cega

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- O que tá escrito aí Nogueira? - Dona Ângela pergunta desesperada.

- Nossa filha Ângela, ela está cega!- fala levantando o papel do exame no ar.

- O quê? - Dona Ângela fala perturbada- Como assim?

- Isso é permanente? - Pergunto desesperado ao Dr. Paiva.

-Bom... Nada é concreto. O cérebro humano é uma máquina que não descansa, mas ela é muito frágil. A parte do cérebro que foi atingida, não foi totalmente afetada, por isso, a visão dela pode voltar agora... Ou nunca mais.

- Então ela tem chances de voltar a enchergar? - Pergunto com esperança no olhar.

- Cala essa boca, se não fosse você ela estaria bem. - Dona Ângela fala quase como uma tapa.

- Calma senhora - Dr. Paiva tenta amenizar a situação - Ela tem ótimas chances de voltar a ver.

- Eu quero ver minha filha - fala Senhor Nogueira.

- Ela já pode receber visitas, mas não podem entrar os três. - Dr. Paiva fala olhando pra mim.

- Tudo bem, eu espero, entro depois. - Respondo fracamente.

Percebo que dona Ângela ia me dar outro tapa de realidade, mas seu marido a puxa em direção ao quarto de Ariela.

Sento na recepção e fico esperando notícias.

Fico me perguntando se a família dela vai me perdoar, se ela vai me perdoar?

Eu não mereço ela, ela é de mais pra mim.
Ela é linda, louca, tem a melhor chatice, e em troca... Eu a cego.

Antes eu tivesse morrido, eu não estaria vendo a pessoa que eu amo sofrer. Sei que é egoísmo da minha parte, mas seria bem mais fácil.
Mas quem disse que a vida é fácil?

- Garoto! - quase não consigo escutar com minha cabeça confusa - garoto! - Dessa vez percebo que quem fala é o senhor Nogueira.

- Desculpe! O que houve? - Falo me levantando da cadeira.

- Minha filha quer falar com você.- Fala cuspindo as palavras, como se fossem veneno.

Sigo só, em direção ao quarto de Ari. Abro a porta, e a vejo com as mãos cruzadas em cima do peito, olhando para o teto.

- Ari? - Falo quase em sussurro.

- Apollo! - Ela descruza as mãos e tateia a cama.

- Estou aqui - Falo sentando ao lado dela.

- Você está ferido? - Ela soa preocupada.

Ela está cega, ferida e ainda se preocupa comigo. Isso só me faz sentir mais culpado.

- Estou Ari - percebo que as lágrimas começam a descer de seu rosto - O que foi Ari?

- Você não sabe o quanto eu fiquei aliviada, quando ouvi sua voz na ambulância. Tive medo de te perder, eu te amo Apollo, agora eu tenho certeza.

Aquilo me dói como um soco no estômago. A poucas horas atrás, eu queria muito ouvir isso, mas agora...agora isso me faz me sentir péssimo.

- Eu que tive medo de te perder Ari! - Falo beijando sua testa.

- Apollo, você não vai me deixar não é? Se você não quiser um peso na sua vida eu entenderei, vai doer, mas é melhor você feliz longe de mim,do que triste perto.
- Eu não vou te deixar sua marrentinha, eu te amo. Eu que só faço besteira... - Começo a chorar.

- Para... - Ari procura meu rosto com as mãos - Você não teve culpa, o destino é o culpado.

- Não Ari, eu fui irresponsável. - Falo colocando minhas mãos, em cima das delas em meu rosto.

-Eu te amo Apollo.

- Eu te amo Ariela.

Meu destino é andar sem destinoOnde histórias criam vida. Descubra agora