Contando A Vida Em Segundos

Capítulo 11

Vou correndo para o beco da rua Grins e chego lá em menos de 10 minutos. Meus pais me viram saindo, mas não falaram nada. Eles sempre me dão espaço quando o assunto é relacionado ao Joseph, e isso me irrita, eu me sinto vulnerável. Olho para o chão, perto de onde cai, e vejo um pedaço da minha blusa agarrada a um ferro. Fico olhando fixamente para o pedaço de roupa por um bom tempo, até que algo me chuta. Viro rapidamente, assustado, e vejo Amélia rindo. Olho para o rosto dela e sinto meus problemas sumirem. Ela como sempre está radiante, e os olhos dela estão brilhando mais do que o normal...
- Tá bom estranho, o que você quer...
- Aaah... - não sei o que falar, por que a chamei aqui? Realmente não sei
- Aaah o que? Parece um bóco - ela ri
Continuo a olhando, sem ter a mínima ideia do que falar. O sorriso some do rosto dela rapidamente. Toda a luz se apagou, como se ela fosse uma chama e alguém apenas jogou um balde de água em cima. Ela parece irritada...
- Tá, você acha que eu sou idiota? Você me chamou aqui pra isso? Pra ficar que nem um idiota calado? Você pareceu tão sério no telefone, eu até fiquei preocupada, eu dei pausa em Pretty Little Liars pra vir aqui, você tem noção do que é isso? Talvez eu estivesse errada sobre você, pra que eu te dei meu número secreto mesmo? Eu tenho que ir...
- Daqui a alguns dias eu vou me matar. - cuspo as palavras rispidamente, como se elas fossem algo preso na minha garganta há muito tempo. A sensação de finalmente falar isso pra alguém chega a ser reconfortante, mas errada, muito errada. O que deu em mim para falar isso pra ela? E se ela tentar me impedir? Estou confuso. A conheço a apenas algumas horas e já digo meu maior segredo, meu maior e melhor plano, que demorei meses elaborando. Algo está errado comigo, e Amélia tem algo a ver com isso.
- O que? - ela faz uma cara indignada
- Eu vou me matar. É isso que você ouviu. Você estava certa ao dizer, quando me conheceu, que eu sou um adolescente em crise revoltado com a vida. Eu tenho motivos, não me julgue.
Amélia está com uma expressão meio que séria, difícil de de decifrar e compreender. Por que eu contei isso pra ela? Por que? Depois de 3 minutos silenciosos, com um encarando o outro, decido ir embora, sem me despedir nem nada, mas Amélia me segura
- Espera... - ela me olha com um olhar doce, como uma mãe olha para um filho, isso me conforta um pouco - Eu não sei o que falar, eu nunca tive um amigo que tentou se matar antes...
Amigo.
- Nem eu sei o que dizer, eu não sei por que eu te falei isso... - ela me abraça inesperadamente. Fico tão surpreso que não retribuo. Apenas deixo ela me abraçar.
- Desculpa Nicholas, mas não posso fazer isso
- An? Como assim? Fazer o que?
- Amélia para de me abraçar e se afasta um pouco, e mais um pouco, até que a distância entre mim e ela passa de 3 metros. Ainda estou sem entender...
- Desculpa. Não me ligue. Apenas faça o que você acha que tem que ser feito.
Amélia da meia volta e sai correndo em disparada.
"Não me ligue mais "
"Apenas faça o que você acha que tem que ser feito"
As palavras de Amélia soaram em mim como uma bola destruidora, como aquelas que são usadas em obras para derrubar paredes.
Ela derrubou minhas pequenas paredes de esperança. Esperança que talvez existisse um jeito melhor de se resolver tudo isso, esperança de que eu poderia perdoar a mim mesmo, esperança de que ela me ajudaria com tudo. Como pude ser tão idiota?!
Lágrimas ameaçam cair dos meus olhos, mas eu as seguro.
Nada de chorar Nicholas. Eu falei que isso poderia ser uma distração, e foi. Uma péssima distração. Agora você tá aí que nem um idiota sofrendo por uma garota, como se já não bastasse tudo pelo o que você já tem que sofrer... Chega de lágrimas, chega de sofrimento. Apenas foque no que tem que ser feito...
Foque no que tem que ser feito!
FOCO! Preciso de foco, faltam poucos dias. Agora, mais do que nunca, minha vida passou a ser contada em segundos, e essa contagem, não pode ser retardada ou regredida.