Capítulo 1 - Paredes Brancas Ao Redor

10 1 0
                                    

Aquilo me deixou preocupado . Apenas agora tinha percebido as mãos mecânicas nas paredes, nelas foram postos potes com docinhos e petiscos.
Elis se aproxima de mim.

-Ela é aquela garota estranha que eu havia te dito !-Ela diz.

-Meu Deus !-Respondi.

-Viu só como ela é estranha ! - Elis prossegue - É encalhada que eu saiba , afinal quem iria querer uma garota assim ! Desde que ela se tornou assim nenhum homem mais se interessou por ela !

-Pois é um grande desperdício !-respondi tentando achá-la novamente no meio da multidão.

Elis revirou os olhos.

Pessoas começam à gritar na pista de dança. O que chamou nossa atenção é claro.

Quando percebemos , os doces e petiscos haviam caído no chão, e as mãos mecânicas esbanjavam lâminas girando , facas , cerras elétricas entre outras coisas. Empurrei Elis para a saída, de lá ela começou à gravar a cena como se gostasse.

Várias pessoas se feriram, e algumas até morreram na hora pelos ferimentos graves . Tentei sair de lá também , e consegui porém senti um desconforto e um líquido em minha roupa...era sangue.

Fui atingido. Conforme o tempo passava a dor em meu abdômen ficava cada vez mais insuportável , as ambulâncias chegam . Elis tenta me ajudar , mas os seguranças não deixavam ninguém se aproximar dos feridos. Tudo estava acontecendo rápido demais, minha visão girava enquanto o desespero se aproximava.

Talvez eu não sairia vivo de lá. Mas este pensamento rapidamente se afastou de minha mente quando uma enfermeira chega e diz que meu caso não é grave . Enquanto me levantavam para me colocar na ambulância...percebi que aquela garota que alguns instantes atrás estava dentro da festa , estava andando confiante, se afastando dali .

Porém.

Do nada ela parou de andar e virou para trás. Olhou diretamente para mim com um olhar mortal , mas ai que eu me surpreendi , uma lágrima caiu de seus olhos , percorrendo seu rosto que era extremamente pálido.

"Pela primeira vez na história , viu-se uma lágrima verdadeira cair dos olhos desta garota"

Me colocaram dentro da ambulância , não vi mais nada .

...

Sinto meu corpo reviver , consigo senti-lo perfeitamente , ainda com os olhos fechados começo a ter consciência de que já acordei...então resolvi abri-los.

O ambiente era totalmente branco , o que fazia meu olhos arderem por conta de tamanha claridade , ainda mais para alguém que acaba de acordar. Havia um cano bem fino preso ao meu braço , parecia estar ligado á minha veia . Deve ser soro.

Eu já estava acostumado com consultórios e etc...Mas a maioria de minhas consultas são à domicílio. E aquele ambiente estava me incomodando apesar da calma que ele me transmitia.

Uma enfermeira entra no quarto , com um sorriso triste , e com cara de quem não trazia boa notícia.

-Você tem uma visita !-Ela me diz . E por acaso isso é ruim ? E cara dela demonstrava isso.

-Ok !-Disse e ela saiu de lá deixando a porta aberta.

Ouço passos , como se quem se aproxima estivesse usando um salto alto . Certamente uma mulher...Elis ?

Vejo uma mão na maçaneta da porta , era pálida e tinha um esmalte rosa cobrindo unhas grandes e bem feitas.

Logo consegui avistar uma silhueta passando pela porta , um corpo "violão" com belas curvas , cabelos longos e castanhos , um vestido preto, curto tipo boneca e um salto enorme, também preto.

Elis já havia me falado o nome dela , mas eu esqueci . Ela se aproxima e toca minha mão , a dela era muito gelada, parecia de um cadáver , porém eu não me importei , estava gostando daquilo.

Os olhos dela , contornados de preto , me olhavam profundamente , o batom estava mais fraco , dando lugar à um tom mais rosado. Seus lábios eram convidativos...e muito.

-Qual é o seu nome mesmo ?-Disse ainda encarando seus olhos que me confortavam.

Ela respira fundo como se fosse dizer algo , mas abaixa a cabeça em seguida.

-Eu sou Toby ! E você....?

-Raquel...-Ouvi um som agradável adentrando meus ouvidos , ela disse em tom baixo , e bem friamente, não entendo como ela conseguia ficar por tanto tempo sem demonstrar nenhum sentimento.

Eu, um psicólogo . Devia entender o que está escondido por trás de seus belos olhos castanhos , porém parecia não haver nada...

-Você...-Ela piscava seus olhos lentamente como um robô , de um jeito até charmoso -Está melhor ?

-Sim...não foi nada grave !-disse abrindo um sorriso enorme.

Ela me encantava, mas percebi um certo medo em seu olhar quando ela me diz :

-Por acaso....aquelas armadilhas...te machucaram muito ?

-Sinceramente...Sim ! Ainda está doendo muito ! -respondi , e acho que não devia ter feito isso.

Ela continuava com aquele olhar direcionado ao meu...e com suas mãos sobre a minha. Mas de repente , parece que algo despertou nela , como se estivesse voltando à realidade , ela solta minha mão com certa violência .

O brilho de seus olhos deu lugar à uma escuradão de ódio . Mais uma lágrima caía de seus olhos, ela enxuga está lágrima com tanta força e raiva , que seu belo e pálido rosto acabou ficando levemente vermelho.

Ela segura o choro em seguida , voltando a ter uma expressão malvada que me deixou com um pouco de medo.

-Eu fiz ou disse algo errado ?-perguntei.

Ela curvou os lábios num pequeno sorriso , se aproxima e toca meu rosto . E ainda bem próxima de mim , ela praticamente transforma a doçura em terror , voltou a ter expressão de ódio e aranhou meu rosto com suas unhas, deixando um pequeno arranhão. Não consegui entender aquilo.

Em seguida ela anda em direção à porta elegantemente . E como aquilo me deixava...louco. Ela pega confiantemente na maçaneta , lança um olhar sedutor para mim, e vai em bora batendo a porta antes.

Será que...Não , não pode ser...

Um Amor Quase MortalOnde histórias criam vida. Descubra agora