Noami

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Acordo sobressaltada com o som da campainha, não me lembro de ter adormecido.
Esfrego os olhos varias vezes até a minha vista se habituar à escuridão que entretanto se instalara no meu quarto. A luz providente da lua, fazia contraste . Tento me lembrar do que se passou e chego à conclusão que devo ter adormecido a ler. Ultimamente ando um pouco cansada.
Saio da beira da janela e começo a ouvir vozes vindas do andar debaixo. Curiosa com quem possa ser, saio do quarto. A meio das escadas, inclino-me para o o lado esquerdo e vejo que a minha mãe estava a falar com um jovem.
Olho bem para o rapaz, reconheço-o de algum lado. Os seus olhos de um negro profundo, o seu cabelo bonito e a sua pele de um tom pálido. Sei que o conheço, mas não sei de onde.
Ouço som da porta a fechar. A minha mãe deve tê-lo mandado embora. Decho as escadas e vou ter com o meu irmão Ulia, que estava a fazer as os trabalhos de casa. Sento-me na cadeira ao pé dele e consigo ouvir um suspiro frustrado vindo dele.
- Então, qual é o problema?
- Já estou farto de fazer as tabuadas, nunca consigo fazer a do oito e a mãe, apaga sempre tudo se eu fizer mal.
- Mas a do oito é simples, adiciona sempre oito ao resultado anterior! Como fazes em todas as outras.
- Para ti e fácil falar!- retorquiu.
Peguei no lápis roído dele e inclinei-me. Imitei a sua letra rabiscada e fiz a tabuada por ele. Pisquei-lhe o olho e ele fica olhar muito para mim e sorri-me. Pega nas coisas e sobe as escadas a correr para ir brincar. Ou o que ele costuma fazer. Deve ser algo que inclua carros e pistas de corrida.
Como não tinha nada para fazer decidi, assistir televisão. Estava a ver o terceiro episódio de "Big Bang Theory" consecutivo, quando a minha mãe chamou-me para jantar.
O Ulia passou por mim a correr em direção à cozinha, ele era o maior comilão à face da Terra.
Assim que entro na cozinha, vejo quatros pratos na mesa, o que era muito estranho, devido ao facto de estar-mos só os três em casa.
Se isto tivesse ocorrido à alguns meses atrás eu não acharia estranho, porque nessa altura ela recusava-se a aceitar o facto de o casamento dela ter acabado.
Olho para ela de maneira interrogativa, apontando para o quarto prato, ela devolveu-me o olhar, mas o dela tinha um brilho teatral e vinha acompanhado com um sorriso enorme.
Quando a minha mãe já estava a servir-me a comida o meu irmão ficou especado a olhar para um ponto atrás de mim. Pelo olhar dele parecia que tinha visto uma coisa horrível. A minha mãe não tinha reparado em nada e entretanto tinha começado a comer. Tive um vislumbre no vidro da porta, que desmacarou quem quer que estava atrás de mim. Não impulso doido amarrei a minha faca, saltei da cadeira e virei-me apontando-a ao indivíduo.
Era o rapaz da escola, aquele que me incomodara mesmo de manhã. Tive un flashback dele a fitar-me através da janela e a minha mãe a falar com ela à porta de casa.
- Noami!? - a minha mãe deu um grito estérico e amarrou-me o braço que segurava a minha "arma".
- Tu?!- a minha voz ecou na minha cabeça durante o que me pareceu séculos. O tom parecia um pouco de desprezo miusturado com repulsa.
- Noami, o teu amigo Connor disse que tinham um trabalho atrasado para a escola e eu convideio-o para jantar cá.
Connor? Então é esse o nome dele. Meu amigo? Como é que ele podia ser meu amigo se só o conhecia de vista e só sabia o nome dele através da minha mãe?
Após alguns momentos sentie-me na minha cadeira novamente e distribui olhares ameaçadores entre ele e a minha mãe.
- Espero que gostes da comida, querido- olhei para a minha mãe e revirei os olhos. Parecia que ela estava a falar com um filho.
Connor, fitou-me por alguns segundos constrangedores, fez um sorriso charmoso para a minha mãe em forma afirmativa, o que fez com que o seu sorriso e alarga-se ainda mais.
A minha mãe foi perguntando coisas aleatórias ao rapaz estranho, que se encontrava na minha cozinha. A cada resposta dele, o seu sorriso parvo parecia aumentar, mesmo nas alturas em que eu achava impossivel. Ela lançava alguns olhares na minha direção e eu respondia a uma pergunta ou outra que ela fazia.
- Entao onde e que voces se conheceram? - outra pergunta sem logica, se eramos "colegas" era normal nos conhecermos da escola. Por breves momentos pensei que a minha mãe soubesse que ele estava a mentir.
- Temos algumas aulas juntos.
- O trabalho que vao fazer e para o que?
- Fisica-Química. - Connor apressou-se a responder antes que eu estragasse tudo.
O meu jantar foi passado a ouvir a minha mãe e ele a falarem e olhar para o meu irmão a devorar a comida, mais um dia excitante da minha inutil vida.
- Entao, Connor... - fala a minha mae num tom de voz que me fez estremecer - porque pensas ser suficientemente bom para a minha bobozinha? - eu cuspi a agua que tinha na boca de forma instantânea.
O meu irmão Ulia, deu uma enorme gargalhada. Connor pareceu um pouco embaraçado, e eu só queria cair num grande e escuro buraco e não sai de lá.
- Não me interprete mal senhora Martha, mas as minhas intenções nao são essas. Não posso negar que a sua filha seja atraente. - senti-me a corar um pouco, o que me irritou imenso - No entanto, devemos ser só amigos.
- Oh, claro meu querido. - ela fingiu um ar surpreso, mas por o canto do olho eu reparei que ela lhe piscara o olho no final, como se fosse uma coisa deles.
No final do jantar, a minha mãe disse que levava a louca e mandou o Ulia para o quarto.
Atirei-me estafada para o sofá e retomei o episódio que não acabara de ver.
Connor sentou-se à minha beira, e os meus pelos da minha nuca erriçaram-se um pouco, amaldiçoei-me por isso.
Ficamos em silêncio e assim que o programa acaba ele pega no meu braço e arrasta-me ate o hall, o contacto da sua pele na minha sobressaltou-me.
- Temos de tratar de uns trabalhos. - diz-me assim que nos encontra-mos entre as escadas e a porta.
Afasto a mao dele do meu braço de maneira brusca:
- Pensas que eu sou como a minha mãe? Que me podes hipnotizar? Eu só não estraguei a tua mentira para evitar perguntas dela.
Ele ri-se divertido.
- Nisso não tiveste tanta sorte.
Fuzilo o rapaz com o olhar e vou em direção às escadas. Subo-as sem olhar para trás. Que pesadelo de noite.
Pressipito-me para dentro do meu quarto e bato a porta atrás de mim.
Passado pouco tempo alguem bate à porta.
- Não entre. - grito.
Connor aparece na mesma.
- Noami, preciso de falar contigo.
- O que foi?
- Sabes porque eu passei por cá? - nego com a cabeça- eu sinto que te conheço de algum lado. Por favor, confia em mim, eu sei de coisas que tu não sabes eu posso te ajudar.
- Eu não preciso da tua ajuda, nem tua nem de ninguém.- returco.
- Acredita em mim, eu sei do que falo. Eu posso ser um bom amigo para ti e proteger-te.

