6 - O Vinho Rosé

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— Eu não vou assumir as duas funções diretamente. Continuamos a farsa do namoro e isso vai nos dar uma desculpa para quando esse período de aprendizagem acabar. Eu serei a diretora executiva de fato, mas você não vai me pagar pelas contas da empresa, claro. — esclareci.

— Não entendi nada. — franziu o cenho enquanto girava o garfo sobre o prato para pegar o espaguete e então levar o rolinho avermelhado com raspas brancas de queijo a sua boca. Nunca havia visto alguém que conseguisse comer de forma sexy antes de James, mas agora sabia perfeitamente como era.

Seus lábios carnudos ficaram levemente manchados pelo molho e eu perdi completamente meu raciocínio. Chacoalhei a cabeça para voltar a realidade:

— Você não pode ficar sob minha tutela para sempre, né? O namoro nos dá uma desculpa para que eu continue fazendo parte dos assuntos executivos ainda que isso seja completamente errado. — me arrependi do plano imediatamente. Seria como jogar minha carreira e reputação no lixo: de uma mulher que subiu na vida graças ao esforço e um pouco de sorte à uma que namora o dono para conseguir cargos. Engoli a seco a vergonha, pois o dinheiro valeria a pena. — Mas você não pode me pagar por esse serviço extra pelas contas da empresa, e quando eu tiver compromissos com o meu departamento, você vai ter que se virar.

Enquanto ele refletia, eu aproveitei para finalmente comer, se não gastaria todo o meu almoço discutindo negócios. Entretanto, como se não pudesse suportar a ideia de que minha atenção já não era mais dele, o desgraçado passou a língua sobre os lábios, o que quase me fez engasgar com a lasanha:

— Me parece bom. — ele considerou. — Mas o namoro tem que ser realista se é que me entende. — sorriu maliciosamente expondo levemente os dentes brancos e aquela bela covinha.

Tive que beber a água ao meu lado rapidamente para não morrer engasgada:

— Não, absolutamente não! — balancei a cabeça negativamente — Já estou destruindo minha reputação suficientemente te ajudando com essa armação. Entre mim e você não rola mais nada.

— Ninguém precisa saber. — insistiu.

— As pessoas vão saber! Para você é tudo bom: "uau conseguiu pegar a gostosa do marketing", mas para mim é como se tivesse me vendendo para ascender na carreira. — estava enojada só de pensar no que as pessoas falariam de mim quando não estivesse por perto. Talvez até meus próprios amigos falassem.

— Você já tem uma carreira! Isso não faz o mínimo sentido. — rebateu ele, fingindo-se de sonso para não ver que existia uma grande diferença entre ser diretora de marketing e simplesmente a Manda-Chuva da empresa.

— Eu já estou quase desistindo disso. — Revirei os olhos. — Por enquanto você acompanha tudo de perto para pegar o ritmo da empresa, depois eu te mando os relatórios de tudo que aconteceu diariamente na empresa por e-mail e você pode sei lá... ir para a Inglaterra?

— Parece até que você quer se livrar de mim. — fez um biquinho e depois o transformou em um sorriso brincalhão. — Mas sabe que eu gostei bastante dos ares de São Paulo?

— Você é provavelmente a primeira pessoa que diz isso. — zombei, lembro-me bem de ver diariamente o amanhecer cinza CO2 da capital.

***

Após longas horas ensinando a James toda a parte financeira da organização, como ler os relatórios e interpretar as planilhas e gráficos, me sentia exausta, quase morta. E só de pensar que teria ainda de fazer as coisas que competiam ao meu verdadeiro cargo, sentia mais ainda a ânsia de morrer. Definitivamente solicitaria a contratação de um assistente.

Fechei os olhos e me deixei relaxar na cadeira macia e confortável da sala da presidência. Liam era um grande sortudo de ter todo aquele espaço, a vista maravilhosa do último andar, as cadeiras confortáveis sob medida e ainda uma adega da qual James pegava furtivamente uma garrafa de vinho rosé.

Nada além de uma noiteOnde histórias criam vida. Descubra agora