7 - Golfinhos

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A brisa do mar no fim da tarde me causava leves arrepios. Já estava adaptada desde sempre ao clima paulista: grande calor, seguido de grande chuva, seguido de grande frio, já que tudo naquele lugar é grandioso, desde o clima até os sonhos das pessoas que ali vivem. As oportunidades brilhavam em nossas mentes como supernovas diariamente, talvez pecássemos pelo excesso, pois o cansaço era igualmente grande. Assim como enorme era a tensão entre mim e James, ambos sabendo como a noite terminaria, mas sem saber exatamente qual seria o primeiro passo para isso: um drink, um mergulho?

Mais simples. Na verdade, foi ele me cutucando com o cotovelo enquanto andávamos lado a lado na areia da praia, nossos pés descalços afundando a cada passo enquanto o chinelo implorava para ser usado em nossas mãos:

— São aqueles ali? — ele perguntou baixinho para que apenas eu escutasse e apontou com os olhos para um grupo de pessoas amontoados em uma roda tocando violão.

Enquanto isso, Luísa estava alheia a nós dois e qualquer forma de vida humana, encarando o mar com o mesmo interesse de sempre, ainda que o visse quase sempre. Uma bióloga era sempre uma bióloga.

— Eu acho que sim. — ele fez uma careta para a minha resposta. — Que foi?

— Roda de violão, sério? — ele retorceu os lábios em um sorriso de desgosto. — Aposto que todos ali são comedores de casadas.

Ele mal terminou de falar e eu já estava gargalhando. Tapei minha mão coma boca para não chamar atenção, mas Luísa já me olhava com uma sobrancelha erguida:

— Nada, Lu. — tentei me controlar — Ele não gosta de gente tocando violão na praia.

— Eu não disse que não gosto — retrucou ele, também rindo — Disse que são comedores de casadas. Já consigo até sentir o cheiro...

Sabia bem do que ele estava falando: odor característico de maconha que emanava dos nossos amigos de luau. Luísa sorriu:

— É orgânico. — deu de ombros.

— Nunca critiquei. — James ergueu as mãos em rendição. — Inclusive, queria saber se é de qualidade.

— Assim que eu gosto. — Luísa jogou os cachos para trás do ombro e sussurrou em meu ouvido. — Ele é o cara!

Revirei os olhos e James me olhou curioso, mas nunca diria a ele que minha melhor amiga estava se coçando para me empurrar em seus braços. Se bem que naquele momento, eu bem queria ser empurrada em sua direção.

Como se pudesse escutar meus pensamentos, ele segurou minha mão na sua, entrelaçando nossos dedos, o que arrancou um "eita" de Luísa, que indecorosamente abriu o sorriso mais erótico que já vi... depois daquele do próprio James:

— Vamos comprar uns drinks? — ele sugeriu, mas não esperou minha resposta para começar a andar em direção aos quiosques próximos a orla. Sua mão apertando a minha me causava arrepios que podiam ser sentidos em cada um dos meus canais nervosos.

Quando já estávamos afastados de Luísa o suficiente, ele soltou minha mão, deixando um espaço vazio e quente onde ela estava. Sem seus dedos roçando os meus, minha mão mal parecia um membro meu. Desci meu olhar, desejando recolocar sua mão na minha, mas chacoalhei a cabeça logo em seguida. Aquele tipo de pensamento só me traria problemas. O nome de Lucas ecoou na minha mente, acordando-me para a realidade:

— Você não me chamou aqui para ver um monte de homens tocar violão, né? — inquiriu com um leve riso brotando em sua voz.

— Não sei o que você esperava de um luau senão isso. — dei de ombros, fingindo-me de desentendida enquanto caminhávamos lentamente em direção ao quiosque, como se compartilhássemos nossos pensamentos de alongar o tempo a sós.

Nada além de uma noiteOnde histórias criam vida. Descubra agora