- Pfss! Dessa não estava à espera. A tua maneira de demonstrar amizade para com os outros é um pouco, digamos, diferente.
- Isso e porque tu és muito diferente das outras miúdas.
- Como assim? -pregunto franzindo muito a testa.
- A tua personalidade, és inteligente, determinada, astuta, não te derretes com todos os rapazes que te aparecem à frente, sarcástica...
- Sarcástica? - interrompo-o.
- Basicamente. -diz sorrindo.
- Esta a ficar tarde!- digo mudando o rumo da conversa.
- Tens razão, agradece à tua mãe por o jantar. Adeus, No.
- Adeus.
Antes se sair ele acenou com a cabeça e não consegui conter um sorriso por aquela estranha noite.
Fiquei um pouco a ler, mas desisti passado um pouco. Não me conseguia concentrar a ler sobre anjos e demónios, quando ele me dissera aquelas coisas.
Revi mentalmente a nossa última, e primeira conversa. Ele dissera que me reconhecia de algum lado, mas eu tenho praticamente a certeza que nunca o tinha visto sem ser hoje. Nem mesmo na escola, nunca o vira na multidão de adolescentes estéricos e barulhentos. Também me lembrei do estranho facto de ele ter sugerido ajudar-me.
Será que ele apenas me dissera aquilo para ganhar a minha confiança? Sinceramente, a esta altura já nada me parecia ridículo.
Após tentar arranjar várias explicações possíveis, nenhuma me pareceu credível. Ele causava uma sensação estranha em mim, parecia por momentos que devia confiar nele e apenas nele. O que raramente me acontecia com alguém estranho. Ele era estranho, ó se era.
Estava farta de matutar no assunto e decidi deitar-me para dormir. Vesti o meu pijama e meti-me debaixo dos corbetores.
Não estava nada cansada, portanto fiquei a olhar para o vazio durante bastante tempo. Aos poucos a minha respiracão comecou a ficar mais ofegante, comecei a sentir-me sonolenta e simplesmente deixei-me ir.

Noami, Isla & SkieOnde histórias criam vida. Descubra agora