Desespero

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Um bicho passa de repente, tento desviar mas não consigo.
Sinto minhas mãos se soltarem do volante, e minha cabeça bater no air-bag com toda a força.
Até que percebo o carro parar de rodar e ele parar de lado.
Tento abrir os olhos, mas não consigo, a dor é insuportável.

Olho para o lado, e Ari está inconsciente.

- Ari! - Falo enquanto tento me soltar do cinto.
A cada movimento meu, o carro se mexe.
Consigo me soltar do cinto e uma angústia me vem.
Se eu não estivesse brincando, nós estaríamos bem.

- ARIELA! - Falo tomando seu pulso para ver se ainda bate. - Graças a Deus você está viva.

Vasculho nos bolsos até encontrar meu celular.

Disco 192.

- Boa noite, qual a emergência? - A mulher fala calmamente.

- Moça, eu estava com minha namorada e capotamos- Falo exasperado.

- Calma, vocês estão onde? - Fala com segurança na voz.

- Na Br 101, a umas meia hora da praia de Torres, indo em direção à Gramado. - Falo contendo o choro.

- Não saim daí, uma ambulância está sendo encaminhada.

- Tudo bem... - Choro antes de terminar a ligação.

- Se acalme, estão todos bem?

- Eu estou só um pouco machucado, mas minha namorada... Ela não está respondendo, mas seu pulso ainda bate.

- Em dez minutos uma ambulância chegará no local.

Fico segurando a mão de Ariela até a ambulância chegar.

-Eu sou um merda! - Falo em voz alta e chorando muito.

Vejo a sirene, logo acima.

Com dificuldades os socorristas descem, segurando uma maca.
Até que conseguem chegar onde estamos.

- O senhor está bem? - Fala um dos socorristas.

- Sim, não se preocupe comigo, minha namorada está muito ferida. - Falo colocando as mãos no rosto.

Eles vão em direção ao carro, e conseguem tirar Ariela de dentro. Percebo uma fratura exposta no lado direito de sua costela.
Nessa hora tenho vontade de me matar.
FOI MINHA CULPA, TOTALMENTE MINHA.
Meu consciente me mata por dentro.

Eles a colocam na maca e a levam para a estrada onde a ambulância está.
Ajudo-os a colocarem ela dentro da ambulância.
Sento ao seu lado e choro. Choro como se minhas lágrimas me limpassem por dentro.

- Apollo? - Escuto sua voz com dificuldade.

- Meu Deus... Você está consciente! - Falo limpando as lágrimas que desciam por meu rosto.

- Apollo? Eu não consigo te ver. - Fala olhando pra algum lugar.

Tento manter a calma.

- Calma, vai passar - Falo tentando manter a voz firme.

Então ela começa a chorar.
Até que um dos socorristas pede para não conversar com ela.

- Por favor, isso vai acabar cansado ela.

- Moço, ela não está enchergando - Falo fazendo só o movimento com os lábios.

- Mantenha a calma, o hospital está daqui a cinco minutos.

- MANTER A CALMA? - Falo alterando a voz.

- Senhor, se acalme. - Fala ríspido, apontando pra Ari.

- Apollo? - Fala chorando.

- Oi meu amor.- tento manter a voz normal.

- Eu não consigo enchergar... Eu não consigo ver o menor vulto. Estou com medo. - Fala quase em um sussurro.

- Eu te amo, vai ficar tudo bem.

A ambulância para. Enquanto um dos socorristas abre a porta e segura uma ponta da maca, o outro pega a outra ponta e ajuda a tira- la de dentro da ambulância.

Saio ao lado dela, tentando acalma-la.
Tento segui-la, mas um homem alto, moreno de jaleco me impede.

- Ela é minha namorada!- Falo alterando a voz e apontando pra Ari.

- Ela é sua namorada, mas agora é minha pasciente. Então para o bem dela você irá ficar aqui.
Você está com o braço machucado - fala chamando com a mão uma enfermeira.

- Eu não preciso de cuidados médicos. -Falo ríspido.

- Precisa sim. Vá com ela que da sua namorada eu vou cuidar. Altruísmo as vezes é desnecessário.

Então a enfermeira me encaminha até uma sala, onde limpa meu braço, passa uma medicação e o enfaixa.

- Pronto senhor. O risco de infecção agora é mínimo. - Fala com um sorriso amigável.

- Obrigado. Moça... Minha namorada não está enchergando.
- Não se preocupe antecipadamente. É normal em acidentes de carro, ocorrer esses casos. Provavelmente ela bateu muito forte com a cabeça.

- Então ela vai voltar a enchergar?

- Bom... Tudo depende do local onde o cérebro foi atingido. Pode ser passageiro, mas possa ser que não.

- A culpa foi minha, toda minha.
- Falo entre soluços.

- A culpa foi do destino - fala me olhando.

- Moça, se eu não fosse tão babaca, ela estaria bem. - Falo chorando.

Então ela pede licença e sai da sala.

Na minha mente, a todo instante vem a imagem do acidente.
Se ela ficar cega, eu não vou me perdoar.

Depois de quase uma hora dentro da sala, andando de um lado para o outro,escuto a porta abrir. Olho em direção à ela, e o homem de antes a atravessa.

- Os documentos de Ariela Prado Nogueira, estava no bolso dela.
Já fizemos a ficha dela, ela vai ter que ficar aqui até descobrirmos o local que o cérebro foi atingido.- Fala me olhando firme.

- Eu não quero saber dos documentos dela, quero saber se ela está bem. - Falo botando a mão na cabeça.

- Ela estava com uma fratura exposta na costela direita, onde já foi cuidado. Infelizmente a visão dela ainda está comprometida, por isso ela terá que ficar aqui.

Me lembro dos pais dela. Como vou contar isso?



Meu destino é andar sem destinoOnde histórias criam vida. Descubra agora