Cheguei em casa exatamente às 19 horas . Nem as consultas me faziam relaxar ou pensar em outra coisa , mudar meu foco.
Mas era impossível , algo me possuía fortemente , algo como sangue...Algo que não saí de mim , e quando sair , irá doer muito . Como uma ferida. Que irá me corroer pelo resto de minha vida sem cura alguma.
Apenas isto.
Joguei minha mochila no sofá , aleatoriamente me jogando junto dela. Passei as mãos por meu rosto e me surpreendi.
Estavam geladas . Como gelo , coisa que não era comum de se acontecer comigo , e o tempo estava agradável , não está frio ao ponto de ficar nesse estado.
Um relíquia passou pela minha cabeça . Me fazendo sentir novamente o mesmo arrepio , a mesma sensação , o mesmo desespero.
De quando Raquel tocou minha mão. A dela era exatamente assim , gelada , como de um morto.
E está presa na minha cabeça dolorida . Meus 23 anos não me ajudam nessa questão...
Agora , tenho feito um mundo perfeito e impossível em minha mente , que não será fácil de apagar.
Eu tento , mas minha mente só descarta estas possibilidades quando estou com ela . Esqueço de tudo com ela , do mal e do bem.
Não sei se isso é bom...Ou ruim . Eis a questão.
Ela vive no ar que eu respiro . Eu não posso tirá-la da minha mente . E ninguém pode remover isso , muito menos matar . Apesar de que ninguém sabe disso . Só a Elis...Mas ela é de confiança.
Esfregando minhas mãos uma nas outras pensava em que fazer . Nenhuma ideia tenho , apenas fantasias e sonhos . Tetando esquentar as mãos, tomei uma atitude , e não será a menos arriscada.
Peguei uma jaqueta de couro mais quente, e encaixei nos braços ajeitando as mangas , logo em seguida minhas luvas pretas , às encaixei nas mãos , com pressa e ansiedade, as quais que me atormentavam. Continuei com a calça de couro e o coturno , peguei meu capacete , as chaves e fui para a garagem.
Montei na moto e encaixei o capacete na minha cabeça , sem pensar muito dei a partida na maior velocidade possível e virei à esquina , entrando na rodovia principal.
Parando em frente de uma casa antiga , mas bem cuidada e fechada. Toquei a campainha e entrei quando permitido.
-Sr.Lenna ! Eu preciso que me diga onde Raquel mora !!!-Disse implorando.
-Oh Céus ! Por que ?-Ela pergunta sentindo todo meu desespero em suas mãos , todo o peso das consequências é meu e ela podia ver isso.
-Por Favor ! Eu preciso . Agora !!!-Quase gritei sem querer pelo desespero se fazendo presente.
Lenna me passou o endereço . Era num lugar um pouco longe , na verdade mão muito , no mesmo bairro, mas difícil de achar.
Não me importei com isso , saí por ai feito um doido , ultrapassando sinal vermelho , e tudo que vinha na minha frente . Foda-se se eu levar uma multa.
Passei por várias vielas escuras , as quais refletiam minha dor . A velocidade me possuía e eu queria mais , cada segundo , cada suspiro , parecia afastar ela de mim . Mas eu continuarei tentando .
Livrei minha mente de dúvidas...
Pois tudo que eu tenho é o agora.
Cheguei numa rua sem saída , tinha árvores altas que faziam o lugar ficar sem refletir a luz do sol que já havia se abaixado , já eram 21 : 30. Vi novamente o mapa e as fotos que Lenna me estregou , a casa dela seria uma, Azul ? Na foto mostra uma casa de fachada azul escura com vidraças transparentes. Era diferente de todas as outras.
Fui até o final e achei uma casa igual , porém não era azul . Tinha uma fachada preta , e as vidraças era feitas de um tipo de vidro também escuro , que não se permitia ver o que havia lá dentro . Pode ser que esta seja a casa.
Estacionei minha moto na calçada da mesma . O local me fazia sentir certo medo , também por conta da hora . Mas fui em frente , girei a maçaneta e a porta se abriu . Qual o tipo de pessoa que deixa a casa aberta ?
Enfim . Adentrei o local , sem muitas delongas subi as escadas , a casa era bem cumprida e com inúmeras portas . Fui no final do corredor , andando lentamente , com medo que algo indesejado aconteça . Abri aquela porta lentamente , entrei parcialmmente, apenas uma parte do meu corpo para ver se estava tudo bem , e nada aconteceu . Barra limpa.
Andei mais alguns passos fechando a porta atrás de mim antes . E vejo numa cama de lençois brancos e cabeceira bem estruturada , Raquel dormindo , ver ela ali tranquila me fazia ter vontade de ficar, e à observar até o sol nascer . Mas seria muito arriscado . Ela vestia uma camisola preta , de cetim com renda nas bordas.
Não resisti e mais uma vez me aproximei , como se aquilo me movesse automaticamente . Me sentei ao seu lado na cama e percebi que haviam lágrimas em seu rosto.
Raquel chora enquanto dorme.
Achando aquilo um tanto estranho , coloquei minhas pernas em cima da cama me deitando virado para ela , e passei à enxugar suas lágrimas , minhas mãos , já não estavam mais geladas e consegui sentir a pele muito branca dela se arrepiar.
-Toby...-Ela suspirou meu nome , o que me fez parar de tocar seu rosto na hora . Tanto o medo como o desejo me preenchia.
Quando começou à se mover pensei em sair o mais rápido possível dali , ou iria morrer . Mas não . Para minha surpresa . Raquel me abraçou.
E assim ficou por um bom tempo.
"Você não vai abrir seu coração ?
Não vai deixar que o pior aconteça ?"-Minha mente dizia.
A única escolha que tive foi retribuir. E dormir ali , muito próximo de alguém que devia estar à metros de distância.