2 - Estacionamento

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Dois drinks depois, já não sabia quantos beijos e carícias havíamos trocados, muito menos o tempo que passei o observando durante aquelas danças intensas, onde os corpos se recusavam a largar um do outro, as mãos corriam livremente por onde desejavam e a troca de olhares era quase obrigatória.

Naquele pequeno oceano de seus olhos me vi caindo, mas o afogamento veio apenas algumas poucas horas depois, no estacionamento o qual chegamos apressados, as roupas de repente pareciam apenas um obstáculo desnecessário para a felicidade. Enquanto abria a porta de meu carro, ele me deixava livre do vestido demasiadamente apertado, deixando que as pontas de seus dedos escorregassem pelas minhas costas.

Arrepios.

Me virei de frente para ele, descartando seu casaco, depois sua camisa, finalmente sua calça. Vê-lo de cima era tão maravilhosa quanto ver pôr-do-sol de janeiro, em pleno verão, as cores quentes em seu corpo, o azul da noite em seus olhos… a dor.

Não existe dores no pôr-do-sol…

Resmunguei de dor quando minha cabeça bateu no teto do carro, e ele para se vingar, aplicou a mesma força sobre mim como previa Newton:

— Quero ficar por baixo. — falei, interrompendo o beijo.

Ele riu com certa malícia e fundo de deboche, nos virando naquele banco que parecia minúsculo para o ato; tão pequeno que ele também bateu a cabeça no teto, arranhou um xingamento que não chegou a ser falado e se aproximou de meu ouvido para sussurrar uma proposta indecente e perigosa que eu aceitei como se fosse a coisa mais sensata do mundo.

Saímos do carro, entre beijos, suas mãos eram a única coisa entre minha bunda e o mundo externo. Por mim, elas ficariam ali por muito tempo, mas a situação arriscada, aproveitando um canto sem iluminação do estacionamento não permitia mais que um movimento rápido para me encostar na parede, abracei seu quadril com as pernas, nos aproximando ainda mais.

Mal sentia minhas costas se esfregando na parede áspera enquanto ele impulsionava o movimento dentro de mim. Forte e intenso, por vezes lento, às vezes rápido. Uma de suas mãos frioxionava meu clitóris enquanto a outra estava metida entre meus cabelos, puxando exatamente onde era mais sensível. De alguma forma ele sabia e se deliciava chupando a pele arrepiada de meu pescoço.

Quando acabou e minhas pernas mal conseguiam se manter firmes, quis repetir até que não as pudesse sentir, mas sem tudo é como queremos no final:

— Quer ajuda? — perguntou ao ver minha trágica e desengonçada caminhada até o carro.

— Já estou acostumada. — sorri com malícia, abrindo a porta do carro para pegar minhas roupas e me vestir. — Só não sabia que iria ser tão bom assim contigo.

— Diz isso a todos?

— Não. Só aos que acham o clitóris. — ri um tanto bêbada e só então lembrei que nenhum de nós poderia dirigir. — Racha um Uber?

O entreguei sua camisa que estava ao meu lado e pedi para que fechasse o zíper de meu vestido.

— Claro, você mora para que lado? É daqui mesmo? — perguntou sem demonstrar tanta curiosidade. Se for fingimento, é o ficante perfeito.

— Zona Sul e você? — abri minha bolsa procurando algo que pudesse disfarçar o rímel borrado. Parecia uma profissional do sexo mendiga e drogada. Olhei para os saltos com desgosto.

As noites sempre acabavam com o gosto amargo do arrependimento quando os usava, como se minha alma fosse maior do que aquelas roupas pudessem segurar. Queria a liberdade da minha casa para andar pelada e descabelada atrás de um chocolate.

Nada além de uma noiteOnde histórias criam vida. Descubra agora