— Sinto muito... — um dos sócios da empresa onde Hilary trabalhava me disse.
Era sempre assim, eles se desculpavam, diziam que sentiam muito, que Hilary era alguém legal, divertida, amável... Será que as pessoas acham que isso vai mudar alguma coisa? Que irá ajudar en algo? Mudar o fato dela estar morta?
Aqui vai a minha resposta: não muda nada, só traz lembranças de como ela era, e pensar nisso nos leva a perceber que ela não está mais aqui para viver novas lembranças. E o pior de tudo, não muda o fato dela estar morta.
— Não vou dizer um sinto muito. — escutei uma voz feminina, no entanto, me recusei a ver quem era a dona. — Tem certeza de que quer ficar aqui?
— disse olhando para as pessoas ao redor e senti a ausência de Amy — Sabe, escutando essas pessoas que acredito que nem sabem que ela se chama Hilary, falando um sinto muito? — perguntou e eu então olhei para ela. Reconheceria aqueles cabelos escuros em qualquer lugar.— Dra. Clarke... — disse.
— A própria... — mexeu os ombros — Quer dar uma volta?
— Por que não?
Andamos em silêncio pelo cemitério, era isso que eu precisava ouvir: o silêncio. Não precisava de alguém me dizendo um sinto muito ou meus pêsames, precisava pensar. Pensar no que eu faria a partir dali, afinal, ela estava morta, e pensar nisso me trouxe um desconforto enorme.
— Ela salvou muitas vidas... — Dra. Clarke me disse.
— E destruiu a minha... — respondi pesando em tudo que ficou para traz. Realmente, Hilary destruiu minha vida, mas não foi sua culpa.
— Precisamos sacrificar certas coisas para o bem de outras. Não dá para criar um coelho e plantar cenouras junto. — segurei o riso.
— Não foi para isso que você veio aqui, suponho. — indaguei.
— Não, eu só queria conhecer a menina que eu vou adotar. — parei instantâneamente. Como assim a menina que ela iria adotar?
— Como? — perguntei. — Eu vou ficar com Amy! — disse firme, mas acho que pareceu mais que eu estava assustada.
— Amy Davis está viajando agora, sobre as nossas cabeças nesse exato momento. Compreenda, Carter, eu sou sua melhor opção para você.
Não podia acreditar no que ouvia, não mesmo! Era para Amy estar aqui, comigo, me apoiando. Ela não poderia ter feito aquilo. Primeiro havia perdido Hilary, agora Amy... Não tinha mais ninguém a quem recorrer.
Sai pisando duro até que mais um dos sócios me parou para dizer mais um sinto muito, mas não foi isso o que me chateou, foi o fato dele ter dito Avery em vez de Hilary.
— Você sente muito? — perguntei já alterada — Sente muito mesmo? — aumentei meu tom — Você nem sabe que ela se chama Hilary! É Hilary! Não Avery... — coloquei meu dedo no seu peito — Está me entendendo? — ele não respondeu, talvez estivesse muito surpreso com a minha atitude — Pois trate de pegar esse seu "sinto muito" — fiz aspas com as mãos e voltei a aprofundar o meu dedo no seu peito — e enfiar no seu...
— Carter! — escutei a voz da Dra. Clarke e foi ai que percebi que estava atraindo vários olhares. Sai sem nem olhar para traz segurando o choro.
Eu não iria chorar, nunca mais choraria. Seria forte igual a Hilary.
[NOTA]
O que acharam do capítulo?
VOCÊ ESTÁ LENDO
Querida Hilary...
RomanceCom uma mãe alcoólatra, um pai que não aparece em casa a dias, e um irmão viciado, a justiça encaminha Carter para o seu parente mais próximo, sua prima, Hilary. A vida com Hilary era perfeita, na opinião de Carter, mas tudo que é bom dura pouco, nã...