5 - A proposta

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A vida é uma grande piada de mal gosto, uma comédia trágica grega, uma revolução francesa republicana que termina com um imperador. Engraçada. O mundo é um palco no qual nós somos os palhaços, digo, nós, classe trabalhadora, proletariado maldito que tem que dançar para um patrão narcisista e machista que decide te provocar por você ser melhor que ele. Sim, essa é a história da Branca de Neve proletariada.

Coloquei meus pés na empresa naquela horrorosa manhã chuvosa de segunda, com meu cabelo preso em um coque apertado para evitar o frizz e um sobretudo cujos bolsos estavam abarrotados de objetos os quais não tive tempo de retirar antes de sair do carro. Estava exausta e não havia dormido mais que três horas na noite anterior pensando em como seria esse momento e os que viram a seguir. A mera menção a esse futuro fez minha cabeça latejar de dor.

— Bom dia, Vanessa. Está bem? — Esse era Bruno, recepcionista do prédio. — Parece que encontrou um furacão no caminho.

— Bom dia. Muito ruim? — abri um sorriso amarelo me aproximando do balcão para me olhar no espelho da parede atrás dele. Definitivamente muito ruim.

— Insônia de novo? — ele abriu um sorriso maroto no cantos dos lábios naturalmente pigmentados em um tom de rosa. Ou talvez fosse algum procedimento estético mesmo. Nesses tempos, nunca se sabe de fato.

— Queria eu que fosse essa insônia. — Apoiei os cotovelos sobre o balcão e coloquei meu rosto entre as mãos, um sinal de que a fofoca viria e seria quentíssima, mal sabia ele.

Contei tudo da forma mais resumida possível, pois estava quase atrasada para sua primeira reunião do dia com os supervisores do departamento de marketing. Alguns dias antes, havia recebido uma reclamação categórica de um dos novos assessores sobre uma liderança folgada e mal preparada, logo a reunião era urgente. Bruno respondeu com um categórico "mulher, pelo amor de deus".

— Te conto o resto no almoço. Tenho que ir agora resolver os problemas do departamento. Beijos. — me virei para sair em direção aos elevadores, mas Bruno me chamou antes que pudesse dar o primeiro passo.

— Na verdade, sua reunião foi adiada pelo próprio chefe. — ele travou o maxilar em um sorriso forçado de alguém que previa uma grande tragédia. — Boa sorte.

Continuei meu caminho sem respirar regularmente uma só vez, meu coração estava a uma batida de um infarto enquanto meu corpo ainda implorava por um travesseiro e um lugar confortáveis para se deitar. Uma coisa era certa, no entanto: eu estava terrivelmente lascada e sem ter qualquer ideia do que esperar quando chegasse ao vigésimo quinto andar, o da presidência. Seria nomeada auxiliar daquele babaca nas horas vagas? Completamente destituída de minhas funções?

Respirei fundo antes de sair do elevador. O barulho dos meus sapatos escarpim de uma luxuosa sola vermelha contra o piso de mármore branco denotavam a inquietude e ansiedade nas quais estava imersa até o último fio de cabelo. Apenas a secretária de Liam estava no hall, mas sem prestar qualquer atenção em qualquer coisa senão seu celular, para o qual lançava sorrisos contagiosos de cinco em cinco segundos. Interrompi seu momento com um breve chamado:

— Bom dia! — cumprimentei educadamente — O senhor Foster já está na sala?

Ela levantou o olhar do celular para me encarar, traçando em mim uma linha dos pés a cabeça como se analisasse as probabilidades de eu realmente ser a chefe do departamento de marketing com aquela aparência desastrosa. Ainda assim, a mulher abriu um sorriso falso e assentiu:

— Ambos estão te esperando. Você está atrasada. — ela avisou sem demonstrar qualquer alteração na expressão rígida de seu rosto. O pesadelo do Vitor do canal Metaforando.

Nada além de uma noiteOnde histórias criam vida. Descubra agora