┌QUINTO┘

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1 de outubro de 2015.

Querida Hilary...

Já faz uma semana que eu estou morando com essa família e ainda assim me sinto uma completa estranha, nem quando fomos visitar aquele seu primo eu me senti assim, e nós ficamos apenas três dias. Sinto como esse não fosse o meu lar, como se esse não fosse o meu quarto e nem que eu fosse da família.

Todos os dias me olho em frente ao espelho e penso: "O que diabos eu estou fazendo aqui?" Eu não sei, Hilary. Não sei o que eu devo fazer. Tudo é tão monótono e sem graça. Não tem mais aquela alegria de quando você fazia panquecas e nem de quando íamos ao parque ou no cinema.

Eu só queria estar com você, me senti mais perto de você, mas... Eu não sei como fazer isso. Sei que essa carta não vai para o céu ou para qualquer lugar onde você esteja. Sei que essa carta vai para a minha gaveta encontrar as outras que eu escrevi. Sei de tudo isso. Contudo, essa é a única maneira de te manter viva, de te manter aqui, comigo. É o único momento que traz paz aos demônios que enfrento.

Com amor (de verdade),
Carter;

Guardei mais uma carta dentro da gaveta, pelo menos ela não se sentiria sozinha como eu, teria outras cartas para lhe fazer companhia.

Ultimamente tem sido assim, ando me sentindo sozinha, como se minha única alegria tivesse ido embora e nunca mais fosse voltar. Me sindo vazia por dentro e sem vida por fora.

- Vamos? - Luke perguntou da porta do "meu quarto", hoje iríamos alimentar os sem teto e nossos "pais" não tinham chegado ainda.

- Claro! - respondi pegando o casaco e descemos. Peguei as chaves de casa enquanto Luke pegava a comida e assim partimos como todas as noites. Aquela era mais uma parte monótona dos meus dias.

┌┘

Cheguei em casa rindo de algo que Luke disse, mas meu sorriso logo acabou quando eu vi quem estava na minha frente e principalmente o que continha nas mãos.

- Carter... - intorrompi Adam tirando rapidamente minhas cartas de sua mão.

- Isso é meu! - esbravejei.

- Querida, nós...

- É Carter! Não querida! - eu disse. - Como vocês ousaram fazer isso? Disseram que respeitariam minha privacidade!

- Queremos apenas te ajudar. - Margareth mantinha a calma.

- Mas eu não quero ajuda! - subi mordendo o lábio inferior me impedindo de chorar e tranquei o "meu quarto" e, em vez de colocar uma cadeira, empurrei o guarda-roupas.

- Carter... - disse Luke - Abra a porta e converse comigo.

- Saia! - eu disse alterada - Apenas saia!

Como eles podiam fazer aquilo? Era algo pessoal, aquilo era apenas meu e da Hilary. Nosso mundinho azul. E eles entraram nesse mundinho, sem permissão e de repente. Eles mudaram tudo.

Três batidas na porta me chamaram a atenção, afastei o guarda-roupas e percebi que tinha uma cartinha. Achei estranho, peguei e comecei a ler.

" Detestável (já que não nos deixa chama-la de querida) Carter...

Hoje eu cheguei do trabalho e estranhei os meus filhos não estarem em casa. Fui ao quarto de Luke e tudo estava intacto. Então fui ao seu e uma gaveta me chamou a atenção, tinha um papel impedindo ela de fechar totalmente.

Eu abri e percebi que ela estava cheia de papéis, de cartas, para ser mais exato. E como sou curioso li, cada uma delas e te entendi, Carter, perfeitamente. Pode parecer que não, mas minha mãe morreu quando eu tinha a sua idade, meu pai me deserdou dizendo que eu era culpado.

Sei o quanto é duro ficar sem aquela pessoa e eu e Margareth tomamos uma decisão. Acho que você se lembra de que Hilary doou seu órgãos, não é mesmo? Estou disposto a dar o nome e endereço dessas pessoas a você.

Pode parecer loucura, mas acho que isso te ajudará a se sentir mais perto dela. Seja estando perto de um dos rins ou do coração. Espero te ajudar, mesmo você não querendo ajuda.

Com afeto (ainda não posso dizer que te amo como uma filha),
Adam."

Destranquei e abri a porta e abracei Adam, ele pareceu surpreso, talvez pelo fato dele achar que eu não iria abri a porta, ou o fato de eu saber que ele estava ali. Todavia, acho que ele realmente ficou surpreso pelo fato de eu estar abraçando-o.

- Obrigada... - eu sussurrei. Ele retribuiu o abraço e aconchegou sua cabeça na minha.

- Isso é o que os pais fazem.

[NOTA]
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Querida Hilary...Onde histórias criam vida. Descubra agora