┌SEXTO┘

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As batidas do meu coração estavam cada vez mais rápidas, em compensação meus movimentos estavam lentos. Eu não sabia se deveria realmente tocar aquela campainha, se deveria dizer quem eu era ou porquê estava ali. Se deveria tentar.

- Vá em frente. - Hilary me disse na minha primeira apresentação de balé quando eu tinha sete anos.

- Mas... E se eu não conseguir? - eu respondi nervosa - E se eles não gostarem? E se mamãe brigar quando descobrir que eu estava aqui com você? - Hilary se aproximou de mim e me olhou nos olhos.

- E se você não tentar? E se você não mostrar que pode? E se você não mostrar para ela que é isso que você quer fazer? - ela sorriu, eu balancei a cabeça mostrando que iria. Que eu tentaria. - Você consegue. Eu sei que você consegue.

- Você consegue, Cater. - repeti mentalmente enquanto encarava aquela porta - Eu sei que você consegue. - então eu apertei aquela campainha e aguardei por alguém que eu não tinha a mínima ideia de quem era, a não ser o nome. - Hailee Potter? - perguntei assim que uma mulher com cabelos curtos e olhos cor de mel abriu.

- Sou eu. - ela respondeu - Algum problema? - perguntou.

- Sou Carter Arden e eu gostaria de fazer algumas perguntas. Se não se importar, claro. - forcei um sorriso.

- Sobre o quê, exatamente? - ela perguntou abrindo mais a porta.

- Sobre o transplante de órgãos que você recebeu de Hilary Arden Martin.

- Entre.

Entrei e me impressionei com a decoração do lugar. Tudo estava novo e até mesmo o cheiro de tinta era recente. Alguma coisa deve ter acontecido para aquela casa estar com tantas coisas novas. Me lembro de quando peguei o formulário de Pam, a mulher que eu estava visitando, havia mudado o endereço para aquele lugar e não mais o endereço que constava quando ela fazia consultas.

- Quer um chá, café, água? - ela perguntou e depois riu com sigo mesma - Você é uma adolescente, deve querer um refrigerante, certo? - ela perguntou.

- Certo, mas Hilary adorava chá de hortelã. Se você tiver, agradeceria. - sorri.

- Vou providenciar. Sente-se. - apontou para o seu sofá e eu me sentei enquanto ela ia para um lugar em que eu julguei ser a cozinha.

Peguei um caderno que havia comprado na ida para lá e comecei a escrever às perguntas que gostaria de fazer antes que me desse branco quando eu ficasse nervosa.

- Judith já está preparando. - ela voltou e se sentou em uma poltrona a minha frente - O que quer saber sobre o transplante, exatamente? Aconteceu algo? - perguntou aflita.

- Não aconteceu nada, pode ficar tranquila. - disse - Eu apenas gostaria de fazer algumas perguntas, sabe... Hilary era como uma mãe para mim. - sua boca se abriu em um "o".

- Sinto muito, deve ter sido difícil para você. - e pela primeira vez um "sinto muito" foi dito com sinceridade desde o seu funeral.

- Obrigada. - eu disse e respiramos fundo quando o silêncio se tornou constrangedor. - Vamos as perguntas? - perguntei e forcei um sorriso.

- Vamos lá! - esfregou uma mão uma contra a outra e eu olhei para o papel.

- Primeira pergunta: Qual órgão você recebeu? - li. Mesmo eu tendo uma fixa que dizia, queria ouvir da boca dela. Queria ouvir as palavras saindo da boca de cada um que recebeu algum órgão de Hilary.

- A pele. - ela disse e me surpreendi - Sei que parece estranho, mas acho que você notou que a casa é nova. - concordei - Tive que me mudar as pressas, a minha antiga... Ela meio que... Queimou - engoliu em seco e percebi que tinha muito mais do que uma casa em chamas naquela história.

Querida Hilary...Onde histórias criam vida. Descubra agora