Chego em casa com apenas minha cama em mente. Passo na cozinha para tomar um copo de água e me espanto ao ver meus pais sentados a mesa
- Oh! Ele chegou...- diz minha mãe, segurando a mão do meu pai
- Nicholas, sente-se por favor.
Aquilo faz meu coração disparar, em toda a minha vida meus pais nunca me chamaram para sentar a mesa com eles, nem no café da manhã, almoço e janta eles fazem questão de eu me sentar com eles. Sento-me com minha cabeça voltando a latejar
- Nicholas - começa minha mãe - sabemos que você tem um comportamento difícil, já cansamos de nos queixar com você e também já cansamos de receber queixas de outros. Você não pode ser assim. O senhor Bradley disse que isso poder ser Satanás tentando desfazer nossa linda família, e ele está usando você, nossa ovelhinha...
Nessa hora me dá vontade de rir, mas sinto a raiva surgindo, totalmente descontrolada
- Cala a boca!
As palavras saem da minha boca involuntariamente e criam um eco sinistro no cômodo. Penso em pedir desculpa, mas eu não ligo. Meus pais ficam me encarando e sinto meu rosto ficar vermelho.
- São por essas ações e outras que tomamamos uma decisão...
Sinto meu coração palpitar em minha cabeça
Meu pai continua - Daqui a 2 semanas a escola vai acabar, e logo em seguida você irá para o acampamento cristão para jovens...
A raiva já tomou conta mim nesse momento
- Não! Não vou! Eu tenho 17 anos, vocês não podem fazer isso comigo...
- Isso não é opcional Nicholas!- Meu pai grita, o que me assusta um pouco. - Pelo menos uma vez na vida obedeça.
- Mas...
- Fim da conversa Nicholas. - eles se levantam e vão em direção às escadas, e nesse momento, eu posso jurar, que ouço uma risada vindo da minha mãe. Fico sentado a mesa olhando para uma mancha de gordura no fogão que tem um formato de ovelha. Penso em que talvez a mancha não tenha formato de nada, e que eu só estou vendo uma ovelha pelo fato de minha ter me comparado a uma. Ainda estou sobre os efeitos dos remédios que tomei mais cedo. Meu corpo pede por descanso, sinto cada membro gritar por repouso visto que estão sendo ordenados pela droga. Sei que não posso ficar naquela casa, pelo menos não hoje. A vontade que tenho é de apenas sair pela porta e nunca mais voltar, mas eu tenho planos, planos que me custaram meses de noites em claro, não posso desistir agora que está tão perto de acontecer. Me levanto e jogo todo o material que está na minha mochila em cima do sofá, volto na cozinha e pego todo alimento que vejo pela minha frente: Biscoitos, Barras de cereais, bananas... E água, preciso de muita água. Não é a primeira vez que tomo esses remédios, sei que depois que passam os efeitos você sente uma sede quase que insaciável. Organizo tudo dentro da minha mochila e saio, batendo a porta com força. Vou caminhando pela avenida sem rumo, normalmente meu local de refúgio é o parque Saint, mas não posso ir pra lá, não depois da lembrança que tive mais cedo. Penso em ir pra casa do Marcos, mas ele não saberia como reagir ao me ver nesse estado. Minha dor de cabeça continua, então paro, pego mais 3 comprimidos para dor e mais 2 calmantes e os engulo todos juntos sem água. Em questão de minutos irei desmaiar, meu corpo já está fragilizado demais, cansado demais. Vou para o beco da rua Grins e me deito no chão, essa hora ninguém passa ali, sei que estou seguro.
"Bourning " escuto um sussurro
" Bourning "
Procuro de onde vem, mas não vejo ninguém.
Bourning era o apelido que Joseph tinha me dado por motivo nenhum.
"Ovelhinha"
Mais sussurros, dessa vez é uma voz conhecida, é a de minha mãe falando ovelhinha.
- Deus o que está acontecendo? - falo baixo pra mim mesmo. Depois de um tempo percebo a minha hipocrisia ao perguntar a Deus, visto que sou ateu, ou quase ateu.
"Bourning" "ovelhinha"
Os sussurros se tornam gritos, e começo a ver rostos e cores girando ao meu redor. Ou seria eu girando ao redor deles?
Começo a ver uma fumaça cinza, e então suponho que estou tendo alucinações por causa dos remédios. O vento frio bate na minha pele molhada de suor e faz minha perna direta se arrepiar.
"Hey bourning, não vai amarelar vai? "
Joseph está falando comigo, isso não é uma alucinação, Joseph está falando comigo! Reúno minhas últimas forças e digo
- Estou chegando.. Só mais algumas semanas.. Estou chegando..
E então escuridão.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Contando A Vida Em Segundos
RandomNicholas Bourn é um problemático adolescente que vive na cidade de Spitpurg. Mesmo decidido a se matar, ele irá perceber que as vezes a morte não é a melhor opção, ou talvez seja.