1 - Menta e Maracujá

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Quando penso em como a vida muda, ou melhor, como nós mudamos com o tempo, adquirindo experiências, gostos, desgostos, traços e mais traços de personalidade e como isto influencia nossas escolhas e, consequentemente, nosso futuro, por algum motivo não consigo deixar aquele homem que conheci algumas horas depois de ter uma crise existencial de solidão anos atrás.

Nunca fui boa lidando com sentimentos, então preferia deixá-los de lado antes que me conduzissem por caminhos escuros pelos quais a luz, apesar de perto, permanecia intocável como já havia acontecido antes. Mas às vezes tudo é demais, a pressão, a dor, a raiva... o amor? E tudo que poderia desejar era um buraco bem fundo para descansar e não mais acordar.

Então, em questão de minutos, tudo estava bem de novo, me sentia linda, bem sucedida e sem sentimentos por qualquer coisa que não fosse Julian, meu gato de quase 15 anos.

Aquele dia não foi diferente de "às vezes", não até eu colocar os pés naquela casa, mansão, palácio da realeza moderna... Não soube como definir aquele lugar de aparência contemporânea, do século da visibilidade onde a vida privada era escondida por um véu transparente da virtualidade, perfeitamente ilustrada pelas enormes janelas de vidro por toda a fachada dos 3 andares. Ainda assim tinha um toque especial antigo, a delicadeza de uma obra de Van Gogh na parede da sala, as fontes esculpidas com todo o drama do século XVII. Me perguntei se as pessoas que ali viviam possuiam a mesma cultura que a casa.

Era uma típica festa da elite as quais costumava frequentar simplesmente para passar o tempo e gastar dinheiro — mal sabia eu que era melhor ter economizado para os anos de crise que abalariam o país e só não foram maiores que o terremoto de escala 7 que senti atravessando a região da coluna quando teus olhos encontraram os meus. Mas não foram os olhos a causa, as placas tectônicas era o teu sorriso malicioso, divertido e uma série de outros adjetivos que o atribuiria mais tarde.

Sorri de volta como se fosse uma adolescente flertando pela primeira vez, mas não jovem o suficiente para pensar que homens tem que dar o primeiro passo em tudo. Não só um, como dei treze passos até chegar a ele, encostado no balcão do bar, estilo despojado, mas nada de marca, o que atestava que era da alta sociedade:

— Você veio — comentou com um certo tom de surpresa, sorriu.

— Por que não viria? Como poderia eu ignorar um admirador de física? — apoiei o braço esquerdo no balcão ficando de frente para ele.

— Como você...?

— O pingente. — apontei para o colar um símbolo da física quântica em seu pescoço.

— Você é do FBI? — brincou se aproximando mais de mim; conseguia sentir sua respiração no meu rosto, sua mão sobre a minha no balcão. — Se for, pode fazer a revista corporal.

Ri como se mais cedo não estivesse chorando, o beijei como se ontem a noite não tivesse beijado outra boca. Gosto de maracujá, milkshake para ser mais específica e me pareceu tão surreal alguém ir em uma festa como aquela tomar milkshake quanto o próprio beijo. A mão que há menos de um minuto estava sobre a minha, naquele momento estava entre os fios do meu cabelo.

Ele provavelmente não sabia o trabalho que dava fazer aquelas ondas, então o perdoei.

— Menta. — ele sussurrou no meu ouvido depois de afastar meu cabelo.

Me aproximei de seu ouvido, na ponta dos pés e sussurrei de volta: maracujá.

Embora eu ainda não soubesse, aquela curta conversa foi a primeira influência — e experiência gustativa.


* Olá, amores. Estou reescrevendo esta história por problemas técnicos e mudanças que me pareceram de extrema necessidade após uma reflexão sobre tal. Quem tiver interesse na versão original escrita em 2015, pode me passar o e-mail no inbox. Obrigada pela atenção, espero que gostem desta versão como da outra. 

OBS: por enquanto a história não tem prazo para ser concluída ou dias exatos para postagem, pois estarei extremamente ocupada nos próximos meses. *

Nada além de uma noiteOnde histórias criam vida. Descubra agora