Contando A Vida Em Segundos

Capítulo 4

Todos os amigos dos meus pais já chegaram, eles estão na sala discutindo sobre a volta de Jesus, e eu estou no canto da sala ouvindo música e jogando Candy Crush. Não gosto desse jogo, mas foi o único que não precisava de Internet que eu consegui baixar antes de meus pais desligarem o roteador. Meu acesso a Internet é totalmente vigiado, só tenho Internet 8 horas por dia. Meus pais a ligam as 09:00 e desligam às 17:00. As vezes penso que se eu tivesse Internet 24 horas por dia eu não estaria nessa situação agora. Acho que eu poderia curar minha depressão com amigos virtuais e pornografia.
Faltava pouco para eu passar de nível, e então meu pai puxou meu celular da minha mão, os fones saíram do meu ouvido bruscamente, o que machucou um pouco.
- Pai!!
- As pessoas estão começando a se preocupar com você Nicholas
- Problema delas, pode devolver meu celular?
- Por Deus! Vou fingir que não escutei isto, vá socializar Nicholas.
Continuo sentado com a cara emburrada. Minha mãe olha para mim com cara de desaprovação e faz um sorriso com suas mãos no seu rosto, mandando que eu sorria. Enquanto ela olha eu forço um sorriso, e quando ela vira o rosto para responder o senhor Bradley eu o desfaço.
O senhor Bradley é a pessoa mais hipócrita que conheço. Ele sempre diz que aos 13 anos Deus falou com ele e o comissionou a pregar as boas novas, mas o mesmo no ano retrasado foi acusado de pedofilia. Foi um caso isolado, mesmo tendo 7 garotas testemunhando contra ele. Em Spitpurg a igreja tem bastante influência sobre a política. Isso é tão inquisição que a minha vontade é de explodir uma bomba nessa maldita cidade.
A senhora Evens passa por mim e aperta minhas bochechas, creio que se ela ainda tivesse voz falaria que eu sou um "Garoto adorável". Eu gosto muito dela, mesmo não demonstrando muito. A uns 3 anos atrás ela foi passar as férias em Dallas com seu marido e seus dois filhos. Teria sido boas férias se o marido e os filhos dela não tivessem se envolvido em um sério acidente de carro, pelo o que pareceu eles estavam dirigindo embriagados. Infelizmente eles vieram a falecer, e a senhora Evens entrou em uma depressão profunda. Ela não comia, não andava, nem chorar ela chorava. Ela ficou 2 meses praticamente em estado vegetativo. Depois disso ela começou a ir ao psicólogo, e por volta de 4 semanas ela já estava fazendo as coisas normalmente, na medida do possível. Mas o estrago já estava feito. O impacto da morte do seu marido e filhos foi tão grande que a deixou muda. As vezes eu penso que ela engana as pessoas fingindo ser muda. É uma boa tática para se esquivar daqueles panacas que ficam lamentando sua dor sem ter a mínima ideia do que você passa. Como eu já disse, eu a admiro muito. Ela perdeu as 3 pessoas que mais amava mas mesmo assim permaneceu, de certo modo, forte. Não tentou se suicidar ou algo do tipo, mesmo ela tendo razões para isso. Sinto que a história dela deveria me comover. Talvez eu devesse pensar "Nossa, a senhora Evens não se suicidou, você também não precisa fazer isso". Mas o fato é que, eu não me importo. Nem com ela, nem com a minha miserável vida.