Foi seguindo o trajecto até casa que já se tinha aperfeiçoado na minha cabeça devido ao tempo que percorria aquelas ruas.
Vim o caminho todo a pensar, no rapaz. Será que ele já me conhecia? Duvidava, fora a primeira vez que eu o vira. Os seus olhos de um castanho intenso, um cabelo de um castanho escuro e a sua pele bastante clara que fazia um contraste cortante com o tom da sua pele. Parecia saído de um desenho, uma criatura mística.
Assim que cheguei a casa, dirigi-me para o meu quarto. Liguei o meu computador e fiquei a ouvir música.
Vesti o meu pijama, sedoso como faço por hábito assim que chego a casa. Estava perdida nos meus pensamentos, quando alguém bate à porta.
- Pode entrar.
Uma rapariga de longos cabelos de um ruivo forte, olha para mim do outro lado da porta. Um sorriso aparece na sua cara. Era a Jennifer, uma das minhas três irmãs.
Jennifer, apesar de ser mais nova, era entre as minhas irmãs a quem eu mais confiava. Ela e eu tínhamos muitas semelhanças. O cabelo de tons laranjas, uns olhos esverdeados, uma pele clara. As minhas outras irmãs eram mais parecidas com o meu pai, cabelos castanhos, nem claros nem escuros, e olhos castanhos mel.
- Posso entrar?
- Claro- sorri- que se passa?
- Nada, apenas queria estar algum tempo contigo.
Ela fecha a porta atrás de si, e deita-se na minha cama, como já havia feito muitas vezes. Observei-a. Ela mordia o seu lábio inferior e percebi que algo não estava bem. Ela parceia estar numa luta contra si mesma, ela estava a esconder algo e tentava decidir se me contava ou não.
- Podes me contar o que se passa Jenn.-disse docemente pegando-lhe na mão.
- A mãe está a pensar em sair da cidade.- um misto de incompreensão e espanto espalhou-se pelo meu corpo.
- Espera como assim?- falei um pouco agressiva devido ao medo.
- Ela diz que é o melhor para nós.- diz fechando os olhos.
Saio do quarto irritada, deixando a minha irmãzinha para trás. A minha mãe encontrava-se na cozinha.
- Olá Skye!
- Olá?!-estava quase aos gritos, já não estava a racicionar direito.- A Jenn disse-me que te queres mudar, é verdade?
- É, pois.
Respirei fundo tentando me acalmar. Se não me mantesse sã a conversa não ia correr bem. Pois eu e a minha mãe éramos ambas muito teimosas.
- Mãe, pensa bem nisto. Não nos podemos mudar.
- Então e porque não?- senti um pouco de tristeza e provocamento na sua voz.
- Porque nós estamos finalmente bem.
Ela olha fixamente para mim durante vário tempo e só depois diz.
- Só por tu estares bem, não quer dizer que todos estejamos. Desde a morte da Lisy que tudo está diferente. E parece que só tu é que já esqueces-te isso.
De repente senti-me zonza e foi como se um calafrio me percorre-se. Como é que ela achava que eu podia ter esquecido a doce e querida Lisy? Eu pensava todos os dias nela. Apesar de os meus comportamentos não o mostrassem.
- Como podes achar isso se eu agora tenho consultas com um psicólogo. O que achas que me fez tomar aqueles comprimidos todos? Eu não a esqueci e nunca o farei. -agora já estava a gritar, a soluçar e lavada em lágrimas.Olhei para ela uma última. A mulher que me criara, aquela a quem eu tinha vez e virei costas.
Foi até ao meu quarto que já se encontrava vazio e voltei a vestir-me. Desci as escadas a correr e não olhei mais para a minha mãe.
Decidi sair de casa. Apetecia-me espairecer um pouco, andar por aí sem rumo. Antes de sair peguei num casaco para o caso de estar frio. Assim que atravessei a porta o vento bateu-me na cara como a realidade.
Estava a pensar naquelas palvras duras. Talvez, e só talvez fosse verdade aquilo que a minha mãe me dissera. Ultimamente os meus pais faziam de tudo para eu ser feliz e eu nem me dera ao trabalho de retribuir os seus esforços.
Senti as lágrimas a saírem dos meus olhos de novo e tentei recompor-me, comecei a andar mais depressa para sair perto de minha casa.
Andei, andei e andei. Quando dei por mim estava quase do outro lado da cidade e perto da praia.
Sentei-me na areia a olhar para o horizonte. A beleza era imensa. Gostava de ter uma câmara comigo, mas teria-me de contentar com a minha memória. Acho que as pessoas deviam parar de transformar momentos em fotos e passar a transformar fotos em momentos. Não sei se isto faz alguma lógica, bem na minha cabeça fazia. Fiquei a olhar para as potentes ondas a arrebentarem na areia.
Lembrei-me de Lisy de repente. Vi- a correr pela beira mar com os cabelos cor de fogo ao vento. Um sorriso enorme e sem preocupações. Descalcei as sandálias e corri até ao mar. Deixei a água fria arrepiar-me os pés. Olhei em volta, a praia estava vazia. Fiquei um pouco parada e deixei-me hipnotizar por tanta beleza e pureza.
Voltei a subir até a areia mais seca e deixei-me para trás. De repente começou a chover.
Aos poucos. Primeiro uma caíu-me no braço. Depois outra na cara. Até que começaram a ganhar algum ritmo e comecei a sentir a pele molhada e a roupa colada a ela.
Apesar de não me apetecer. Voltei a casa, tentando ao máximo abrigar-me. Quando cheguei a casa dirigi-me logo para o meu quarto. Como o meu quarto tem uma casa de banho só para mim decidi tomar banho. Vesti o roupão e preparei a roupa de pijama. Deixei a água escorrer um pouco até ficar mais quente.
Quando me pus debaixo do jato senti cada gota a queimar-me a pele de uma maneira alucinante. Devia estar muito quente, por isso regulei a água e tentei a por mais fria. Mas lá continuava o ardor de cada vez que a água tocava na minha pele. Decidi ignorar e deixei a água escorrer-me pelo cabelo e limpar-me.
No final já vestida, olhei-me no espelho. Tentei fingir um sorriso e uma rapariga assustada do outro lado forjou um pequeno sorriso amarelo. Fiquei a olhar para aquela rapariga que já não conhecia. Aquela era a verdadeira Skye. A Skye triste que se escondia atrás da maquilhagem. A Skye sozinha que se escondia atrás da sua popularidade. A Skye assustada que usava o seu encanto como escudo.
Os meus olhos verdes encheram-se de lágrimas de novo e senti-me mais perdida que nunca. O que é que eu tinha feito à doce Skye. Deixará que a vaidade e avareza a controlassem.
Num impulso peguei na tesoura que tinha numa das gavetas bem escondida e comecei a cortar.
Camadas irregulares do meu cabelo ruivo caíam aos meus descalços. No final olhei para o resultado. Não estava perfeito como quando eu ia ao cabeleireiro. Estava simples. Um corte direto. O cabelo caia-me agora pelos ombros. Levantei os olhos. A rapariga nova olhou para mim. Parece renascida como uma fénix.
A nova Skye estava pronta para um novo recomeço.
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Noami, Isla & Skie
Random"Cada sonho que você deixa para trás, é um pedaço do seu futuro que deixa de existir."- Steve Jobs Quatro raparigas, um destino. *** Leiam, comentem a vossa opiniao e se gostarem votem. Seria muito importante para nós.