A décima filha da lua - Filhas da lua (VL.1)

É hora da verdade

A chuva caía cada vez mais forte. A garota dava passos rápidos e cuidadosos, não seria uma boa tropeçar e ficar melada de lama, pensava. Estava ficando mais escuro, não era só porque estava anoitecendo, o fato de estar em uma floresta, com árvores enormes de longos galhos que com suas folhas tampavam a visão do céu, deixando somente algumas brechas para pequenos raios de sol, contribuía, assim como as enormes nuvens carregadas que mesmo descarregando toda aquela água, pareciam estar do mesmo jeito ou até mais cheias. Mais cedo, antes da chuva, ela pensara que não tinha como aquele lugar ficar mais sinistro, mas descobriu que estava errada, aquele lugar era aterrorizante em qualquer momento. Não pretendia ficar por lá quando a noite chegasse, mas sabia que era o que provavelmente ia acontecer. Manifestou sua frustração.

-Estamos totalmente lascados - disse rouca. Podia sentir a gripe chegando.

-Ah, não seja pessimista - falou o garoto ao lado.

Ela olhou para ele por um momento. Seus cabelos castanhos estavam colados na cabeça, ele estava encharcado da cabeça aos pés, assim como ela, a blusa branca colada no corpo destacando os poucos músculos que tinha, ela tinha pequenos rasgões aqui e ali causados por galhos baixos e espinhentos. Os olhos azuis fixos no caminho a frente. Depois desviou o olhar e estremeceu, aquele pressentimento ruim palpitou no coração, fazendo-a pela milésima vez olhar para trás, não tinha nada além de mato enlameado e árvores, mas não conseguia parar de se sentir observada.

-Não poderia ser um lugar mais... Sei lá, normal? - comentou.

-Elisa, depois de tudo que aconteceu nesses dois dias você espera que as coisas sejam normais?

Pietro estava impressionantemente calmo. Diferente dela, que tinha o coração acelerado e a boca trêmula pelo nervosismo. Viu uma série de imagens passar pela mente e afastou-as tentando ser forte como a mãe sempre a ensinara. Avistou uma árvore um pouco longe, era enorme e mais larga do que todas as árvores daquela floresta, afirmou a si mesma que era um carvalho. Sua visão estava manchada mas mesmo assim podia enxergar pequenos buracos com o mesmo símbolo visível no cartão.

-Ali! - disse apontando para o carvalho. Andou em direção a ele, o mais rápido que suas pernas permitiam. Parou quando percebeu que Pietro não a seguia. Virou para trás e fitou o rapaz que a olhava espantado.

-O que foi? - perguntou Elisa, irritada - vai ficar ai parado, olhando com essa cara de peixe morto?

O menino continuava a fitando espantado. Pensou que a prima tinha ficado doida, não tinha nada no carvalho, ele era sinistro mais não aparentava ser importante. Lembrou de que a garota podia ver coisas que ele não podia, claro que não tinha contado a ela, fingira estar vendo, não queria a deixar mais assustada do que já estava. Andou até e ela e juntos caminharam até o carvalho.

O silêncio que se instalou entre eles era atormentador, pensara Pietro, mas o soprar silencioso do vento em meio aquela chuva, em meio aquela floresta assustadora, tornava tudo pior.

Chegaram no carvalho e Elisa tirou do bolso o cartão, começou a passa-lo pelo carvalho tentando encaixa-lo em um "buraco" que Pietro não conseguia ver. Ele podia perceber que as mãos da garota tremiam. A observou e notou o quanto ela estava com medo, o quanto as mãos e a boca tremiam, ele não estava diferente apesar de não aparentar, tentava parecer calmo para não amedrontar ainda mais a Elisa, porque se tinha uma coisa anormal para ela era ver que Pietro estava desesperado, pois ele nunca perde a calma, e se isso acontecesse significava uma coisa: a situação estava bastante complicada.

-Merda! - exclamou a garota, furiosa e frustrada - tome - disse entregando o cartão ao garoto - tente encaixa-lo. Estou tremendo demais...

O garoto congelou, como encaixar uma coisa se você não vê o lugar onde deve encaixa-la? Ele estreitou os olhos e fingiu ser tomado por uma grande decepção.