Noami

114 21 14
                                        

O autocarro pára a alguns metros de distância de onde eu estou. Levanto-me num movimento súbito e sigo atrás da fila de pessoas. Quando entro no autocarro Rose já lá estava, ela diz-me "olá" e acena freneticamente com a mão que não está a segurar no seu telemóvel, para não parecer rude, faço um pequeno sorriso e aceno com a cabeça.
Sentei-me ao lado dela, no lado da janela, eu prefiro ficar deste lado e ela do outro, portanto estamos sempre em sintonia.
- Bom dia- cantarolou ela -sabes das novidades?
- Acho que não, quais são?
- A professora de matemática vai faltar- finjo um ar espantado e reviro os olhos.
- Eu pensei que fosse algo importante, a mulher está a faltar à duas semanas.
Na verdade aquilo era importante, no mau sentido, a Sra. Guilian estava a faltar, devido a uma operação que teve de fazer. Rose e os restantes estão felicíssimos, embora eu não entenda porquê. Serei a única que acha que não termos aulas de matemática nesta altura do ano é terrível? Eu quero ter um bom futuro, as coisas não caiem do céu. Se eu quiser ir para uma boa universidade, tenho de me esforçar muito. No entanto, discutir este assunto com Rose não iria chegar a lado nenhum, portanto fiquei calada o resto da viagem.
Quando as portas do autocarro se abriram eu já estava absorta nos meus pensamentos, e obriguei-me a ir atrás de os restantes.
Já no recinto da escola uma mão pousa-me no ombro. Viro-me e um rapaz estava atrás de mim. Como não o conhecia e ele não parecia conhecer-me, virei-me e continuei a andar. Um braço amarrou-me e eu comecei a perder a paciência, mas virei-me na mesma.
- O que foi?- griteu com um tom irritado a tomar conta da minha voz.
- Calma Noami, só queria saber se me podes guardar os livros de matemática no teu cacifo.- era apenas a Rose.
- Pensei que fosses outra pessoa - digo um pouco desconcentrada, pego nos livros dela e começo a andar para o interior da escola.
- Obrigada No, até logo.
- Até logo digo -sem olhar para trás.
Eu tinha aula de Inglês agora e ela tinha de Geografia, portanto só nos iríamos encontrar à hora do almoço.
Arrumo os livros dela no meu cacifo junto com os meus. Algo me inquietava naquele rapaz, mas segui até à minha sala. Quando entrei o campainha tocou, dirijo-me a uma mesa ao acaso.
***
A aula correra normalmente e como tinha dois tempos livres, devido à ausença da Sra. Guilian, decidi ir para a biblioteca.
Quando entrei na biblioteca um cheiro a livros novos e a outro aroma que eu não conhecia reconfortou-me, dirigi-me para o lado esquerdo onde tem várias mesas e os livros que pertencem à biblioteca. Este era o meu espaço preferido da escola, era calmo e era o único aquecido.
Sentei-me na mesa mais afastada da entrada e pus a minha mochila em cima da mesa, comecei a adiantar os trabalhos que o professor de Inglês marcara.
No final, levantei-me e andei à procura de um livro que pudesse ler. Andei por entre aquelas estantes altas, até que um livro me chamou a atenção, " Hush hush" da Becca Fiztpatrick. Estava tão absorta na leitura, que amaldiçoei a campainha quando esta tocou. Tinha um tempo de Geografia, a pior disciplina à face da Terra.
Ia mesmo a entrar na sala de aula seguinte, quando me apercebi que tinha tocado para fora e não para dentro. Decidi ir ao Bufete comprar algo para comer. Na fila avistei Rose, que vinha a correr na minha direcção em modo de estria.
- Ele pediu, No.
- Desculpa?
- Ele pediu. O David, ele pediu-me em namoro.- ela deu um pequeno guincho.
- E tu respondes-te o quê?
Antes de responder ela lançou-me um olhar acusador e ofensivo.
- Que sim, óbvio. Foi tão romântico.- ela estava toda feliz, fazia lembrar aquelas bonecas de Animes, que ficam com corações nos olhos. Nesta altura essa era a única diferença entre a Rose e elas.
- Parabéns.- foi tudo o que consegui dizer, eu não gostava nada dele. Era uma má influência para ela. Forcei um sorriso, para minha sorte ela não percebeu que eu estava incomodada com aquilo. Tentei mudar de assunto- que aula tens a seguir?
- Um tempo de História, e tu?
- Eu tenho geografia. Encontramos-nos aqui depois das aulas?
