Capítulo 8

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- Hey garoto, você está bem?
A claridade faz meus olhos doerem.
- Hey! Você quer ir pro hospital?
Quem será essa pessoa? Seria mais uma alucinação?
- Quem é você? Que dia é hoje? Onde estou?...
Disparo uma sequência de perguntas
- Eu sou Amélia, hoje é quarta feira dia 26, e você está no beco da rua Grins. Agora eu faço as perguntas. O que diabos você faz jogado aqui? Você não é um mendigo, eu vi na sua mochila. Tem um celular, identidade e comida. Ou talvez você seja uma pessoa que foi despejada de casa a pouco tempo...
- Não sou um mendigo. Meu nome é Nicholas, mas você provavelmente já deve saber disso, fuxicou minha mochila...
- Você deveria ser mais agradecido. Eu te encontrei fervendo em febre e você estava gritando umas coisas muito loucas... Ah meu Deus! Você é um drogado!...
- Não sou drogado - isso é meio que uma mentira, porque acho que tive uma overdose de remédios - eu estava passando por aqui e senti uma forte dor e desmaiei. Pode por favor me passar minha água?
Ela vai em direção a minha mochila pra pegar minha água, e nesse momento percebo o quão linda ela é. Pele branca, mas não tão branca. Cabelo curtos, na altura do ombro, liso na raiz e cacheado nas pontas, natural, eu presumo. Seus olhos são castanhos escuros, bem escuros. Tem algumas sardas nas bochechas, sardas vermelhas meio marrom. Sua boca é pequena e está meio vermelha, talvez seja algum resquício do batom que ela estivera usando. No pescoço havia uma grande cicatriz, quase imperceptível, coberta por uma tatuagem de flor. Aparenta ter uns 19 anos...
- Por que está me olhando assim? - desvio meu olhar, que antes estava bem fixado nela - você não é um maníaco não né? Se for eu vou logo avisando que sou faixa roxa em karate e tem um canivete e um spray de pimenta no meu bolso. Um movimento em falso e PAF, spray na sua cara e canivete no seu baço.
Ela ri freneticamente ao terminar a frase.
- Ok, eu não sou um maníaco, só preciso ir pra casa. Espera, você disse que hoje é dia 26?
- Sim... - ela pega um comprimido do bolso e pede pra eu tomar. Se for realmente dia 26 significa que eu desmaiei por dois dias, e que provavelmente meus pais devem estar desesperados a minha procura. Ou talvez não. Não estou tão longe de casa, eles poderiam ter me encontrado.
- O que é isso? Não vou tomar isso, pelo o que eu saiba você pode muito bem ser uma ladra de órgãos que usa sua beleza para roubar órgãos. Ela ri.
- Se eu fosse uma ladra de órgãos eu poderia ter roubado seus órgãos ontem, quando te achei jogado aqui. Mas ao invés disso eu cuidei de você. E obrigado por me chamar de bonita.. - ela da um sorriso de lado, um lindo sorriso de lado. Droga! Eu a chamei de bonita sem nem perceber, e agora ela riu, ela deve pensar que estou apaixonado por ela. Que fofo, a garota linda que salva a vida do garoto indefeso e o garoto se apaixona por ela, clássico, ou não. Espera... Porque sugeri que estou apaixonado por ela? Me sinto estranho.
- Desculpa. E obrigado por me ajudar. Esse comprimido é para que?
- De nada. E é para baixar sua febre.
Pego o comprimido e tomo, imaginado o efeito que ele fará no meu organismo. Mudo de posição, e me sento, me apoiando na parede.
- Então, Amélia, certo? Por que diabos ajuda desconhecidos que estão jogados na rua?
- Ah sei lá. Você estava sofrendo bastante, e me parecia ser uma pessoa legal, então eu te ajudei. E na sua mochila tinha um botton do Minecraft, que eu peguei pra mim, considere isso como o preço pago pelos meus serviços.
- Seus serviços... O que você fez por mim?
- Eu limpei seu rosto, te mediquei, trouxe mantas pra te cobrir... Essas coisas. Fiz tudo aqui, claro, não seria tão louca de te levar pra minha casa.
- Ah sim.. Obrigado. Pode me passar algum biscoito que esta na minha mochila, por favor?
- Os biscoitos estragaram. Choveu ontem e molhou tudo. Mas eu trouxe algumas coisas aqui comigo...
- Não obrigado, não precisa, eu só vou descansar mais um pouco aqui e ir pra casa.
- Ok. Então, por que fugiu de casa? Ah por favor, não esperava realmente que eu caísse nessa de "Estava passando por aqui e desmaiei".
- Eu não fugi de casa... - penso em mentir e continuar insistindo nessa história de que desmaiei. Até porque ela é uma desconhecida, não devo nada a ela, ela me ajudou porque quis. Mas algo me diz pra falar a verdade. Então eu digo. - ok.. Eu fugi de casa, mas não foi bem uma fuga. Eu tinha em mente voltar, só queria passar um tempo longe dos meus pais. E aí eu estava muito irritado e com muita dor e misturei alguns calmantes com remédios pra dor e aí vim parar aqui..
- Tolo. Você tem sorte de estar vivo.
- Se eu morresse não faria muita diferença.
- Ah! Entendi.. Mais um adolescente revoltado com a vida.
- Você também me parece ser uma adolescente...
- E sou, tenho 18. Mais minha mentalidade é de 34, eu já fiz o teste. Ela ri.
- Hum. Preciso ir pra casa agora. De qualquer forma obrigado A... Esqueço o nome dela
- Amélia. De nada Nicholas Bourn.
Ela me passa um papel com um número. O que seria isso? Será que ela quer que eu chame ela pra sair? Não sei como reagir. Não posso aceitar. Isso interferiria nos meus planos.
Pego o papel, ignorando tudo.
- Quando você estiver melhor me liga, se é que você não vai ficar de castigo por 3000 anos. Como eu suspeitava, você é legal, mesmo que nós só tenhamos conversado por 5 minutos, da pra perceber que você é legal. Ela ri de novo. Rio de volta e me levanto, deixando Amélia para trás.

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