorteada, não sabia para onde ir, apenas corria, corria desesperadamente chamando por socorro, com o meu corpo dolorido, minha garganta queimando por causa do sangue e minha cabeça não processava as informações com clareza.
Virei uma esquina e escutei barulho de motor, só podia ser uma coisa. Não deu tempo de virar ou correr, desabei no chão. Minha visão estava turva, só via longos cabelos loiros de quem eu sabia muito bem de quem eram.
Eram da pessoa que me levava ao parque quando minha mãe bebia, que me pagava um picolé de limão e me perguntava como eu gostava daquilo. Que penteava meus cabelos e brincava de boneca. Que cuidava de mim mesmo minha mãe dizendo que ela era um mau exemplo. Para falar a verdade, ela não era um mau exemplo, ela apenas não fingia ser quem não era, ela apenas era sincera e não se importava com o que os outros diziam ou pensavam sobre ela.
— Vai ficar tudo bem... — a dona dos cabelos loiros cuja foi a última coisa que eu vi antes de desmaiar me disse.
Era ela, Hilary.
[NOTA]
Este capítulo é meio que uma introdução, parte da infância de Carter — a personagem principal. Vocês só vão precisar dele para entender um pouco das decisões dela no futuro.O que acharam?
Vicky
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Querida Hilary...
RomanceCom uma mãe alcoólatra, um pai que não aparece em casa a dias, e um irmão viciado, a justiça encaminha Carter para o seu parente mais próximo, sua prima, Hilary. A vida com Hilary era perfeita, na opinião de Carter, mas tudo que é bom dura pouco, nã...