- Ah...Eu ia almoçar com o David- ela baixa a cabeça, pronto já começou. Qualquer dia estaria trocada por um rapaz que acha França é a Capital de Paris, e não o inverso. -Desculpa, No. Depois encontramo-nos na paragem de autocarro?
- Tudo bem. Eu depois vou para casa a pé, não vai dar.
***
Quando a aula infernal e aborrecida de geografia finalmente terminou, arrumei os meus cadernos apressada para sair da sala , até mesmo do edifício que me ameaçava sufocar com trabalhos e sermões capazes de me fazer adormecer como uma anestesia desagradável. Coloquei a mochila nas costas e suportei-a com apenas uma alça no ombro direito puxando me para baixo. Apressei o passo pelos correrdores sendo constantemente empurrada por uma multidão de adolescentes cheios de hormônios, um grupo de amigos passou por mim a correr e empurraram me contra os cacifos, praguejo chatiada e passo a mão pela zona afetada , tinha um pequeno inchaço, com certeza estaria negro quando chegasse a casa. Saí do bloco e diriji-me para os portões de saída, tinha autorização para sair á hora de almoço portanto o guarda deixou me ir á minha vida sem sequer se preocupar em me cumprimentar.
O Vento batia-me na cara durante o caminho todo, deixando-me toda despenteada e frustada. Parei num cafe no caminho e comi um cachorro. Pareceu demorar horas até chegar a casa mas na verdade so tinha demorado 45minutos a contar com o tempo que tirei para almoçar.
Bati à porta de casa duas vezes ate que ouvi paços no corredor. A porta abre-se e o meu irmao mais novo aparece.
- Como é que sabias se era eu e podias abrir a porta?
Ele não disse nada, apenas encolheu uns ombros, virou-se e foi embora a correr.
- Mãe!!! Cheguei- berrei o mais alto que pude.
- Sim eu sei-uma voz mesmo atras de mim diz, o que me sobressaltou porque pensei que estivesse a fazer o almoço do Ulia.
Ela tem um ar cansado e irritado. Os seus cabelos loiros estão com as pontas eriçadas e rugas começam-se a formar por baixo dos seus olhos castanhos avelã, esta é a única coisa que temos em comum em termos de aparência, embora os meus sejam maiores.
Ela ainda usa o colar que o meu pai lhe deu , embora já não use a aliança e tenha,no seu lugar, uma marca que contrasta com o resto da mão morena.
O divórcio tinha sido amigavel, a sua causa foi, pelo que a minha mae me deu a entender, a perda daquela faísca, que existe inesplicavelmente entre duas pessoas apaixonadas.
- Já almoças-te?
Acenei afirmativamente com a cabeça e comecei a subir as escadas. Quando estava a alcançar o final o Ulia fala:
- Podias ter mandado uma sms ao menos.
- Não tens nada a ver com isso.
- Não, não tem. Mas podias ter feito isso mesmo. Fiz a comida a contar contigo.- retorquiu a minha mãe o que me irritou um pouco.
- Eu posso come-la ao jantar ou dar ao cão para ele comer.
Ela suspira e retira-se levando o meu pequeno irmão com ela.
Entro no quarto e atiro a mochila para o canto. A cama está como a deixei de manhã, totalmente desfeita. Puxei os lençois para cima e entaleios à toa.
Retirei o livro da mochila e continuei a le-lo à beira da janela. Isto sim era perfeito, um bom livro e ninguém para me chatear.
TRIM!!!
Soltei um grito fustrado e foi buscar o telemovel.
Atendi. "Estou", disse mas do outro lado não se ouvia nada. Desliguei.
Mais vários toques seguidos e nada. Devia ser uma partida estúpida, portanto pus o telemovel em silencio e ignorei as restantes chamadas.
Quando me estava a sentar à janela outra vez, vi uma figura a mecher-se lá em baixo. Senti que conhecia aquela figura. Depois de muito pensar cheguei à conclusão que era o rapaz que tinha visto na escola.
Ele parecia desorientado, confuso. Á procura de algo!
Ele envergava uma roupa escura, que fazia realcar muito a sua pele pálida. Ele tinha um aspeto muito banal, tal como eu. Olhos e cabelos castanhos, embora os meus fossem mais claros.
Ele procurou durante algum tempo, até que olhou para cima.
Ele viu-me. Fixou um olhar em mim, um olhar estranho que não transmitiam nada. Ele não sorriu, não fez nada. Assim como eu. Apenas nos fitamos durante muito tempo. Durante o que me pareceu infinito.

Noami, Isla & SkieOnde histórias criam vida. Descubra agora